A seguir, escreve Haroldo Barboza:
Armadilhas de fogo
A seguir, escreve Haroldo Barboza:
O pega-ladrão do Haddad
Ali pelos meus 10 anos de idade a rua Olinda, em seus 200 metros de extensão, poderia ter no máximo umas 10 a 15 casas. Atualmente tem mais de 50, uma grande cabeça de porco, sem nenhum controle por parte da municipalidade. E aquelas casas não possuiam marcador individual de luz. O relógio "comunitário" ficava em uma cabine na parte alta da rua, fazendo esquina com a rua João Pessoa.
Quando a gurizada descobriu, virou festa. Íamos lá, à noite, para fazer "sabotagem", desligar o relógio e deixar tudo às escuras. O chefe da quadrilha, que não precisa temer o Lewandowski, era o Gilson, o mais velho, que poderia ter 13 ou 14 anos.
Mas certa noite deu problema. Um morador teve a paciência de ficar pelos arredores à espera dos infantis sabotadores. Quando a malta chegou perto do relógio ele gritou:
- Então são vocês...
E foi criança correndo para tudo que era lado, menos o Gilson, o cabeça do bando, que com ar de deboche gritava para os amiguinhos:
- Corram, "pulhecos"! Vieram aqui desligar o relógio, agora corram, seus safados!
Mas que cara-de-pau! Me lembra de um certo ex-presidente que dizia que o mensalão nunca existiu, muito embora muitos digam que ele seria o chefe.
Resumindo, essa é a técnica pega-ladrão. O criminoso tenta ludibriar seus perseguidores fazendo-se passar por um deles. Foi por isso que José Serra disse que Fernando Haddad faz o jogo do pega-ladrão.
Para encerrar, imaginem o Pelé repetindo seu bordão mais popular: - "Entendem"?
Você tem sede de quê?
Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley
Você confia na urna-E?
É bacalhau, ou As vacas estão magras
Um professor de Português politicamente incorreto
Cavalos de aço ou bondes puxados a burro?
O mapa do labirinto
Em outra oportunidade você observou que Serra e FHC armaram esquema envolvendo a bagatela de R$ 1,3 milhão para derrubar Roseana e retirá-la da corrida eleitoral para a presidência. Foi um recado do tipo: “permaneça em seu feudo no Maranhão e deixe Brasília para os ratos grandes”. O pai Sarney ficou uma fera e prometeu que iria revelar dezenas de fatos que somados devem acumular bilhões de Reais pertencentes ao povo e que foram mal gerenciados (ele quis dizer: desviados). Ficamos na expectativa de que a sujeira sob o tapete viria à tona para limpar a dignidade da pátria. Finalmente o dossiê dele seria aberto (já que o de ACM na época das fraudes no painel do Senado não foi). E na semana seguinte, Sarney viajou para uma missão “diplomática” e retornou dócil e calminho como se nada tivesse acontecido.
Então nos lembramos que ACM ao ser ameaçado de perder o mandato de Senador também esbravejou que possuía um dossiê parrudo que derrubaria o poder do planalto com as denúncias que viriam a público. Ele saiu quieto e até agora não vimos suas anotações estampadas na imprensa. Deve estar esperando Bush mostrar as armas químicas de Saddam Hussein. Ou Bin Laden vir à Bahia passar uma temporada em Itapuã a convite de alguma ONG “humanitária”.
No início do século 21, Itamar (MG) deu uma de valente mineiro dizendo que não pagaria as dívidas para com o governo federal, pois as mesmas eram absurdas, obscuras e suspeitas. Foi aplaudido por outros Governadores que estavam sendo pressionados. E logo depois lá estava Itamar se abraçando com FHC num jantar com a elite patrocinadora das campanhas eleitorais.
Serra surgiu como candidato do poder central para 2002. Mas colocou como vice a Rita, que regularmente "irrita" FHC pelas suas posturas antagônicas. Com a queda da popularidade de Serra, FHC começou a voltar os olhos para Ciro (na verdade este roteiro da farsa já estava escrito há meses).
