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AvatarLugar do Real, do Simbólico e do Imaginário
Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

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Armadilhas de fogo

O novo deputado federal Neca, eleito pelo PR-RJ e residente em Nilópolis, me pediu, num encontro casual que tivemos na rua, idéias que pudessem ser base para projetos que marcassem sua passagem pela Câmara Federal. E infelizmente aconteceu essa tragédia em Santa Maria, RS, um incêndio numa boate que vitimou, fatalmente, em torno de 250 pessoas.

Eu acho que um projeto, em âmbito nacional, que visasse à rigorosa fiscalização dessas verdadeiras churrasqueiras humanas já seria digno de atenção por parte de todos os políticos.


A seguir, escreve Haroldo Barboza:

 Com o incêndio da boate Kiss em Santa Maria (RS) no início de 2013, voltou à tona o velho problema que aflige o aglomerado de construções edificadas sem planejamento de segurança nas grandes cidades. A preocupação dos construtores é aproveitar cada metro quadrado para mais um cômodo do condomínio ou mais espaço para clientes aglomerados em teatros, boates e shoppings, em detrimento de uma área de escape em caso de acidentes perigosos. Pouco se importam com a vida dos que frequentarão o futuro prédio. O desleixo da administração pública que concede "habite-se" sem maiores exigências (rotas de fuga apropriadas e desimpedidas) e altera gabaritos de alturas irresponsavelmente fica evidente a cada dia.

   E o perigo potencial aumenta pela ganância dos proprietários que permitem que o local seja ocupado acima da capacidade prevista. Além de “depósitos” de material que obstruem as fugas e chegada aos equipamentos de segurança. Não há fiscalização e quando acontece, qualquer “galo” é suficiente para o “zeloso” fiscal abandonar o local.

   A tragédia torna-se normal por nossa acomodação (não boicotamos tal prática) ao longo do tempo e num belo dia somos filmados e exibidos ao mundo, com nossos corajosos bombeiros numa luta desigual contra o fogo, sem equipamentos modernos, com mangueiras furadas, hidrantes entupidos e obstruídos por carros e outros obstáculos que triplicam o tempo de atuação dos valorosos soldados.

   Ainda temos lembrança dos grandes incêndios no prédio da Eletrobras, Serrador e Andorinha no Rio e do Joelma em São Paulo. Na semana seguinte as “ortoridades” afirmam que rígidas normas serão adotadas e a fiscalização será aprimorada. Dois meses depois, com o Big Besta Brasil chegando ao final de sua edição, a população perde o interesse pela segurança (sua e de seus entes familiares) e o cenário para novas tragédias permanece intocável.

   No final de 2001, acidentalmente participei de uma simulação de incêndio num dos prédios da empresa onde trabalhei por 31 anos. Apesar da estrutura de atuação anunciada e da dedicação dos monitores, percebemos algumas falhas que comprometem o processo. Falhas estas provavelmente decorrentes de um treinamento que não é o desejado, fruto de uma contenção de despesas inaceitável quando se trata de vidas humanas. Como a política atual é de reduzir custos nas empresas, a segurança é um dos itens iniciais a serem menosprezados, seguidos da limpeza e ambiente dos escritórios. Os intervalos de treinamentos aumentam, o número de participantes é reduzido a cada ano (com a saída de alguns funcionários, os que sobram precisam acumular mais atividades) e a manutenção dos equipamentos é feita sem muita exigência por firmas terceirizadas e em épocas bem distantes. Os instrutores passam a ser elementos também terceirizados que não sabem nem onde fica a válvula de descarga dos banheiros do prédio. Quanto mais a caixa das mangueiras do seu andar e as rotas de fuga.

   Na verdade, a salvação de cada pessoa, vai depender em grande escala de seu próprio raciocínio (que na hora do pânico fica comprometido) e de sua calma no instante do sinistro. Sabemos que no momento de um incêndio em locais fechados, uma grande parcela de pessoas morre ou se machuca gravemente se atropelando pela ânsia de salvar a própria pele. E o atropelo aumenta por um erro grave de projeto nas construções dos altos prédios nas cidades. As escadas (o primeiro pensamento de fuga das vítimas) possuem a MESMA largura desde o primeiro até o último andar. Na verdade, elas deveriam vir se alargando do último andar para o térreo, de acordo com a capacidade projetada de pessoas que devem ocupar o prédio. Claro que com isto, os andares inferiores teriam menos salas ou lojas. Mas seria melhor esta perda de espaço do que se tornar candidato à manchete como os prédios Joelma, Serrador e Andorinha em passado recente. Paliativos como passarelas entre prédios vizinhos e escadas externas também poderiam minimizar algumas tragédias. Mas não investem nesta parceria nem fazem manutenção preventiva. Na hora do sinistro é que descobrem que uma porta está emperrada por falta de óleo na freqüência adequada ou que a placa indicando a saída correta foi coberta quando da pintura do corredor. Mais fácil culpar o inocente destino que não tem advogado para defendê-lo quando ocorre uma catástrofe com vítimas fatais.

   Aliás, que providências visando a segurança foram adotadas pelas autoridades depois daqueles sinistros que chocaram a opinião pública? Basta que os jornalistas encontrem novos destaques (a violência humana está em alta no momento) para suas manchetes dinâmicas e as autoridades fingem esquecer os problemas potenciais. Certamente, as poucas medidas que foram implantadas já não são seguidas com muita rigidez no momento de se conceder o "habite-se" de prédios que não priorizam segurança máxima para a população dos mesmos. Ao circular por grandes prédios, confira se os extintores estão em dia, se a caixa de energia não está repleta de fios desencapados prontos para um curto, se as caixas de interruptores não estão acomodando fios mal enrolados, se a capacidade da mesma (com mais de 50 anos) é inadequada para os equipamentos modernos, se não há produtos inflamáveisarmazenados dentro dos compartimentos de gás e energia, se as placas apontando escadas estão visíveis, se existem móveis obstruindo a rota de fuga, se as lâmpadas de emergência estão prontas para funcionar, se as indicações sobre orientação de monitores estão sobre o botão do elevador e se materiais inflamáveis estão prontos para servir de combustível para o churrasco do seu corpo.

Você não vai perder mais de 5 minutos nesta prática semanal em prédios diferentes em qualquer região do país. Circule principalmente onde você mora e trabalha. A maioria das pessoas prefere ignorar estes riscos e penetram nestas armadilhas sem exigir que suas vidas sejam preservadas.

   Quem vai impedir que um Sérgio Naia coloque em atividade seus prédios de baixa qualidade tão logo os elevadores estejam funcionando? O incêndio que destruiu 4 ou 6 apartamentos no luxuoso condomínio Novo Leblon na Barra em 2004, expõe uma realidade contundente não observada no momento em que se adquire o caro imóvel: não existe sistema de tratamento de esgoto. Os dejetos são lançados “in natura” na lagoa mais perto. O caro sistema de segurança não atinge a 70% de eficácia. Regularmente ocorrem assaltos nestes conglomerados de luxo. O sistema de combate ao fogo é tão frágil quanto os de prédio menos dotados. As bombas de pressurização não são testadas regularmente, mangueiras passam anos enroladas apodrecendo dentro de seus compartimentos nos belos corredores e as válvulas de comando do fluxo de água normalmente estão emperradas pela ferrugem acumulada pelos vários anos sem uso. E cada morador não tem “seu plano” de emergência para estas situações.

   Passamos a vida imaginando que nas cidades podemos nos defender contra os perigos(?) que a Natureza nos reserva. Ledo engano. Nós criamos as maiores situações de risco por desconhecimento e desatenção. Nossas cidades estão repletas de monumentais churrasqueiras de concreto e vidro para fritar suculenta carne ... humana.

