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Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

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Aprendendo com a criança (na semana dela)


Em 1960, o diretor comercial da fábrica de brinquedos Estrela no Brasil, Eber Alfred Goldberg, teve a idéia de criar a Semana do Bebê Robusto, em parceria com a empresa de cosméticos e produtos farmacêuticos Johnson & Johnson.
Logo depois, em junho do mesmo ano, seguindo a iniciativa de Eber, outras empresas resolveram criar a Semana da Criança para aumentar as vendas. Faltava apenas escolher uma data e um mês.
Em comum acordo, o comércio instituía, então, o dia 12 de outubro como Dia da Criança, não só para homenageá-la como para estimular a venda de produtos infantis.

Como se vê, é o comércio e a indústria alavancando suas vendas por meio de estímulos na capacidade de se emocionar das pessoas. Tudo muito louvável, desde que ambos os objetivos sejam alcançados.
Falando pelo lado da emoção, temos, mais uma vez, a presença de nosso amigo Haroldo Barboza com sua personalidade de escritor, poeta e pai de família, construindo uma linha de raciocínio a partir de suas observações do dia a dia.


Aos 4 anos de idade, encontrava dificuldades em encaixar os botões da camisa em suas respectivas casas. Até mesmo o deslizamento do zíper em muitas ocasiões causava ferimentos nas pontas dos meus dedos.

Naquela época poucos prédios atingiam 8 ou 12 andares com elevadores. Eu morava num de 3 andares, sem elevadores. E cada degrau da escada quase da altura de minhas pernas lembrava uma pequena mureta a ser escalada ou servir de trampolim para o piso da portaria.

Ao transitar pelas calçadas, preferia caminhar junto às paredes, entre as latas de lixo, que de alguma forma me serviam como barreiras protetoras contra aquelas altas pessoas sempre apressadas, parecendo prestes a me atropelar.

Ao levar o garfo à boca, tinha a impressão de que o mesmo poderia atravessar meu pescoço. O prato de sopa com 330 ml de líquido mais parecia um pequeno balde no qual me afogaria se absorvesse todo aquele conteúdo.

A escova dental me lembrava um enorme espanador, que se fosse esfregada com muito vigor, poderia me arremessar para dentro do vaso sanitário, que a esta altura, parecia um tanque de lavar roupas!

O tempo passou, cresci, fui perdendo alguns medos pela convivência regular com o ambiente. Mas fui adquirindo outros piores, incutidos em minha mente pelas afirmações de dezenas de pessoas carregadas de preconceitos gratuitos ou dispostas a formar minha personalidade segundo um padrão duvidoso de avaliação do ser humano. A vizinha da casa à esquerda dizia que "manga com leite causava úlcera". Só perdi este temor aos 18 anos, quando coloquei esta fruta acidentalmente no liquidificador pensando ser um pêssego. Lamentei o tempo que deixei de saborear esta gostosa vitamina. O vizinho do lado direito dizia que "andar era ótimo para saúde". Por isto me mandou várias vezes ao mercado da esquina me recompensando uma vez por semana com sacos de jujubas. Bem mais leves do que aqueles de 3 ou 4 kg que eu trazia para ele. Se andar era bom, por que ele me incentivava a não correr atrás da bola na praça em frente? Pior era o médico que nos orientava "caminhar na areia" para enriquecer o pulmão. Só não explicava o cigarro entre seus dedos. O dono da padaria me alertava para não brincar com o "Pedroca", pois seu tio estava preso numa cadeia no Nordeste. Será que de lá ele enviava maus fluidos ao meu colega de traquinagens e alguma névoa maligna poderia envolver minha cabeça? Por que na hora de dormir me cantavam o "Boi da cara preta" no lugar de uma sinfonia ou do hino da pátria?

Agora, decorrido mais de 50 anos desta época de sonhos e descompromissos, tardiamente percebi quantas vezes iludimos crianças com fantasias danosas em nome da moral, dos bons costumes e da higiene. Uma maneira talvez acomodada de manter o guri elétrico quieto sem articular idéias construtivas, tais como empilhar 3 ou 4 garrafas de vidro perto da panela de feijão. Por que os adultos preferem inventar um fato assustador para uma ação infantil ao invés de perder 10 minutos explicando as conseqüências de tal ato? Deve ser a pressa de sair para encontrar famílias amigas que marcam reuniões em festas noturnas enquanto seus herdeiros ficam em casa "acompanhados" de vídeos explosivos ou filmes de terror que começam às 21:30 hs e ajudam na formação de jovens desajustados capazes de atirar nos próprios avós em busca de recursos para comprar drogas. No lugar da simples entrega da mesada (cujos gastos não fiscalizamos), tem mais valor a doação de 30 minutos por dia (sou feliz por que fiz isto) ao lado da sua criança amada para orientá-la para sua vida futura na coletividade. Coloca-la a par de questões relativas à limpeza da praça, por exemplo. Bem como explicar porque não devemos ter pombos em gaiolas. Estas mensagens podem ser passadas enquanto se brinca no meio da sala, após o jantar. Deixa-las acompanhar novelas e debates dos políticos enganadores certamente causarão influências negativas em suas personalidades durante a fase de confecção e lapidação de caráter.

Portanto crianças, ainda que vocês não compreendam perfeitamente as sutilezas e indiretas deste texto, tenham pena de nós adultos, que repentinamente entre 25 e 40 anos, fechamos nossos corações para os atos singelos que vocês praticam com tanta naturalidade e os empurramos por trilhas nebulosas da vida. Tenham certeza de que muitos de nós invejamos suas atitudes e alguns até pretendem que vocês se tornem "responsáveis" para deixarem rapidamente para trás este período de pureza e alegria que sedimenta o caráter de cada ser humano. Tenham compaixão de nossos pobres espíritos flagelados e viciados na materialidade, que não percebem como vocês conseguem felicidade tendo um pequeno espaço, dois gravetos, duas tampas de garrafas de plástico, um pedaço de barbante, dois lápis coloridos, uma folha de jornal e um colega para ajudá-lo a materializar sonhos. Mostrem-nos como se idealiza e se pratica um mundo de amizade sem interesses, sem planos maldosos para causar mal ao companheiro que partilha do seu projeto nem tirar vantagem sobre terceiros de forma escusa.