E o veemente Luiz Inácio começou a trajar belos ternos para freqüentar as sedes dos magnatas. Passou a usar textos mais moderados em relação aos projetos futuros e baixou a voz. Baixou seu índice também. Baixou a confiança de antigos correligionários.
Garotinho era aliado de Brizola e a seguir foi buscar apoio com a turma dos evangélicos. Melhor seria continuar fazendo merenda no Palácio Guanabara, que abandonou com uma "bomba-relógio" para Benedita.
Os analistas políticos dizem que eles fazem negociações. É quase isto. Seria isto num país onde os candidatos a cargos públicos estão interessados em melhorar o nível social da comunidade, até porque um ser humano lúcido não se sente bem em habitar uma região deprimida sob todos os aspectos e cercada de miséria que contamina a saúde orgânica e espiritual. Na verdade estão todos entrelaçados por negociatas escusas montadas anteriormente e que cada um tem alguma atitude desabonadora que não interessa que seja explorada publicamente. Cada um deseja pelo menos manter seu território, coisa que Maluf faz com maestria em São Paulo apesar de todas as falcatruas já denunciadas.
E para culminar, quase chegamos às lágrimas (de pena ou de tanto rir) ao ouvirmos as declarações dos bens dos candidatos à Presidência. Cada um mais pobre do que o outro. Quem tem dois apartamentos, um carro com dois anos de uso ou mais de R$ 30 mil na poupança é magnata. Só faltou dizer que estavam pagando a moradia pelo SFH. Aí já seria deboche demais. Como será que estes pobres senhores com patrimônio tão pequeno conseguem viajar pelo mundo com tanta freqüência, sustentar vários filhos (próprios e adotivos) e usufruem mordomias de causar inveja aos mais abastados milionários do mundo árabe?
O complexo de Jeca Tatu
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Euclides da Cunha vê na mistura de raças um retrocesso; o mestiço - mulato, mameluco ou cafuzo - não tem a altitude intelectual dos ancestrais superiores. A diferença do sertanejo brasileiro é o seu isolamente no interior do país livrando-se de ser corrompido etnicamente com as aberrações e vícios dos meios mais adiantados.
Essa visão do sertanejo por parte de Euclides tem alguma coisa a ver com o caboclismo de José de Alencar, Gonçalves Dias e outros. Em sentido contrário veio Monteiro Lobato com seu Jeca Tatu, sinônimo de caipira, homem do interior. "Este funesto parasita da terra é o caboclo, espécie de homem baldio, semi-nômade, inadaptável à civilização..."
A polêmica é grande, os saudosistas ficam indignados. Mas Rui Barbosa também se refere a Jeca Tatu, "símbolo de preguiça e fatalismo, de sonolência e imprevisão, de esterilidade e tristeza, de subserviência e embotamento". Monteiro Lobato, na quarta edição do seu livro Urupês, se penitencia: "Eu ignorava que eras assim, meu caro Jeca, por motivo de doenças tremendas. Está provado que tens no sangue e nas tripas todo um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte".
"Um país com dois terços de seu povo ocupados em pôr ovos alheios".
Mas isso foi há algum tempo. A Saúde agora está "quase perfeita".
Semana passada, viajando, abandonei a estrada principal e fui por um caminho alternativo. Dei carona a duas mulheres, mãe e filha, a mãe, bem idosa. Já tinham caminhado 5 km desde sua casa e iam para Paty do Alferes, 15 km à frente. Iam a uma igreja católica em busca de uma bolsa de compras.
- Como vocês irão voltar? Aqui passa ônibus?, perguntei.
- Vamos voltar de carona. Não temos dinheiro para o ônibus.
Perguntei qual a plantação que tinham no sítio. Responderam que era uma horta. Fiquei imaginando o tipo de horta. Teriam feijão, milho, mamoeiros, bananeiras, aipim? Teriam algumas galinhas? Achei que não haveria nada disso e provavelmente as duas teriam complexo de Jeca Tatu, o indolente que fica pitando seu cigarro de palha à porta da maloca.