O pega-ladrão do Haddad

- Enteindem?

Ali pelos meus 10 anos de idade a rua Olinda, em seus 200 metros de extensão, poderia ter no máximo umas 10 a 15 casas. Atualmente tem mais de 50, uma grande cabeça de porco, sem nenhum controle por parte da municipalidade. E aquelas casas não possuiam marcador individual de luz. O relógio "comunitário" ficava em uma cabine na parte alta da rua, fazendo esquina com a rua João Pessoa.

Quando a gurizada descobriu, virou festa. Íamos lá, à noite, para fazer "sabotagem", desligar o relógio e deixar tudo às escuras. O chefe da quadrilha, que não precisa temer o Lewandowski, era o Gilson, o mais velho, que poderia ter 13 ou 14 anos.

Mas certa noite deu problema. Um morador teve a paciência de ficar pelos arredores à espera dos infantis sabotadores. Quando a malta chegou perto do relógio ele gritou:
- Então são vocês...

E foi criança correndo para tudo que era lado, menos o Gilson, o cabeça do bando, que com ar de deboche gritava para os amiguinhos:
- Corram, "pulhecos"! Vieram aqui desligar o relógio, agora corram, seus safados!

Mas que cara-de-pau! Me lembra de um certo ex-presidente que dizia que o mensalão nunca existiu, muito embora muitos digam que ele seria o chefe.

Resumindo, essa é a técnica pega-ladrão. O criminoso tenta ludibriar seus perseguidores fazendo-se passar por um deles. Foi por isso que José Serra disse que Fernando Haddad faz o jogo do pega-ladrão.

Para encerrar, imaginem o Pelé repetindo seu bordão mais popular: - "Entendem"?

Você tem sede de quê?

Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley

Dois assuntos ontem me deixaram "pelas tampas", como diria o comentarista esportivo Washington Rodrigues. Eu acrescentaria mais: que me deixaram em órbita.

A primeira traulitada: "Foi sancionada, ontem, pela presidente Dilma Rousseff, lei que destina metade das vagas em universidades federais para estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas".

O governo do PT investe na ignorância. O ex-presidente Lula sempre fez a apologia da ignorância. Arrogante, jactava-se de que seus assessores, doutores formados em diversas universidades, carregavam pastas com seus documentos.

Nada contra a escola pública. Foi onde sempre estudei e que me deu embasamento para ingressar na Escola de Aeronáutica, Escola Nacional de Engenharia e Petrobrás. Porém existe ainda o componente racial - candidatos afrodescendentes e indígenas. A meritocracia foi pro vinagre.

Quem entra na internet, nas redes, nos sites onde os leitores comentam, se depara com barbaridades, desde os enganos mais "complicados" como a confusão entre "a" e "há" e "mais" e "mas" até coisas corriqueiras, como usar cedilha antes de "e" e de "i". Abriu-se um grande fosso no ensino da língua portuguesa no Brasil, para não falar da matemática e outras disciplinas.

O outro assunto. Vocês conhecem o site de pegadinhas G17... Pensei que se tratasse de coisa do tipo. Infelizmente não era. "Senadora Marta Suplicy propõe acabar com a Família Tradicional. É mole ou quer mais"?

Alguns pontos:
- Acabar com a família tradicional;
- Retirar os termos “pai” e “mãe” dos documentos;
- Acabar com as festas tradicionais das escolas (dia dos pais, das mães) para “não constranger” os que não fazem parte da família tradicional;
- A partir de 14 anos, os adolescentes disporão de cirurgia de mudança de sexo custeada pelo SUS;
- Cotas nos concursos públicos para homossexuais etc...

Dona Marta provavelmente leu Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, onde todo bebê era de proveta. A sociedade dela seria mais sofisticada. Não existiria papai e mamãe, mas sim papai e papai ou mamãe e mamãe. A tradicional posição papai e mamãe está abolida.

Seguem tópicos desse esdrúxulo Estatuto da Diversidade Sexual:

Uso de banheiros e vestiários de acordo com a sua opção sexual do dia. Não se aborreça com aquela esquisita te olhando, o caso dela é outro...

Não é permitido deixar de ser homossexual com ajuda de profissionais nem por vontade própria. Palavra de rei não volta atrás...

As escolas não podem incentivar a comemoração do Dia dos Pais e das Mães. Que pena...

Cotas nos concursos públicos para homossexuais assim como já existem para negros no RJ, MS e PR e cotas em empresas privadas como já existe para deficientes físicos. Basta levar uma fungada no cangote para ter o futuro profissional assegurado...

Censura a piadas sobre gays. Contar piada de português... pode?

O Estatuto defende que o Estado é obrigado a investir dinheiro público para homossexuais que querem caros procedimentos de reprodução assistida por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e também o Estado é obrigado a criar delegacias especializadas para o atendimento de denúncias por preconceito sexual contra homossexuais, atendimento privado para exames durante o alistamento militar e assegura a visita íntima em presídios para homossexuais e lésbicas.

Como falei lá em cima, estou em órbita. Se isso tudo entrar em vigor nem aterriso mais. Procurarei abrigo em Marte; saio à procura daquele jipão, o Curiosity...

Você confia na urna-E?



Publico mais uma vez um artigo de Haroldo Barboza, amigo de longa data. Ele tem uma urna eletrônica atravessada na garganta...

No decorrer de março de 2012, o prezado amigo Ricardo Boechat (Band FM) declarou (de boa fé) que acreditava que o sistema de apuração de votos no Brasil é um dos “mais seguros” do mundo.

Tal declaração partindo de um conceituado comunicador de alto gabarito como este, deixa grande parte da população tranquila quanto a este processo, acreditando que alguma coisa boa nossos governantes produzem a ponto de nos deixar orgulhosos dos dirigentes que “escolhemos” para dirigir nosso país! O povo certamente transformará a declaração “mais seguros” em algo perto de 99%.

Claro que é um índice excelente para qualquer linha produtiva. Para qualquer área de prestação de serviços.
Até mesmo na área de saúde! Sabemos que o imponderável entra em todas estas áreas com seu 1% para nos impedir de chegarmos à perfeição. De certa forma isto é bom porque nos mantém evoluindo em busca da melhoria.

Mas não é um índice aceitável num processo de escolha de pessoas que vão definir Leis que manipulam os impostos extorsivos que pagamos. Imagine uma indústria produzindo latas 99% vedadas. Pelo 1% não garantido, entrarão milhares de micróbios nocivos. Tal processo eleitoral, que tem grandes cabeças para elaborá-lo, máquinas poderosas para ajudar estas mentes e tempo bastante para testar as situações PREVISÍVEIS, tem de ser 100% eficaz. E o custo da DEMOCRACIA não tem preço!

Eu trabalhei por 32 anos na área de Informática e garanto que existem diversas possibilidades de fraudar o processo e por isto o mesmo não é 100% seguro. Existem dezenas de chances de manipulação do processo em vários pontos do circuito.

A desconfiança aumenta pelas atitudes que o envolvem. Vejamos algumas.

- O TSE elabora as normas, executa o processo, efetua a contagem, recebe as denúncias, efetua as “auditagens”, “julga” seus erros e define as “penalidades”. Nenhuma entidade externa confere nenhuma destas etapas. Até hoje o caso das “urnas de Alagoas” (2006) não teve esclarecimento público convincente. Fora outras suspeitas em localidades menos votadas.

