Lugar_RSI

AvatarLugar do Real, do Simbólico e do Imaginário
Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

Às compras

A princípio estava em dúvida sobre se publicava este assunto no Borrocando ou aqui no Lugar; acabou saindo no Borrocando. Mas o texto ficou um pouco longo e um pouco com a cara deste espaço. E como não há regulamento nenhum que impeça sair em dois lugares...

Na última terça-feira meu compromisso principal era almoçar com determinados amigos, os cardeais, como os denomino. Lamentei não ter levado a câmera pois visualizei cartões postais que há muito não via, começando pela estação ferroviária em Nilópolis. Há 25 anos não punha os pés em um trem e eu adoro trens. Por todos os lugares vejo estradas abandonadas e trens desativados e fico muito triste. Por isso mesmo não levo muito a sério o trem bala nem acredito nele; além do mais nossa topografia não ajuda.

Atravessando o Campo de Santana a passos lentos fui enquadrando outros objetivos, a água coruscante onde deslizavam gansos à sombra de árvores centenárias, os preguiçosos gatos esparramando-se na relva, um monumento ao longe e as pessoas sentadas nos diversos bancos esperando o tempo passar. O fotógrafo lambe-lambe já fez parte dessa paisagem, eu mesmo tenho fotos tiradas nesse parque aos quatro, cinco anos. A profissão foi extinta à medida que a tecnologia avançava. Estranhei a não-existência de pintores ao ar livre captando toda a magia do lugar.

Antigamente eu era o rei das ruas do Rio, conhecia a localização do ramo de comércio que me interessava, as lojas de materiais de construção, material eletrônico, discos, livros, papelarias, som e até coisas mais inusitadas como cortiça e afins. Eu precisava comprar rolhas e tive que me informar. Comprei duzentas. No caminho entrei numa casa de som usado e admirei um velho Pioneer funcionado perfeitamente, segundo o vendedor, e custando 520 reais.

Finalmente a Casa Cruz, já recuperada do incêndio e repleta de fregueses. Comprei duas folhas de papel medindo 0,75 x 0,55 a 8 reais a unidade; havia papel custando 40 reais a folha mas isso por enquanto não cabe no meu orçamento. Comprei ainda dois pincéis e um godê (godet) decente, para misturar os pigmentos.

Dez para o meio-dia, hora do almoço. Quinze minutos a pé. Fui pensando nos preços que um excelente aquarelista cobra por um quadro – duzentos, trezentos dólares. Há quem ache caro, a exemplo daquele marajá das Arábias que encomendou um retrato a óleo do seu galo de estimação e perguntou ao pintor pelo preço e pelo prazo. Preço: 10 mil reais; prazo: um mês. Passaram-se os dias e nada de o pintor dar início à obra. Apenas no vigésimo oitavo dia começou a pintar. No dia da entrega e do pagamento foi contestado pelo marajá. Havia cobrado por um mês de trabalho mas fez o quadro em apenas três dias.
- E os 27 dias em que fiquei, exaustivamente, estudando todos os detalhes da exótica ave?, retrucou o mestre.

Pensem bem: papéis caros, moldura, pincéis e tintas de qualidade, o tempo dispensado à aprendizagem, mais o preço de um artista renomado. Me aguardem: quem quiser que eu pinte seu gato de estimação, não vai sair barato!

Para concluir, a história de um amigo que comprou dois ou três quadros oferecidos por um pintor lá mesmo no local de trabalho. Com o passar do tempo o artista tornou-se petulante e sugeriu que ele comprasse toda a coleção.
- E observe o seguinte, meus quadros só tendem a valorizar, principalmente após meu passamento. E eu lhe prometo morrer muito em breve, arrematou, rindo gostosamente.

O almoço foi muito bom apesar da presença de apenas quatro companheiros, quando o habitual são doze, quinze. A conversa ficou mais concentrada, disseram. Muita cerveja, pouca comida, que estou de dieta. A cerveja foi tomada com moderação e ajudou na fluidez do verbo. O Nunes “esqueceu” um compromisso e se apresentou como uma pessoa desprovida de quaisquer problemas, pelo menos naquele momento. E eu me sentia muito leve, descansado e também não vislumbrava qualquer perturbação no horizonte; e não era por causa da loira gelada.

Aprendendo a borrocar, em 11 jan 2009
(Cliquem na imagem para ver os detalhes)

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2 comments:

15 de janeiro de 2009 às 23:34 Anônimo disse...

Quando estudei no Internato, eu trabalhava na vigilância, e muitas vezes ficava sentado no mourão da cancela para ver e contar os vagões.

Quando morei em Formigas-MG, na primeira semana, paramos numa esquina para ver o trem passar, e que agonia: foram 3 locomotivas e mais de 60 vagões... foram quase uma hora vendo o trem passar.

Adão Braga

3 de fevereiro de 2009 às 22:39 Belcrivelli disse...

Gostei da sua aquarela! As cores das frutas ficaram boas!
Falando em arte, você gosta de caricatura? Tem interesse em ganhar uma? Se quiser, passe no meu blog e veja o meme. Um abraço!

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