- E quando vocês têm problema de saúde?
Nesse caso iam a Andrade Pinto, um pequeno povoado distante 2 km, em sentido contrário. Mas no Posto de Saúde quase nunca haviam remédios para dar. Lá não se resolvia nem uma gripe, disseram.
Nesse dia eu estava meio pachorrento, pouco palrador, e nem me ocorreu perguntar em quais políticos votavam. Vocês sabem, esse pessoal sempre vota, por uma questão de gratidão. Perguntei também se não tinham o Bolsa-Família. Disseram-me que haviam pedido mas que o cartão ainda não tinha chegado. E eu fiquei pensando na propaganda do governo: "Brasil, um país de todos". Por certo não dessas duas brasileiras.
Que inveja dos bolivarianos!

Há uma diferença semântica entre mim e Lula: enquanto eu não gosto da palavra democracia ele não gosta da democracia mesmo.
Desde 1988, quando me candidatei a vereador na minha cidade, meu discurso tem sido o de desconstruir o termo democracia, para a contrariedade dos dirigentes do partido.
Ninguém sabe o que é democracia. Quando eu "colaborava" com a Justiça Eleitoral, trabalhando em uma seção eleitoral, apareceu um cidadão querendo informações de onde deveria votar. Eu não tinha como saber, mas ele insistiu, como se eu fosse o alcáide-mor da região. Por mais que eu explicasse que estava isolado naquela seção sem as informações que ele desejava, não se conformava. Por fim, muito irritado, decidiu ir-se, não sem antes me dizer muito "ironicamente": Muito obrigado! O senhor é um grande democrata!
Para alguns, democracia é quando eu mando em você; se você manda em mim é ditadura. Muitos gostam também da democracia da raposa que possui a chave do galinheiro. Eu acho que se torna muito difícil saber o que significa a palavra democracia desde quando se diz que na Venezuela, por exemplo, há democracia até demais. Esta democracia se espalha por outros países bolivarianos onde se fecharam ou ainda se intenta fechar jornais e televisões desalinhados com a opinião do governo.
A democracia, aquela do dicionário, aceita a palavra oposição. Lula gosta de bola no pé e goleiro amarrado. Pra que essa oposição "imbecil"? Uma das definições do vocábulo no Houaiss é: [sistema político cujas ações atendem aos interesses populares]. O sistema político que atende apenas aos interesses do Lula, como se chama? Ah, que inveja dos bolivarianos!
No a la izquierda

Néstor Kirchner e o carrinho de rolimã

Acima das nuvens
Esta exigência de soluções imediatas da figura máxima do governo deveria ser feita também nas demais áreas sob sua tutela.
Mas nada funciona por três fatores principais:
1 – Os orçamentos para cada área são aprovados pela Câmara Federal. Mas na metade do ano os valores são cortados em até 60% dependendo do impacto político que garanta a perpetuação no poder das parasitas que “galgaram” (como gatunos escalando muros residenciais) os postos de comando. Ou mesmo por “ordem” de um abutre estrangeiro que nos coloniza e deseja um superávit alto para reduzir o “risco Brasil”.
2 – Do que sobra para aplicar na área, cada “ortoridade” busca um meio escuso de se locupletar do cargo que lhe foi conferido. Sempre deixam uma “merreca” para comprar uma máquina há 15 anos fora de uso no primeiro mundo, um rolo de arame para amarrar pés de móveis prestes a desabar, ventilador para substituir o ar refrigerado que não funciona há 4 meses e uma “verba” para agradar fiscais que possam contestar condições inadequadas de trabalho.
* Haroldo P. Barboza - RJ/Vila Isabel
O Cara e a Coroa, ficção ou realidade?
- Bom dia, mamãe. Sou eu, seu filho mais velho.
- Qual o problema, para você ligar tão cedo num sábado?
- Nada urgente. Só queria voltar a falar sobre a foto. Lembra? A foto da reunião do G20.
- Filhinho querido. Cá entre nós, quando você trocou Diana por Camilla, pensei que não me daria mais aborrecimento. Agora você quer que eu pose ao lado dele? Assim não dá!