- O voto não se materializa. Não existe forma de se conferir se o total apresentado por cada urna é igual ao conteúdo “registrado” num histórico. Algo barato de se implantar. Ele se volatiliza. Imagine se o governo aceitaria que as empresas informassem seus ganhos anuais na declaração do IR e não tivessem as notas fiscais, recibos e faturas para comprovar esta contabilidade. O fato de a contagem terminar no mesmo dia apenas deixa a população “encantada” com o processo por não ver a sujeira de cédulas espalhadas no local da apuração. Pergunte à LIESA se ela confia e aceita este processo virtual para definir os vencedores do Carnaval!

- Países de alto grau de politização do povo não utilizam o formato aqui imposto.

- Países tidos como menos gabaritados e conhecidos com atravessadores de produtos “piratas” também não aceitam este processo.

- O TSE não permite que testes de violação das urnas sejam efetuados conforme proposta do Engenheiro Amilcar Brunazo Filho (www.votoseguro.org) que deseja conferir a confiabilidade do processo. Inclusive ele editou um livro explicando as possibilidades e formas de prática de fraudes.

- O TSE não esclarece ao eleitor a possibilidade dele votar NULO, que é um direito do eleitor não satisfeito com o “menu” de aproveitadores que participam do “circo”.

- Os partidos não habilitam seus fiscais na área de Informática para efetuarem as vistorias adequadas. Tendo ar refrigerado, lanche e transporte, eles dão OK ao andamento do processo e validam os resultados. Depois não reclamam do resultado pois se aproveitarão do mesmo sistema “seguro” quando estiverem no poder, dentro do rodízio que definem nos porões da podridão.

Em função do resumo acima exposto, sugeri que o grupo BAND efetue um contato com o Dr. Amilcar e lhe ofereça espaço (20 minutos por semana durante os próximos dois meses + uma reportagem de uma semana na TV BAND) para que este processo seja mais bem compreendido pelos que atualmente apenas participam para validar algumas “farsas” que não espelham a vontade correta de quem votou.

Não confundir processo seguro com má escolha do eleitor. Isto nenhum processo pode impedir. Isto requer um projeto que deve começar nas escolas básicas (e seguir nas demais) que atualmente não possuem estrutura para tal por falta de pressão popular.

É bacalhau, ou As vacas estão magras

Não, não é um artigo sobre o Vasco da Gama...
Vocês sabem, bacalhau não é um prato que se decida na hora. É preciso deixar de molho na véspera, escaldar no dia seguinte, etc... Hoje estou comendo a maravilha e consumi toda uma garrafa do impecável chardonnay Casa Perini.

Mas já houve uma época em que detestei bacalhau.
Março de 1959. Atrasei-me para a apresentação no Campo dos Afonsos, praticamente todos já haviam tomado o café. Lá em casa era café preto, pão e manteiga. Então o suco de laranja, os ovos estrelados e o café com leite me davam a sensação de estar subindo vários degraus, pelo menos na escala gastronômica.

Os dias se sucediam. Café, almoço e jantar. Detestei o dia em que, após o almoço, me deram um trote que consistia em comer todo o doce de figo em calda que sobrara na mesa. Até hoje detesto figo. Mais prazeroso foi, num outro dia, ser obrigado a comer mil-folhas e rebater com suco de laranja. Tinham pouca imaginação aqueles veteranos.

Eu não falei, mas eu era um calouro na gloriosa Escola de Aeronáutica, buscando um brevê de aviador na Força Aérea Brasileira. Infelizmente consegui apenas um meio brevê. Mas isso é outra história.

Chegamos ao ponto, o ponto central da narrativa, o jantar dos cadetes e alunos da Escola. Não sei que deu naquela gente mas em determinada ocasião deram para repetir o menu que era, nada mais nada menos que... bacalhau. Bacalhau com agrião? Sei lá! Sei que estava me embrulhando o estômago. Quando cheguei a casa no fim de semana mamãe me esperava com um, argh!, bacalhau. Reclamei.

Epílogo. Atualmente muitas unidades das Forças Armadas trabalham em meio expediente. A turma almoça em casa, não há verba para o rango. Não direi que estão armados de estilingue porque aí já seria demais.

Quando fui um soldado da pátria era um rei e não sabia. Os convocados para o serviço militar de hoje em dia, dizer que são apenas mendigos privilegiados é muito forte, não?

Um professor de Português politicamente incorreto


Tive bons professores no curso ginasial. No ano da graça de 1953 era essa a nomenclatura. Eu era bom aluno e, no fim do ano, era dispensado, por alguns professores, de fazer a prova oral.

Else - esse era o nome da professora de Francês - perguntava meu nome e dizia: "Vai com Deus, meu filho". Também era assim com os professores de Português, Inglês, Latim e Desenho.

Eu era um dos três melhores alunos da turma mas o Arísio, professor de Matemática, não gostava nada de mim. No mês em que tive o primeiro lugar ele, na cara dura, deixou escapar entre dentes: "Não mereceu"! Dane-se! Tirei DEZ nas outras matérias...

"Seu" Paulo, o professor de Português, era uma figura. Aliás, ele ficava bravo quando o chamavam de "seu" Paulo. "Seu" Paulo é o quitandeiro, dizia. Eu sou o professor Paulo... Com ele aprendi a desenvolver o estilo de escrever que conservo até hoje. Nessa época, com 14 anos, lia muito, José de Alencar, Machado de Assis, Humberto de Campos e Eça de Queiroz.

O professor Paulo lia na classe principalmente trechos de José de Alencar. "Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira". Eu prestava atenção ao modo como ele fazia a leitura, as pausas nos pontos e nas vírgulas. E quando ele pedia alguma redação à turma eu procurava fazer colocando os pontos e as vírgulas à moda de José de Alencar, imaginando que ele fosse ler meu trabalho, o que, efetivamente, acontecia.

Paulo era um professor irreverente. Nos textos exemplos de suas aulas uma vítima era o aluno Benjamim. Ele dizia: "Eu, como o Benjamim, não faria isso". E perguntava à turma: "O que é esse "como"? E concluía: "Neste caso é verbo mesmo"...

Minha avó veio de Pernambuco para morar no Rio de Janeiro. Num 7 de Setembro ela manifestou seu desejo de assistir ao desfile militar, principalmente para ver o Getúlio. Ela queria ver o presidente Getúlio Vargas. Meu tio a levou, eu fui junto. Ao final do desfile passou o velho, acenando para a multidão, e minha avó não cabia em si de contente. Talvez pela minha avó eu, que tinha 13 anos e nenhum entendimento de política, passei a gostar de Vargas.

Entendi que o professor de Português era um admirador do jornalista Carlos Lacerda quando ele propôs à turma um dos seus exemplos politicamente incorretos: "Quando o presidente Getúlio Vargas se suicidou, dei uma cagada. O que é esse quando"?

Passados 57 anos da morte de Getúlio Vargas eu me lembro dessa pequena falha de caráter do professor de Português e já me decidi. Se o câncer que atormenta a laringe de um conhecido político lograr êxito prometo ser mais respeitoso.

Cavalos de aço ou bondes puxados a burro?

Sapucaia, RJ, um cartão postal para o trem bala

Teixeira Leite, antiga Concórdia. Vergonha alheia para o trem bala

O que já foi progresso, hoje é peça de museu, nem valor romântico tem mais. As antigas crônicas asseveram que Nilópolis já foi uma localidade progressista, já teve bondes puxados a burro. Já teve também livrarias onde, na minha infância, eu alimentava meu imaginário. Comprava livretos do Pedro Malasartes e outras historietas de que nem mais me lembro. Atualmente, livros em Nilópolis, só os didáticos. De repente me dá uma louca e eu monto uma livraria, com um espaço para exposição de arte, quem sabe, um Cyber Café?

