Lugar_RSI

AvatarLugar do Real, do Simbólico e do Imaginário
Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

De queijos e bebidas finas

O queijo Camembert tem massa crua, é maturado e coberto com mofo branco. Seu sabor é forte e típico

Paulo Gomes era um amigo de longa data, desde o tempo do ginásio, a antiga nomenclatura do ensino. Não éramos muito próximos. Isso até me traz alguma dúvida se realmente estudamos na mesma classe.

Passado muito tempo o reencontrei. Ele mantinha uma revista que focalizava o município de Nilópolis. E depois disso algum tempo se passou até que o encontrasse de novo. Ele era então quase meu vizinho. Eu passava em sua casa e ele me mostrava suas coleções de livros. Era um devorador de livros. Muito tempo depois ele me fazia uma revelação sobre as impressões que tinha a meu respeito na época. Enquanto ele ralava e estudava muito, ele fazia de mim a imagem de alguém despreocupado, sem muitas ambições, sem objetivos.

Eu não sei bem qual a importância de sua filosofia de vida, mas o fato é que ele já mora no segundo andar e eu ainda estou pagando aluguel nesta vida terrena.

O Paulo era contador na Petrobrás e depois passou a advogado da empresa, num dos mais altos níveis. Mas não se importava se o chamassem ou não de doutor. Ser chamado de professor era a glória suprema. Diversas vezes insistiu comigo para que estudasse na Faculdade onde dava aulas. Pediria aos seus colegas para me darem nota. Ética não era bem o seu forte. Não ter um diploma me fez muita falta. Não pude fazer um curso de Analista de Sistemas na empresa onde trabalhava, continuei como Programador de Computador, nível médio, salário médio...

Falando sobre diplomas não posso deixar de lembrar um outro amigo, que cursou Administração. Ele nunca fez uso prático desse diploma, mas argumentava que, por ter curso superior, se fosse preso teria direito a cela especial. Uma figura...

Meu amigo advogado tinha uma qualidade que eu admirava e invejava: era muito bom na cozinha. Não dá para esquecer a sopa de entulho que almocei em sua casa. E eu nem tinha ido lá para almoçar. Sabe aquele anfitrião chato que insiste até esgotar nossas evasivas? Pois é, acabei repetindo o prato.

Paulo era um apreciador de bebidas e de queijos finos. Chegando do trabalho saboreava seu uísque e seu queijo Camembert. Mas naquela noite teve que pedir ajuda à empregada, não achava o queijo.
- Ah, doutor Paulo, joguei no lixo. O queijo estava estragado.
- Meu Camembert!!! Putz!

É como o samba do Zeca Pagodinho: "Você sabe o que é caviar? Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar". Bem, Camembert eu comi, mas achei muito sem graça. Acho que de queijos finos não entendo e meus vinhos estão limitados a 25 reais. Mas eu chego lá.

O mapa do labirinto


Este é mais um artigo de *Haroldo Barboza, e muitos mais ele irá escrever até outubro do presente ano. "Se você está FULO da vida, não se acanhe, vote NULO", é sua mensagem de encerramento. Desde já faço um convite ao Haroldo para que desdobre essa mensagem e mostre a todos os seus leitores, de todos os sites e blogs em que escreve, quais as perspectivas do voto nulo, consequências e alternativas.

Particularmente creio que votar nulo não leva a nada. Forma de protestar? Os políticos estão se lixando para protesto de eleitor. Eles já tem seus "clientes" tradicionais, que votam neles em troca de alguma coisa.

Haroldo, ajude-nos a sair do labirinto!


Um dia você leu que Brizola estava com Lula, pois ambos condenavam o sistema que FHC conduzia e estava levando o povo à falência. No dia seguinte, Brizola estava apoiando Ciro. Mas Ciro foi Ministro da Fazenda e se vangloriava em ter colaborado na implantação do Real. Até foi estudar (ou receber orientação?) nos EUA no final dos anos 90. E se uniu a Collor (nem sabia, coitado) que nos esfaqueou pelas costas.

Em outra oportunidade você observou que Serra e FHC armaram esquema envolvendo a bagatela de R$ 1,3 milhão para derrubar Roseana e retirá-la da corrida eleitoral para a presidência. Foi um recado do tipo: “permaneça em seu feudo no Maranhão e deixe Brasília para os ratos grandes”. O pai Sarney ficou uma fera e prometeu que iria revelar dezenas de fatos que somados devem acumular bilhões de Reais pertencentes ao povo e que foram mal gerenciados (ele quis dizer: desviados). Ficamos na expectativa de que a sujeira sob o tapete viria à tona para limpar a dignidade da pátria. Finalmente o dossiê dele seria aberto (já que o de ACM na época das fraudes no painel do Senado não foi). E na semana seguinte, Sarney viajou para uma missão “diplomática” e retornou dócil e calminho como se nada tivesse acontecido.

Então nos lembramos que ACM ao ser ameaçado de perder o mandato de Senador também esbravejou que possuía um dossiê parrudo que derrubaria o poder do planalto com as denúncias que viriam a público. Ele saiu quieto e até agora não vimos suas anotações estampadas na imprensa. Deve estar esperando Bush mostrar as armas químicas de Saddam Hussein. Ou Bin Laden vir à Bahia passar uma temporada em Itapuã a convite de alguma ONG “humanitária”.