- Mas, mãezinha, trata-se apenas de uma foto. Não vai durar nada. Poucos segundos e pronto. Não vai doer, posso garantir.
- Com tanta gente importante e perfumada, você quer que eu saia ao lado de quem falou mal dos brancos de olhos claros?
- Ora, mamãe, ele estava falando dos banqueiros americanos e não de nós, pobres integrantes da realeza. Até porque, Diana é quem tinha olhos claros, não nós. Ou não?
- Teu argumento terá que ser muito convincente.
- Está bem. Vou contar, porque a culpa é mesmo sua. Por obrigar-me a estudar, descobri que quando protegemos de Napoleão a família real portuguesa em sua fuga para o Brasil, encontramos uma gente frágil, subornável e para a qual Pátria não representa valor pelo qual se deva sacrificar. A partir dessa constatação, tenho usado a mesada que a senhora me dá para financiar ONGs inglesas que atuam na Amazônia e para subornar autoridades brasileiras. Desde o governo Collor faço isso. Não lhe contei antes para não aborrecê-la. Mas papai, que não faz nada, sabe de tudo. Ele sabe até que estive no Brasil na semana em que o STF votou o caso da Raposa Serra do Sol, a fim de dar uma pressãozinha na turma. Tive inclusive que, ridiculamente, sambar. Mas deu certo. O futuro do nosso Reino e a mordomia da nossa família estão garantidos por mais alguns séculos. Agora é preciso demonstrar o nosso reconhecimento aos brasileiros por nos terem entregue uma das províncias minerais mais ricas do mundo. É fundamental que Mr Presidente saia bem na foto. Você nem imagina a repercussão que isso terá no Brasil.
- Barack não ficará chateado?
- Já conversei com ele. Temos uma estratégia. Durante um dos intervalos da reunião, na frente de todos e, principalmente, da imprensa, ele revelará quem é o “cara”. Não esqueça de que os americanos são extremamente profissionais. Aí, estará fechado o circuito. Para completar, mandarei um agradinho para Brasília: uma caixa do nosso melhor scotch. A senhora sabe que, embora tenha cara de bobo, sou muito esperto (só bobeei no caso de Diana).
Sugiro que mamita faça uma pesquisa no google a fim de saber o que representa o nióbio e onde se encontram suas maiores reservas. Verá que estou cheio de razão.
- Ok, filhinho querido. Tudo pela Coroa. Mas, por favor, nunca mais peça nada parecido. Já estou velha demais para tanto sacrifício.
P.S.: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas e instituições reais terá sido mera coincidência. Ou não?
Enquete: Você tem facilidade para reatar amizades quebradas?
Vou logo respondendo à enquete: Não, não reato as amizades perdidas, ou seja, não tomo a iniciativa. Se aquele que me contrariou tiver deixado feridas leves e pedir perdão, posso reconsiderar. Porque eu penso que nunca chamei ninguém de ladrão, quadrilheiro, sacripanta, ou tentei impor à força meus pontos de vista. No entanto a decisão de colocar o fulano no arquivo morto foi sempre iniciativa minha.
Já estive na política mas não emplaquei. A política é, por assim dizer, um submundo. Nela campeiam a delinquência, o crime organizado e a falta de convicções. O inimigo de hoje poderá ser o amigo de amanhã, sem ao menos um pedido de perdão. Uma desculpa por parte do ofensor poderá aparecer para salvar as aparências. O que conta são as forças ocultas (vide caso de Mangabeira Unger, o Confúcio do Planalto, versus Lula).
Eu gostaria de ser posto à prova, ter a chave do cofre sob a minha guarda, ter uma posição de poder, ter brigado com "o" figura e precisar dele para concretizar meus planos de ampliação de influências. Sei que sou honesto para pequenas quantias, mas para arrebentar o cartão corporativo, fazer a farra do avião, andar com dólares na cueca, fazer pacto com o diabo, nunca fui testado.