Sou um grande cliente do Google Earth. Faço viagens homéricas. Vejo fotos e me fascinam aquelas antigas, abandonadas estações ferroviárias pelo Brasil inteiro. Pessoalmente já testemunhei alguns desses abandonos. Já fotografei a grande ponte metálica na localidade Vera Cruz, em Miguel Pereira, montada sob a supervisão do engenheiro Paulo de Frontin. O cavalo de aço não passa mais por lá. Tudo acabou.

Eu me transporto ao passado e me imagino integrado ao progresso das diversas localidades servidas pelo trem "Maria Fumaça", as estações repletas de passageiros vestidos nas suas melhores roupas, a alegria da partida, a alegria da chegada. Tudo acabou.

Durante todo um ano letivo estive em Barbacena, Minas Gerais. O trem era o transporte oficial. Os alunos da Escola foram inclusive de trem até Belo Horizonte para o desfile de 7 de setembro em 1958. Tudo acabou.

Nem tudo está perdido, o trem bala vem aí. As estações abandonadas, algumas delas estão em bom estado. Não farão vergonha ao cavalo de aço do futuro. 

As crônicas sobre Nilópolis também revelam que em um dos dois rios (agora valões fétidos) que delimitam o município havia um pequeno cais para embarcações. Mas esse é assunto para outro post. Comecei a pesquisar e fui longe demais, ficarei apenas nos trens. 

Quero deixar consignado, nos anais deste blog, com uma certa indignação, que desprezamos a cultura dos países de primeiro mundo, como se primeiro mundo fôssemos e eles, o terceiro. Ferrovias, navegação fluvial não são para nós, são para civilizações atrasadas. 

O Brasil é um cartão postal de "antigas estações ferroviárias". Aboliram esse "atraso" quase que de norte a sul do país. Trem, apenas os de carga; em muitos lugares nem isso.

Parece, no entanto, que o bichinho da corrupção mordeu o pessoal e já estão falando no trem bala. Não aposto um centavo nesse projeto, pelo menos não no eixo Rio-São Paulo.

Eu vou ficando por aqui. Querer se estender no assunto renderia um livro, que trataria, inclusive, da safadeza dos governantes... homens e... mulheres.

PS: Se meu projeto andar, no Cyber Café haverá um grande mural com fotos e histórias sobre o maltratado transporte ferroviário no Brasil.

O mapa do labirinto


Este é mais um artigo de *Haroldo Barboza, e muitos mais ele irá escrever até outubro do presente ano. "Se você está FULO da vida, não se acanhe, vote NULO", é sua mensagem de encerramento. Desde já faço um convite ao Haroldo para que desdobre essa mensagem e mostre a todos os seus leitores, de todos os sites e blogs em que escreve, quais as perspectivas do voto nulo, consequências e alternativas.

Particularmente creio que votar nulo não leva a nada. Forma de protestar? Os políticos estão se lixando para protesto de eleitor. Eles já tem seus "clientes" tradicionais, que votam neles em troca de alguma coisa.

Haroldo, ajude-nos a sair do labirinto!


Um dia você leu que Brizola estava com Lula, pois ambos condenavam o sistema que FHC conduzia e estava levando o povo à falência. No dia seguinte, Brizola estava apoiando Ciro. Mas Ciro foi Ministro da Fazenda e se vangloriava em ter colaborado na implantação do Real. Até foi estudar (ou receber orientação?) nos EUA no final dos anos 90. E se uniu a Collor (nem sabia, coitado) que nos esfaqueou pelas costas.

Em outra oportunidade você observou que Serra e FHC armaram esquema envolvendo a bagatela de R$ 1,3 milhão para derrubar Roseana e retirá-la da corrida eleitoral para a presidência. Foi um recado do tipo: “permaneça em seu feudo no Maranhão e deixe Brasília para os ratos grandes”. O pai Sarney ficou uma fera e prometeu que iria revelar dezenas de fatos que somados devem acumular bilhões de Reais pertencentes ao povo e que foram mal gerenciados (ele quis dizer: desviados). Ficamos na expectativa de que a sujeira sob o tapete viria à tona para limpar a dignidade da pátria. Finalmente o dossiê dele seria aberto (já que o de ACM na época das fraudes no painel do Senado não foi). E na semana seguinte, Sarney viajou para uma missão “diplomática” e retornou dócil e calminho como se nada tivesse acontecido.

Então nos lembramos que ACM ao ser ameaçado de perder o mandato de Senador também esbravejou que possuía um dossiê parrudo que derrubaria o poder do planalto com as denúncias que viriam a público. Ele saiu quieto e até agora não vimos suas anotações estampadas na imprensa. Deve estar esperando Bush mostrar as armas químicas de Saddam Hussein. Ou Bin Laden vir à Bahia passar uma temporada em Itapuã a convite de alguma ONG “humanitária”.

No início do século 21, Itamar (MG) deu uma de valente mineiro dizendo que não pagaria as dívidas para com o governo federal, pois as mesmas eram absurdas, obscuras e suspeitas. Foi aplaudido por outros Governadores que estavam sendo pressionados. E logo depois lá estava Itamar se abraçando com FHC num jantar com a elite patrocinadora das campanhas eleitorais.

Serra surgiu como candidato do poder central para 2002. Mas colocou como vice a Rita, que regularmente "irrita" FHC pelas suas posturas antagônicas. Com a queda da popularidade de Serra, FHC começou a voltar os olhos para Ciro (na verdade este roteiro da farsa já estava escrito há meses).

E o veemente Luiz Inácio começou a trajar belos ternos para freqüentar as sedes dos magnatas. Passou a usar textos mais moderados em relação aos projetos futuros e baixou a voz. Baixou seu índice também. Baixou a confiança de antigos correligionários.

Garotinho era aliado de Brizola e a seguir foi buscar apoio com a turma dos evangélicos. Melhor seria continuar fazendo merenda no Palácio Guanabara, que abandonou com uma "bomba-relógio" para Benedita.

Os analistas políticos dizem que eles fazem negociações. É quase isto. Seria isto num país onde os candidatos a cargos públicos estão interessados em melhorar o nível social da comunidade, até porque um ser humano lúcido não se sente bem em habitar uma região deprimida sob todos os aspectos e cercada de miséria que contamina a saúde orgânica e espiritual. Na verdade estão todos entrelaçados por negociatas escusas montadas anteriormente e que cada um tem alguma atitude desabonadora que não interessa que seja explorada publicamente. Cada um deseja pelo menos manter seu território, coisa que Maluf faz com maestria em São Paulo apesar de todas as falcatruas já denunciadas.

E para culminar, quase chegamos às lágrimas (de pena ou de tanto rir) ao ouvirmos as declarações dos bens dos candidatos à Presidência. Cada um mais pobre do que o outro. Quem tem dois apartamentos, um carro com dois anos de uso ou mais de R$ 30 mil na poupança é magnata. Só faltou dizer que estavam pagando a moradia pelo SFH. Aí já seria deboche demais. Como será que estes pobres senhores com patrimônio tão pequeno conseguem viajar pelo mundo com tanta freqüência, sustentar vários filhos (próprios e adotivos) e usufruem mordomias de causar inveja aos mais abastados milionários do mundo árabe?

Em resumo: em quem vamos votar se o Enéas abandonou a arena enlameada e Bin Laden está ocupado em infernizar a vida dos EUA? Seria melhor colocar logo Elias Maluco ou Fernandinho Beira-mar no comando. No entanto, Marcola, mesmo sem nosso voto já está mandando sem resistência. Já deve ter costurado alianças com a turma da Bolívia e pode até nos fornecer gás mais barato em troca de algumas mordomias nas celas de seus comparsas. Do jeito que vai, o tal poder paralelo assume aqui (oficialmente) ANTES que a FARC na Colômbia, o ETA na Espanha e o IRA na Irlanda.