Crianças do mundo: salvem este planeta enquanto é tempo. Vocês não precisam gritar, marchar em bandos nem portar armas para isto. Apenas sentem-se, ergam seus braços para nos receber com perdão e abram bem seus olhos, que se tiverem lágrimas, refletirão com mais beleza a pureza que vocês armazenam no coração!

Ajudem-nos a eliminar o egoísmo que nos arrasta para o abismo da insensibilidade regada apenas por interesses avarentos. Forneçam as sementes de amor que brotam em seus corações e devem ser adubadas com pingos diários de respeito, boa vontade para ouvir e solidariedade para ajudar na construção de um futuro melhor para todos nós!

Nós podemos fazer a diferença na verdade do futuro.

Duas armas virtuais letais

Haroldo Barboza

O desejo desenfreado de consumo alimentado pela mídia e a falta de oportunidades para a maioria da população levaram a sociedade a mudar seus hábitos de forma veloz e dolorosa. Talvez o fato abaixo seja um ciclo vicioso que produz seu próprio combustível.

A violência generalizada (na cidade e já chegando no campo) tem retido as crianças em casa. Na maioria das vezes, brincando sozinhas por horas a fio com seus jogos de games, cuja maioria concede pontuação máxima para quem consegue destruir construções virtuais e matar o “inimigo”. Nos intervalos assistem filmes de terror e expedições onde nas batalhas jorra sangue na tela da tv a cada 30 segundos. A gurizada chega a sujar suas vestes com ketchup para sentir-se integrante ativa de cada cena apresentada.

Se as comunidades que pagam impostos e não recebem benefícios em troca fossem suficientemente engajadas no sentido de preservar as cabeças em formação de seus herdeiros, fariam pressão adequada sobre as emissoras para mudar os horários destas películas. Se um décimo da turma que se reúne na Rua Alzira (RJ) para idolatrar a seleção de futebol tivesse ânimo para debater os problemas do bairro a cada três meses, com certeza as nossas autoridades passariam a ter outra postura.

Como também solicitariam que os produtores de games criassem jogos onde a pontuação máxima fosse concedida aos que salvassem vidas, construíssem prédios seguros, evitassem acidentes de trânsitos e tantas outras situações carentes de nosso cotidiano.

Aí sim, estes entretenimentos também passariam a ter caráter educativo. Com certeza seriam reduzidos os casos de jovens agredindo parentes para obterem recursos para consumo de drogas. Ou para comprarem armas e atirarem nos colegas da escola. Bem como brigas entre torcidas de futebol, portas de boate, trânsito.

A não ser que o objetivo seja mesmo eternizar o ambiente guerreiro que envolve o mundo para que as armas encalhadas em enormes estoques sejam negociadas em grande escala e não percam seus prazos de validade.

Nossa sociedade é um colosso! Já passamos do fundo do poço!
Referendo de sucesso será o que permitir expurgo no Congresso!
Haroldo P. Barboza - Vila Isabel / RJ - Aulas de Matemática
Autor do livro: Brinque e cresça feliz

Haroldo Barboza já publicou diversos trabalhos, que podem ser encontrados no Recanto das Letras cujo banner se encontra no blog.

O pedreiro da literatura

Faltava aqui a categoria educação. Não falta mais.

Se você achar o texto a seguir interessante leia a íntegra aqui.

Conheça a história de Evando dos Santos, um sergipano radicado no Rio de Janeiro que transformou a paixão pela leitura numa biblioteca comunitária com 40 mil livros.

Trabalhando como pedreiro, Evando dos Santos, um sergipano radicado no Rio de Janeiro, ajudou a construir muitas casas. Por muitos e muitos anos, essa foi sua rotina de vida. Apaixonado pela literatura, em certo dia, Evando viu sua vida dar uma guinada quando ia ao trabalho. Naquele dia, ao deparar com uma pilha de livros em cima do balcão de uma loja, Evando teve a idéia de iniciar outro tipo de construção: a de uma biblioteca. Foi assim que surgiu a Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Menezes, no bairro Vila da Penha, na capital do Rio de Janeiro. Segundo ele, nela o lema é dizer sim à cultura e não à burocracia. Lá, o usuário pode pegar quantos livros quiser e devolvê-los quando bem entender. Caso não devolva algum, não há problema: se ficou com ele é porque gostou, e isso é um bom sinal.

Não dá vontade de chorar?

Fundada em 1998 com apenas 50 livros, a biblioteca conta hoje com um acervo de 40 mil exemplares. Para chegar a esse número, as dificuldades enfrentadas foram grandes. Muitos livros foram transportados por Evando de ônibus, sob o escaldante sol carioca. Além disso, o fundador da biblioteca teve de superar mais um problema, o preconceito. “As pessoas acham que sou desqualificado para lidar com livros porque tenho um ‘intelecto não lapidado’, ou seja, não sei escrever”. Mas a palavra desanimar não faz parte do vocabulário de Evando. Apesar das dificuldades, ele conseguiu montar e expandir a biblioteca em um curto espaço de tempo e conquistou o apoio de gente importante, como Oscar Niemeyer, que, sensibilizado com a história de Evando, deu-lhe de presente o projeto arquitetônico da nova biblioteca, que deverá ser construída em breve.