Por isso é que vejo todo mundo xingar todo mundo, o Lula ao Sarney, o Lula ao Collor, o Collor ao Lula, para ficar apenas nessas figuras, e hoje comem todos à mesma mesa. Pior, ninguém se pergunta o que há por trás desses fatos, aliás, ninguém pergunta nada, apenas acham que o presidente é um tio simpático, que tem a mania de ser engraçado. Abaixo, tirando sarro do Bush, fingindo jogar um sapato.

Gostou? Então clica aqui e escuta mais!
No áudio, a opinião de Lula sobre Collor e sendo profeta de si mesmo. Curiosamente todos os arquivos que contêm a resposta de Collor a esse depoimento foram apagados. Vale ressaltar que com o apoio de Sarney e a anuência de Lula, o senador Fernando Collor assumirá o comando da Comissão de Infraestrutura do Senado, que irá acompanhar e fiscalizar obras do PAC, tendo vencido a disputa com Ideli Salvatti, líder do PT até este ano. E ninguém pediu perdão a ninguém pelas más palavras.
E você, tem facilidade para reatar amizades quebradas, espezinhadas, ou acha que tudo são flores?
Sobre os mais lidos da semana 20-26/abril
Com exceção do Gustavo Dudamel e do Comer tatú, todos os outros posts são frequentes nesta relação, com predominância para Carmen Monarcha, Minha melhor partida de damas e O Presidente Negro. A volta deste último post foi consequencia de tê-lo colocado no Vale a Pena Ler de Novo, comemorando o Dia Nacional do Livro - 18 de abril.
Minha melhor partida de damas é o peixe fora d'água. Com toda a certeza, mesmo estando na relação dos mais lidos, nenhum leitor do blog tem interesse no assunto. Então vou copiá-lo para o blog Shashki, transliteração do russo Шашки, que só trata de jogo de damas.
Algumas pessoas reagiram ao título Gustavo Dudamel, o melhor maestro do mundo, respondendo com Seiji Osawa, Pierre Boulez, Claudio Abbado e outros. Eu simplesmente fiquei empolgado com o trabalho musical que se faz com a juventude venezuelana do qual Dudamel é o resultado mais espetacular. Ele pode não ser realmente o melhor maestro do mundo, apenas uma promessa, mas é um fora-de-série, que sabe o que quer. O atleta Pelé também surgiu como uma promessa.
Quando ouço uma obra sinfônica - e vou confessar minha ignorância -, não me ligo muito naquela figura com uma varinha na mão à frente da orquestra. Com Dudamel é que comecei a prestar atenção no trabalho do maestro, porque assisti aos vídeos de seus ensaios. Ele tem sempre recomendações sobre o desempenho de cada músico. Exige de pessoas algumas com idade de ser seu avô. Carmen Monarcha até hoje não sabe como o maestro André Rieu ouviu sua voz num coro de cem mulheres e a convidou para solista da orquestra.
Para ilustrar, uma piada sobre maestros:
Aquele maestro novato, incompetente, arrogante, incomodava os músicos da orquestra. A uma sua intervenção desastrada num ensaio o timpanista, revoltado, reagiu brandindo seu instrumento:
Gustavo Dudamel, o melhor maestro do mundo

Na última segunda-feira fui ao Hospital do Olho com minha mãe. Ela terá que fazer uma operação de catarata no olho direito; eu aproveitei para trocar os óculos com os quais trabalho no computador. Tenho outro para livros e jornais, mas como pouco leio ele está como novo. Um terceiro me serve para dirigir e ver televisão.
Um pouco antes, ainda esperando minha vez, peguei numa pilha de revistas antigas uma Época de novembro e parei no título "O milagre de Gustavo Dudamel". O nome não me era estranho. "Como um venezuelano de apenas 27 anos se tornou o maior maestro do planeta". Uma reportagem fascinante. Assim que cheguei à casa localizei o endereço com todo o artigo e o li repetidas vezes. Porém Dudamel não é um milagre, senão o produto de uma cultura musical instalada em 1875 na Venezuela e que, em 30 anos, descortinou o mundo da música para 2 milhões de jovens. Aqui no Brasil já tivemos, na escola secundária, o ensino do Canto Orfeônico e da Educação Física, além da disciplina Trabalhos Manuais. Foi tudo para o ralo. Isso é coisa de republiqueta latino-americana. Somos o país do futebol, do samba e, agora, do funk e do pagode.