Enquanto os suprimentos de novelas, Big Brocha Brasil, banheiras do Gugu e reportagens sobre o hexa de futebol estiverem garantidos, o povo pouco estará preocupado com o futuro de seus filhos e netos. Não voltará sua atenção para o picadeiro do pleito, onde cada um de nós é o palhaço que chora para divertir a elite do poder e ainda paga para isto! E os intelectuais de plantão continuarão afirmando (honestamente iludidos) que podemos mudar isto através do voto. Só quando a tv “lobo” for penalizada pela compra fraudulenta de sua rede em São Paulo através de documentos falsos já noticiados pela Tribuna da Imprensa desde 1999 e cujo processo a todo instante é solicitado para “vistas” pelos advogados do conglomerado.

O tempo passa e novos pleitos consomem fortunas dos cofres públicos. Os candidatos são os mesmos há 30 anos. Eventualmente surge um “novo”, trazendo em sua folha corrida (eles chamam de currículo) o envolvimento em 3 ou 4 escândalos que deram prejuízos irreparáveis à nação. No Brasil as barbaridades produzidas pelos pilantras do poder servem de tema para os programas humorísticos e a população ri e aguarda a semana seguinte para se “divertir” com novos escândalos. Na China, pela metade de crimes do mesmo porte, os facínoras das canetas são fuzilados e a população reza para que a justiça (pode até ser rígida para nossos padrões “humanitários”) permaneça atenta, ao contrário da nossa, que usa vendas quando é convenientemente “amaciada”.

Devido a esta sucessão de fatos grotescos que cada vez mais aumenta a ocorrência, nosso pântano da imoralidade se alastra em alta velocidade e a maioria da população anestesiada não percebe que a podridão já está na soleira de cada lar. Eles chamam de “coligações políticas”. Nós sabemos que são ramificações de quadrilhas.

Resumindo: estamos diante de uma cesta de doces embalados com todas as datas de vencimento já expiradas. O vencimento mais recente foi há 15 dias. Qual deles você vai “saborear”?

Mas se você reativou sua memória com estes entrelaçados e da vida está FULO, não se acanhe: vote NULO.


Haroldo Barboza*

Nossa sociedade é um colosso. Sobrevive no fundo do poço.
Referendo de sucesso será o que propuser expurgo no Congresso.
Haroldo P. Barboza - RJ/Vila Isabel
Matemática (infantil) / Informática (adulto)
Autor do livro: Brinque e cresça feliz.

O complexo de Jeca Tatu


O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Euclides da Cunha vê na mistura de raças um retrocesso; o mestiço - mulato, mameluco ou cafuzo - não tem a altitude intelectual dos ancestrais superiores. A diferença do sertanejo brasileiro é o seu isolamente no interior do país livrando-se de ser corrompido etnicamente com as aberrações e vícios dos meios mais adiantados.

Essa visão do sertanejo por parte de Euclides tem alguma coisa a ver com o caboclismo de José de Alencar, Gonçalves Dias e outros. Em sentido contrário veio Monteiro Lobato com seu Jeca Tatu, sinônimo de caipira, homem do interior. "Este funesto parasita da terra é o caboclo, espécie de homem baldio, semi-nômade, inadaptável à civilização..."

A polêmica é grande, os saudosistas ficam indignados. Mas Rui Barbosa também se refere a Jeca Tatu, "símbolo de preguiça e fatalismo, de sonolência e imprevisão, de esterilidade e tristeza, de subserviência e embotamento". Monteiro Lobato, na quarta edição do seu livro Urupês, se penitencia: "Eu ignorava que eras assim, meu caro Jeca, por motivo de doenças tremendas. Está provado que tens no sangue e nas tripas todo um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte".

"Um país com dois terços de seu povo ocupados em pôr ovos alheios".

Mas isso foi há algum tempo. A Saúde agora está "quase perfeita".


Semana passada, viajando, abandonei a estrada principal e fui por um caminho alternativo. Dei carona a duas mulheres, mãe e filha, a mãe, bem idosa. Já tinham caminhado 5 km desde sua casa e iam para Paty do Alferes, 15 km à frente. Iam a uma igreja católica em busca de uma bolsa de compras.

- Como vocês irão voltar? Aqui passa ônibus?, perguntei.
- Vamos voltar de carona. Não temos dinheiro para o ônibus.
Perguntei qual a plantação que tinham no sítio. Responderam que era uma horta. Fiquei imaginando o tipo de horta. Teriam feijão, milho, mamoeiros, bananeiras, aipim? Teriam algumas galinhas? Achei que não haveria nada disso e provavelmente as duas teriam complexo de Jeca Tatu, o indolente que fica pitando seu cigarro de palha à porta da maloca.

- E quando vocês têm problema de saúde?
Nesse caso iam a Andrade Pinto, um pequeno povoado distante 2 km, em sentido contrário. Mas no Posto de Saúde quase nunca haviam remédios para dar. Lá não se resolvia nem uma gripe, disseram.

Nesse dia eu estava meio pachorrento, pouco palrador, e nem me ocorreu perguntar em quais políticos votavam. Vocês sabem, esse pessoal sempre vota, por uma questão de gratidão. Perguntei também se não tinham o Bolsa-Família. Disseram-me que haviam pedido mas que o cartão ainda não tinha chegado. E eu fiquei pensando na propaganda do governo: "Brasil, um país de todos". Por certo não dessas duas brasileiras.

Que inveja dos bolivarianos!


Há uma diferença semântica entre mim e Lula: enquanto eu não gosto da palavra democracia ele não gosta da democracia mesmo.

Desde 1988, quando me candidatei a vereador na minha cidade, meu discurso tem sido o de desconstruir o termo democracia, para a contrariedade dos dirigentes do partido.

Ninguém sabe o que é democracia. Quando eu "colaborava" com a Justiça Eleitoral, trabalhando em uma seção eleitoral, apareceu um cidadão querendo informações de onde deveria votar. Eu não tinha como saber, mas ele insistiu, como se eu fosse o alcáide-mor da região. Por mais que eu explicasse que estava isolado naquela seção sem as informações que ele desejava, não se conformava. Por fim, muito irritado, decidiu ir-se, não sem antes me dizer muito "ironicamente": Muito obrigado! O senhor é um grande democrata!

Para alguns, democracia é quando eu mando em você; se você manda em mim é ditadura. Muitos gostam também da democracia da raposa que possui a chave do galinheiro. Eu acho que se torna muito difícil saber o que significa a palavra democracia desde quando se diz que na Venezuela, por exemplo, há democracia até demais. Esta democracia se espalha por outros países bolivarianos onde se fecharam ou ainda se intenta fechar jornais e televisões desalinhados com a opinião do governo.

A democracia, aquela do dicionário, aceita a palavra oposição. Lula gosta de bola no pé e goleiro amarrado. Pra que essa oposição "imbecil"? Uma das definições do vocábulo no Houaiss é: [sistema político cujas ações atendem aos interesses populares]. O sistema político que atende apenas aos interesses do Lula, como se chama? Ah, que inveja dos bolivarianos!

No a la izquierda


A OEA condenou o golpe que derrubou o presidente Manuel Zelaya no domingo e exigiu o "imediato, seguro e incondicional retorno do presidente a suas funções constitucionais". A entidade afirmou que "nenhum governo resultante dessa interrupção inconstitucional será reconhecido."

A OEA instruiu seu secretário-geral, José Miguel Insulza, a tomar "iniciativas diplomáticas com o objetivo de restaurar a democracia e o regime da lei."

"Se isso não tiver sucesso em 72 horas, uma sessão especial da Assembleia Geral poderá suspender Honduras", disse a resolução.