No início do século 21, Itamar (MG) deu uma de valente mineiro dizendo que não pagaria as dívidas para com o governo federal, pois as mesmas eram absurdas, obscuras e suspeitas. Foi aplaudido por outros Governadores que estavam sendo pressionados. E logo depois lá estava Itamar se abraçando com FHC num jantar com a elite patrocinadora das campanhas eleitorais.

Serra surgiu como candidato do poder central para 2002. Mas colocou como vice a Rita, que regularmente "irrita" FHC pelas suas posturas antagônicas. Com a queda da popularidade de Serra, FHC começou a voltar os olhos para Ciro (na verdade este roteiro da farsa já estava escrito há meses).

E o veemente Luiz Inácio começou a trajar belos ternos para freqüentar as sedes dos magnatas. Passou a usar textos mais moderados em relação aos projetos futuros e baixou a voz. Baixou seu índice também. Baixou a confiança de antigos correligionários.

Garotinho era aliado de Brizola e a seguir foi buscar apoio com a turma dos evangélicos. Melhor seria continuar fazendo merenda no Palácio Guanabara, que abandonou com uma "bomba-relógio" para Benedita.

Os analistas políticos dizem que eles fazem negociações. É quase isto. Seria isto num país onde os candidatos a cargos públicos estão interessados em melhorar o nível social da comunidade, até porque um ser humano lúcido não se sente bem em habitar uma região deprimida sob todos os aspectos e cercada de miséria que contamina a saúde orgânica e espiritual. Na verdade estão todos entrelaçados por negociatas escusas montadas anteriormente e que cada um tem alguma atitude desabonadora que não interessa que seja explorada publicamente. Cada um deseja pelo menos manter seu território, coisa que Maluf faz com maestria em São Paulo apesar de todas as falcatruas já denunciadas.

E para culminar, quase chegamos às lágrimas (de pena ou de tanto rir) ao ouvirmos as declarações dos bens dos candidatos à Presidência. Cada um mais pobre do que o outro. Quem tem dois apartamentos, um carro com dois anos de uso ou mais de R$ 30 mil na poupança é magnata. Só faltou dizer que estavam pagando a moradia pelo SFH. Aí já seria deboche demais. Como será que estes pobres senhores com patrimônio tão pequeno conseguem viajar pelo mundo com tanta freqüência, sustentar vários filhos (próprios e adotivos) e usufruem mordomias de causar inveja aos mais abastados milionários do mundo árabe?

Em resumo: em quem vamos votar se o Enéas abandonou a arena enlameada e Bin Laden está ocupado em infernizar a vida dos EUA? Seria melhor colocar logo Elias Maluco ou Fernandinho Beira-mar no comando. No entanto, Marcola, mesmo sem nosso voto já está mandando sem resistência. Já deve ter costurado alianças com a turma da Bolívia e pode até nos fornecer gás mais barato em troca de algumas mordomias nas celas de seus comparsas. Do jeito que vai, o tal poder paralelo assume aqui (oficialmente) ANTES que a FARC na Colômbia, o ETA na Espanha e o IRA na Irlanda.

Enquanto os suprimentos de novelas, Big Brocha Brasil, banheiras do Gugu e reportagens sobre o hexa de futebol estiverem garantidos, o povo pouco estará preocupado com o futuro de seus filhos e netos. Não voltará sua atenção para o picadeiro do pleito, onde cada um de nós é o palhaço que chora para divertir a elite do poder e ainda paga para isto! E os intelectuais de plantão continuarão afirmando (honestamente iludidos) que podemos mudar isto através do voto. Só quando a tv “lobo” for penalizada pela compra fraudulenta de sua rede em São Paulo através de documentos falsos já noticiados pela Tribuna da Imprensa desde 1999 e cujo processo a todo instante é solicitado para “vistas” pelos advogados do conglomerado.

O tempo passa e novos pleitos consomem fortunas dos cofres públicos. Os candidatos são os mesmos há 30 anos. Eventualmente surge um “novo”, trazendo em sua folha corrida (eles chamam de currículo) o envolvimento em 3 ou 4 escândalos que deram prejuízos irreparáveis à nação. No Brasil as barbaridades produzidas pelos pilantras do poder servem de tema para os programas humorísticos e a população ri e aguarda a semana seguinte para se “divertir” com novos escândalos. Na China, pela metade de crimes do mesmo porte, os facínoras das canetas são fuzilados e a população reza para que a justiça (pode até ser rígida para nossos padrões “humanitários”) permaneça atenta, ao contrário da nossa, que usa vendas quando é convenientemente “amaciada”.

Devido a esta sucessão de fatos grotescos que cada vez mais aumenta a ocorrência, nosso pântano da imoralidade se alastra em alta velocidade e a maioria da população anestesiada não percebe que a podridão já está na soleira de cada lar. Eles chamam de “coligações políticas”. Nós sabemos que são ramificações de quadrilhas.

Resumindo: estamos diante de uma cesta de doces embalados com todas as datas de vencimento já expiradas. O vencimento mais recente foi há 15 dias. Qual deles você vai “saborear”?

Mas se você reativou sua memória com estes entrelaçados e da vida está FULO, não se acanhe: vote NULO.


Haroldo Barboza*

Nossa sociedade é um colosso. Sobrevive no fundo do poço.
Referendo de sucesso será o que propuser expurgo no Congresso.
Haroldo P. Barboza - RJ/Vila Isabel
Matemática (infantil) / Informática (adulto)
Autor do livro: Brinque e cresça feliz.