Apetite voraz
Reparem que o último artigo aqui publicado foi do Haroldo Barboza. Ele me socorre novamente. Aliás, fica definida a terça-feira como o dia para os seus artigos, se bem que ele me envie outros durante a semana. Nunca é demais repetir - o Haroldo transita pela prosa, poesia ou humor com a mesma desenvoltura. Porém minha preferência é pelo estilo contestador apresentado abaixo onde ele desafia os petistas, lulistas, companheiros em geral e corruptos de todos os matizes a mostrarem a cara diante do atual grau de corrupção que grassa no país.
Apetite voraz
Haroldo Barboza
Quem tem esperança (como eu) que alguma entidade respeitável da sociedade venha empunhar a bandeira da cruzada pelo resgate da moralidade pública, mais uma vez fica decepcionado. Como se não bastasse o silêncio de antigos conglomerados de verdadeiros patriotas (agora dominados), neste momento se soma a este contingente a UNE, que na metade do século XX atuava (algumas vezes atabalhoadamente por força da impetuosidade da juventude) na luta pela preservação de algum ideal concreto.
Mas o tempo passou, os líderes foram banidos ou corrompidos e o grupo atual que a integra deve estar sendo afetado pelos efeitos da falta de valores morais e éticos dentro dos próprios lares. A entidade acaba de ser “agraciada” com uma doação (imposto nosso) federal de R$ 10 MI para atender seus projetos”(?).
Desta forma, sem seus membros mais aguerridos para formar opiniões com argumentos saudáveis, quem acredita que ela se manifeste para exigir um processo digno de educação para nossos jovens desnorteados que em breve estarão em idade para começar a produzir projetos úteis à sociedade?
O que vemos atualmente? Trotes em faculdades onde calouros são afogados em piscina. Jovens drogados que queimam índios no planalto central. Médicos jovens (mal formados e mal assessorados) que operam o lado direito do crânio de uma moça que bateu com o lado esquerdo na pia de casa. Residentes que transitam entre o hospital e o restaurante com o mesmo guarda-pó onde vírus se aconchegam.
O processo para desmoralizar poderosas vozes de credibilidade segue em ritmo acelerado. Sobram poucas resistências entre as forças armadas e membros da Justiça. Verbas que deveriam ser aplicadas em programas sociais para aprimorar a nossa qualidade de vida e crescimento real da produção são usadas para farras dos cartões corporativos, mensalões e agrados.
E o exemplo logo é absorvido nas escalas inferiores. O Governador do Rio está pronto para adquirir um helicóptero francês (Carla Bruni fez lobby?) de R$ 12 MI para uso próprio. Este valor daria para manter ativas as unidades de ortopedia que foram suspensas nas UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) nesta 1ª. Semana de março de 2009!
Este descaso com a saúde popular efetivamente representa um ato de traição (este foi seu trampolim eleitoral) que é a característica comum destes políticos que há mais de 20 anos se locupletam com nosso dinheiro na certeza de que nossa acomodação nada produzirá para terminar com a confortável impunidade reinante.
Os freqüentadores regulares das frias filas das madrugadas em busca da vergonhosa senha (já tem mercado negro nisto) estão entregues ao bom humor de seus anjos protetores. Ou ao apetite dos micróbios que infestam os imundos corredores hospitalares. Talvez com uma fome menor do que a dos devoradores de nossos impostos. E de nossas paciências.
Um PAC com Dilma
A Excomunhão da Vítima
(Por Miguezim da Princesa *)
I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.
II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.
III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.
IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.
V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.
VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.
VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.
VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.
IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.
X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.
(*) Poeta popular, Miguezim de Princesa,
é paraibano radicado em Brasília.