Zelaya prometeu na terça-feira voltar a Honduras na quinta, acompanhado de líderes estrangeiros, desafiando uma ameaça do governo interino de que irá prendê-lo se retornar ao país. Nesta quarta, segundo várias fontes, ele foi ao Panamá para a posse do presidente do país, Ricardo Martinelli.

texto acima, do G1, globo.com

Qual é a direção que os democratas bolivarianos querem para Honduras? A que está indicada na foto é proibida.
Chavez, Fidel e outros amantes do continuísmo, tudo bem, mas até tu, Obama?

Néstor Kirchner e o carrinho de rolimã

Meu pai era marceneiro e eu já estava a lhe cobrar um brinquedo para o seu filho. Há muito tempo eu engoli em seco quando ele fizera um carro em miniatura ao qual um seu amigo iria adaptar um motor. Seria o presente do filhote de um outro amigo. Porém nunca fui de reclamar.

Um belo dia chega o meu carro de madeira, tipo carrinho de rolimã, com direção e freio. Um carrinho de verdade, com o banco alto e uma direção verdadeira, não aquela acionada com os pés, como os carrinhos dos outros garotos.

O quintal de casa era razoável: 22 por 30 metros. Descontada a casa havia espaço para um bom circuito. Os garotos e garotas se revezavam nesse passeio. Um dirigia e outro empurrava. Havia um ponto, como nos ônibus, onde era feita a troca de "motorista". Só que uns espertos inventaram um outro ponto e eles, entre risos, revesavam entre si deixando os outros com cara de bobos (de babacas, seria o termo exato). Nunca vi o dono da bola não ter lugar no time, então mandei a mensagem: "game is over, perderam, idiotas". Cada um para suas casas.

Na Argentina Cristina Kirchner sucedeu na presidência ao seu marido, Néstor Kirchner. No último domingo transcorreram as eleições legislativas que seriam uma espécie de plebiscito para os Kirchner. Falava-se até em uma dinastia Kirchner. Esperava-se para a quinta-feira anterior um "panelaço contra as fraudes" em Buenos Aires e em outras cidades, não sei se houve.

A ilustração acima deveria mostrar um bando de moleques avessos à democracia, querendo monopolizar o carrinho de rolimã para um pequeno grupo de espertos. Mas como o poder é um delicioso e lucrativo brinquedo e a continuidade é que conta...

Ah, sim, os Kirchner deram com os burros n'água. Já está na hora de os continuístas revirem seus conceitos. Em Honduras não deu certo.

Acima das nuvens


Haroldo Barboza *

Como nosso governo vive voando (literalmente), sempre é o último a saber que nossa aviação civil (e militar) está em crise. E nas raras vezes que transita em terra firme, faz declarações para empolgar a galera. No final de março de 2007 “exigiu” data para o fim do caos que assola o setor. No meio desta zona, o Mi(si)nistro Waldir Pires ficou a ver navios (ou aviões?). Este sim deveria voar para conferir de perto as barbaridades. Mas “Pires” não voa. Se fosse “xícara” teria mais chances, pois esta tem asas.


Esta exigência de soluções imediatas da figura máxima do governo deveria ser feita também nas demais áreas sob sua tutela.

Mas nada funciona por três fatores principais:


1 – Os orçamentos para cada área são aprovados pela Câmara Federal. Mas na metade do ano os valores são cortados em até 60% dependendo do impacto político que garanta a perpetuação no poder das parasitas que “galgaram” (como gatunos escalando muros residenciais) os postos de comando. Ou mesmo por “ordem” de um abutre estrangeiro que nos coloniza e deseja um superávit alto para reduzir o “risco Brasil”.


2 – Do que sobra para aplicar na área, cada “ortoridade” busca um meio escuso de se locupletar do cargo que lhe foi conferido. Sempre deixam uma “merreca” para comprar uma máquina há 15 anos fora de uso no primeiro mundo, um rolo de arame para amarrar pés de móveis prestes a desabar, ventilador para substituir o ar refrigerado que não funciona há 4 meses e uma “verba” para agradar fiscais que possam contestar condições inadequadas de trabalho.


3 – A Justiça omissa e com preguiça não age para punir culpados encontrados com a mão (e o corpo todo) na “massa”. Bandos de advogados de plantão estão com mandatos de soltura prontos (basta colocar o nome do acusado na linha pontilhada) para seus réus primários (mesmo com 20 escândalos nas costas). Os Juízes logo assinam tais documentos desde que seus polpudos salários e suas enormes vantagens estejam garantidos. Se fazem isto pelos marginais que portam armas de fogo, por que deixariam de atender aos que usam silenciosas canetas?


* Haroldo P. Barboza - RJ/Vila Isabel

Matemática (infantil) / Informática (adulto)
Autor do livro: Brinque e cresça feliz

O Cara e a Coroa, ficção ou realidade?


- Castelo de Windsor, bom dia.
- Bom dia, mamãe. Sou eu, seu filho mais velho.
- Qual o problema, para você ligar tão cedo num sábado?
- Nada urgente. Só queria voltar a falar sobre a foto. Lembra? A foto da reunião do G20.
- Filhinho querido. Cá entre nós, quando você trocou Diana por Camilla, pensei que não me daria mais aborrecimento. Agora você quer que eu pose ao lado dele? Assim não dá!
- Mas, mãezinha, trata-se apenas de uma foto. Não vai durar nada. Poucos segundos e pronto. Não vai doer, posso garantir.
- Com tanta gente importante e perfumada, você quer que eu saia ao lado de quem falou mal dos brancos de olhos claros?
- Ora, mamãe, ele estava falando dos banqueiros americanos e não de nós, pobres integrantes da realeza. Até porque, Diana é quem tinha olhos claros, não nós. Ou não?
- Teu argumento terá que ser muito convincente.
- Está bem. Vou contar, porque a culpa é mesmo sua. Por obrigar-me a estudar, descobri que quando protegemos de Napoleão a família real portuguesa em sua fuga para o Brasil, encontramos uma gente frágil, subornável e para a qual Pátria não representa valor pelo qual se deva sacrificar. A partir dessa constatação, tenho usado a mesada que a senhora me dá para financiar ONGs inglesas que atuam na Amazônia e para subornar autoridades brasileiras. Desde o governo Collor faço isso. Não lhe contei antes para não aborrecê-la. Mas papai, que não faz nada, sabe de tudo. Ele sabe até que estive no Brasil na semana em que o STF votou o caso da Raposa Serra do Sol, a fim de dar uma pressãozinha na turma. Tive inclusive que, ridiculamente, sambar. Mas deu certo. O futuro do nosso Reino e a mordomia da nossa família estão garantidos por mais alguns séculos. Agora é preciso demonstrar o nosso reconhecimento aos brasileiros por nos terem entregue uma das províncias minerais mais ricas do mundo. É fundamental que Mr Presidente saia bem na foto. Você nem imagina a repercussão que isso terá no Brasil.

- Barack não ficará chateado?
- Já conversei com ele. Temos uma estratégia. Durante um dos intervalos da reunião, na frente de todos e, principalmente, da imprensa, ele revelará quem é o “cara”. Não esqueça de que os americanos são extremamente profissionais. Aí, estará fechado o circuito. Para completar, mandarei um agradinho para Brasília: uma caixa do nosso melhor scotch. A senhora sabe que, embora tenha cara de bobo, sou muito esperto (só bobeei no caso de Diana).
Sugiro que mamita faça uma pesquisa no google a fim de saber o que representa o nióbio e onde se encontram suas maiores reservas. Verá que estou cheio de razão.
- Ok, filhinho querido. Tudo pela Coroa. Mas, por favor, nunca mais peça nada parecido. Já estou velha demais para tanto sacrifício.

P.S.: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas e instituições reais terá sido mera coincidência. Ou não?

Enquete: Você tem facilidade para reatar amizades quebradas?

Meus inimigos, sem contar as antipatias, cabem perfeitamente nos dedos da mão (and I missed no finger). As antipatias são perfeitamente naturais e eu sei disso porque convivi com cerca de 400 camaradas em uma escola militar durante quatro anos. Sempre existe aquele mala cujo papo não nos agrada, que nos olha de cima, que não doa sangue por se achar possuidor de sangue azul. Mas que não fiquemos nos achando, alguns ou muitos podem pensar o mesmo a nosso respeito. Quem possui unanimidade pode se considerar o próximo Papa.

Vou logo respondendo à enquete: Não, não reato as amizades perdidas, ou seja, não tomo a iniciativa. Se aquele que me contrariou tiver deixado feridas leves e pedir perdão, posso reconsiderar. Porque eu penso que nunca chamei ninguém de ladrão, quadrilheiro, sacripanta, ou tentei impor à força meus pontos de vista. No entanto a decisão de colocar o fulano no arquivo morto foi sempre iniciativa minha.

Já estive na política mas não emplaquei. A política é, por assim dizer, um submundo. Nela campeiam a delinquência, o crime organizado e a falta de convicções. O inimigo de hoje poderá ser o amigo de amanhã, sem ao menos um pedido de perdão. Uma desculpa por parte do ofensor poderá aparecer para salvar as aparências. O que conta são as forças ocultas (vide caso de Mangabeira Unger, o Confúcio do Planalto, versus Lula).

Eu gostaria de ser posto à prova, ter a chave do cofre sob a minha guarda, ter uma posição de poder, ter brigado com "o" figura e precisar dele para concretizar meus planos de ampliação de influências. Sei que sou honesto para pequenas quantias, mas para arrebentar o cartão corporativo, fazer a farra do avião, andar com dólares na cueca, fazer pacto com o diabo, nunca fui testado.

Por isso é que vejo todo mundo xingar todo mundo, o Lula ao Sarney, o Lula ao Collor, o Collor ao Lula, para ficar apenas nessas figuras, e hoje comem todos à mesma mesa. Pior, ninguém se pergunta o que há por trás desses fatos, aliás, ninguém pergunta nada, apenas acham que o presidente é um tio simpático, que tem a mania de ser engraçado. Abaixo, tirando sarro do Bush, fingindo jogar um sapato.

Ouça a entrevista do Lula no programa do Milton Neves:



Gostou? Então clica aqui e escuta mais!

No áudio, a opinião de Lula sobre Collor e sendo profeta de si mesmo. Curiosamente todos os arquivos que contêm a resposta de Collor a esse depoimento foram apagados. Vale ressaltar que com o apoio de Sarney e a anuência de Lula, o senador Fernando Collor assumirá o comando da Comissão de Infraestrutura do Senado, que irá acompanhar e fiscalizar obras do PAC, tendo vencido a disputa com Ideli Salvatti, líder do PT até este ano. E ninguém pediu perdão a ninguém pelas más palavras.

E você, tem facilidade para reatar amizades quebradas, espezinhadas, ou acha que tudo são flores?

Sobre os mais lidos da semana 20-26/abril

Ou, puxando a brasa para a minha sardinha

Com exceção do Gustavo Dudamel e do Comer tatú, todos os outros posts são frequentes nesta relação, com predominância para Carmen Monarcha, Minha melhor partida de damas e O Presidente Negro. A volta deste último post foi consequencia de tê-lo colocado no Vale a Pena Ler de Novo, comemorando o Dia Nacional do Livro - 18 de abril.

Minha melhor partida de damas é o peixe fora d'água. Com toda a certeza, mesmo estando na relação dos mais lidos, nenhum leitor do blog tem interesse no assunto. Então vou copiá-lo para o blog Shashki, transliteração do russo Шашки, que só trata de jogo de damas.

Algumas pessoas reagiram ao título Gustavo Dudamel, o melhor maestro do mundo, respondendo com Seiji Osawa, Pierre Boulez, Claudio Abbado e outros. Eu simplesmente fiquei empolgado com o trabalho musical que se faz com a juventude venezuelana do qual Dudamel é o resultado mais espetacular. Ele pode não ser realmente o melhor maestro do mundo, apenas uma promessa, mas é um fora-de-série, que sabe o que quer. O atleta Pelé também surgiu como uma promessa.

Quando ouço uma obra sinfônica - e vou confessar minha ignorância -, não me ligo muito naquela figura com uma varinha na mão à frente da orquestra. Com Dudamel é que comecei a prestar atenção no trabalho do maestro, porque assisti aos vídeos de seus ensaios. Ele tem sempre recomendações sobre o desempenho de cada músico. Exige de pessoas algumas com idade de ser seu avô. Carmen Monarcha até hoje não sabe como o maestro André Rieu ouviu sua voz num coro de cem mulheres e a convidou para solista da orquestra.

Para ilustrar, uma piada sobre maestros:

Aquele maestro novato, incompetente, arrogante, incomodava os músicos da orquestra. A uma sua intervenção desastrada num ensaio o timpanista, revoltado, reagiu brandindo seu instrumento:

- Bong! bong! bong! bong!
Ao que ele prontamente retrucou:
- Agora chega! Não admitirei mais indisciplinas! Quem fez isto?

Eu gosto dessa relação semanal dos mais lidos porque tenho a oportunidade de rever textos antigos meus e, quando houver, recordar os comentários dos leitores. E como eu ando muito lento aqui nos trabalhos vai o Comer tatú dá dor nas costas figurar na relação Vale a Pena Ler de Novo. É um assunto sempre atual. Nada a fazer. Talvez recordar aquele locutor apressadinho que fala ao final dos comerciais de medicamentos na TV: "Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado". O problema é achar um médico para curar esse tipo de doença.


Gustavo Dudamel, o melhor maestro do mundo

Gustavo é o regente mais assombrosamente dotado que já vi
Sir Simon Rattle, diretor da Filarmônica de Berlim

Deborah, você não vai acreditar no garoto que ganhou a competição”, disse o finlandês Esa-Pekka Salonen, diretor musical da Filarmônica de Los Angeles, falando ao telefone com Deborah Borda, a presidente da orquestra. “Como ele é?”, perguntou Borda. “É um regente animal. Vamos chamá-lo para um concerto agora.”

Na última segunda-feira fui ao Hospital do Olho com minha mãe. Ela terá que fazer uma operação de catarata no olho direito; eu aproveitei para trocar os óculos com os quais trabalho no computador. Tenho outro para livros e jornais, mas como pouco leio ele está como novo. Um terceiro me serve para dirigir e ver televisão.
- Isso não se usa mais. Você parece que está no tempo de D. Pedro. Você vai usar um multifocal - disse o oftalmologista.

Um pouco antes, ainda esperando minha vez, peguei numa pilha de revistas antigas uma Época de novembro e parei no título "O milagre de Gustavo Dudamel". O nome não me era estranho. "Como um venezuelano de apenas 27 anos se tornou o maior maestro do planeta". Uma reportagem fascinante. Assim que cheguei à casa localizei o endereço com todo o artigo e o li repetidas vezes. Porém Dudamel não é um milagre, senão o produto de uma cultura musical instalada em 1875 na Venezuela e que, em 30 anos, descortinou o mundo da música para 2 milhões de jovens. Aqui no Brasil já tivemos, na escola secundária, o ensino do Canto Orfeônico e da Educação Física, além da disciplina Trabalhos Manuais. Foi tudo para o ralo. Isso é coisa de republiqueta latino-americana. Somos o país do futebol, do samba e, agora, do funk e do pagode.

"Todos os dias, ao voltar da escola para o almoço, o menino arranjava seus bonequinhos de plástico como uma orquestra. Colocava um disco e brincava de reger. Na hora de sair, pedia à avó para não desmanchar a orquestra enquanto estivesse nas aulas de música, para que pudesse retomar o ensaio com os músicos quando voltasse". Ainda menino sonhava em reger a Orquestra Filarmônica de Viena, a maior orquestra da Áustria e uma das maiores do mundo. Em 1999, aos 17 anos, foi escolhido diretor da Sinfônica da Juventude Venezuelana Simón Bolívar, a principal das 600 orquestras infantis e juvenis do Sistema. Este ano deverá assumir, se é que já não o fez, a direção da Filarmônica de Los Angeles, a “LA Phil”, como é conhecida.

Espero que vocês leiam a reportagem. É só clicar aqui. Tive muitas dúvidas para escolher um vídeo do jovem maestro. Afinal, como apresentar um regente "animal" e deixar sobretudo evidente toda a sua sensibilidade de artista?

A cada final de ano temos mais um especial do Roberto Carlos. Será que isso é o máximo que nossa pobre cultura nos permite?

Apetite voraz

Alô, alô, marciano, aqui quem fala é do Lugar_RSI. A coisa aqui está preta, tá ficando russa. Estou na maior fissura, até com diversos assuntos na cabeça porém meio desmotivado - não vou dizer completamente down, como a Elis Regina, uma das rainhas da canção brasileira, ao interpretar a composição da Rita Lee.

Reparem que o último artigo aqui publicado foi do Haroldo Barboza. Ele me socorre novamente. Aliás, fica definida a terça-feira como o dia para os seus artigos, se bem que ele me envie outros durante a semana. Nunca é demais repetir - o Haroldo transita pela prosa, poesia ou humor com a mesma desenvoltura. Porém minha preferência é pelo estilo contestador apresentado abaixo onde ele desafia os petistas, lulistas, companheiros em geral e corruptos de todos os matizes a mostrarem a cara diante do atual grau de corrupção que grassa no país.

Apetite voraz

Haroldo Barboza

Quem tem esperança (como eu) que alguma entidade respeitável da sociedade venha empunhar a bandeira da cruzada pelo resgate da moralidade pública, mais uma vez fica decepcionado. Como se não bastasse o silêncio de antigos conglomerados de verdadeiros patriotas (agora dominados), neste momento se soma a este contingente a UNE, que na metade do século XX atuava (algumas vezes atabalhoadamente por força da impetuosidade da juventude) na luta pela preservação de algum ideal concreto.

Mas o tempo passou, os líderes foram banidos ou corrompidos e o grupo atual que a integra deve estar sendo afetado pelos efeitos da falta de valores morais e éticos dentro dos próprios lares. A entidade acaba de ser “agraciada” com uma doação (imposto nosso) federal de R$ 10 MI para atender seus projetos”(?).

Desta forma, sem seus membros mais aguerridos para formar opiniões com argumentos saudáveis, quem acredita que ela se manifeste para exigir um processo digno de educação para nossos jovens desnorteados que em breve estarão em idade para começar a produzir projetos úteis à sociedade?

O que vemos atualmente? Trotes em faculdades onde calouros são afogados em piscina. Jovens drogados que queimam índios no planalto central. Médicos jovens (mal formados e mal assessorados) que operam o lado direito do crânio de uma moça que bateu com o lado esquerdo na pia de casa. Residentes que transitam entre o hospital e o restaurante com o mesmo guarda-pó onde vírus se aconchegam.

O processo para desmoralizar poderosas vozes de credibilidade segue em ritmo acelerado. Sobram poucas resistências entre as forças armadas e membros da Justiça. Verbas que deveriam ser aplicadas em programas sociais para aprimorar a nossa qualidade de vida e crescimento real da produção são usadas para farras dos cartões corporativos, mensalões e agrados.

E o exemplo logo é absorvido nas escalas inferiores. O Governador do Rio está pronto para adquirir um helicóptero francês (Carla Bruni fez lobby?) de R$ 12 MI para uso próprio. Este valor daria para manter ativas as unidades de ortopedia que foram suspensas nas UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) nesta 1ª. Semana de março de 2009!

Este descaso com a saúde popular efetivamente representa um ato de traição (este foi seu trampolim eleitoral) que é a característica comum destes políticos que há mais de 20 anos se locupletam com nosso dinheiro na certeza de que nossa acomodação nada produzirá para terminar com a confortável impunidade reinante.

Os freqüentadores regulares das frias filas das madrugadas em busca da vergonhosa senha (já tem mercado negro nisto) estão entregues ao bom humor de seus anjos protetores. Ou ao apetite dos micróbios que infestam os imundos corredores hospitalares. Talvez com uma fome menor do que a dos devoradores de nossos impostos. E de nossas paciências.

Um PAC com Dilma

Publiquei, recentemente, uma literatura de cordel de Miguezim de Princesa. Alguns dizem que ele também se assina como Zé Piaba, são o mesmo poeta. Vi o presente cordel em algumas páginas por aí, inclusive no blog da Dilma. Como há pessoas que são a favor do "falem mal mas falem de mim"... Essa do cofre do Adhemar foi mal!

Miguezim de Princesa está presente no Recanto das Letras. Qualquer verso seu é bálsamo para o fígado. Ele quer ser diretor no Senado de qualquer maneira ("Eu quero a minha diretoria"). Não há mais vagas? Sem problemas!
"Eu topo qualquer lugar,
Até mesmo pra escovar
O bigode do Sarney".

Zé Piaba

Quando vi Dilma Roussef
Sair na televisão
Com o rosto renovado
Após uma operação,
Senti que o poder transforma:
Avestruz vira pavão.

De repente ela virou
Namorada do Brasil:
Os políticos, quando a veem,
Começam a soltar psiu,
Pensando em 2010
E nos bilhões que ela pariu.

A mulher, que era emburrada,
Anda agora sorridente,
Acenando para o povo,
Alegre, mostrando o dente,
E os baba-ovos gritando:
É Dilma pra presidente!

Mas eu sei que o olho grande
É na montanha de bilhões
Que Lula botou no PAC
Pensando nas eleições
E mandou Dilma gastar,
Sobretudo nos grotões.

Senadores garanhões,
Sedutores de donzelas,
E deputados gulosos,
Caçadores de gazelas,
Enjoaram das modelos,
Só querem casar com ela.

Eu também quero uma lasquinha
Uma filepa de poder
Quero olhar nos olhos dela
E, ternamente, dizer
Que mais bonita que ela
Mulher nenhuma há de ser.

Eu já vi um deputado
Dizendo no Cariri
Que Dilma é linda e charmosa,
Igual não existe aqui,
E é capaz de ser mais bela
Que Angelina Jolie.

Dilma pisa devagar
Com seu jeito angelical,
Nunca deu grito em ninguém
Nem fez assédio moral
Ou correu atrás de gente
Com um pedaço de pau.

Dilma superpoderosa:
Oito bilhões pra gastar
Do jeito que ela quiser,
Da forma que ela mandar,
Sem contar com o milhão
Do cofre do Adhemar .

Estou com ela e não abro:
Viro abridor de cancela,
Topo matar jararaca,
Apagar fogo na goela,
Para no ano vindouro
Fazer um PAC com ela.

A Excomunhão da Vítima

Recebido por e-mail

(Por Miguezim da Princesa *)

I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.


(*) Poeta popular, Miguezim de Princesa,
é paraibano radicado em Brasília.