Lugar_RSI

AvatarLugar do Real, do Simbólico e do Imaginário
Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

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A cinco meses ou há cinco meses?


Aqui neste blog você encontrará pequenos erros: a troca de x por s, de z por s, e vice-versa, e até equívocos de acentuação, que ainda não me adaptei à reforma ortográfica e, bem antes dela, acentuação sempre foi meu calcanhar de Aquiles. Erro de digitação não pode me justificar já que reviso tudo que escrevo.

Agradeço a quem encontrar uma distração minha, nessas mal traçadas linhas, avisar-me "discretamente", sem expor minha ignorância à execração pública.

Dia após dia me deparo na internet com maneiras erradas de tratar o vernáculo. A ocorrência mais frequente é a confusão entre o modo de se referir a fatos passados e a acontecimentos futuros. É comum lermos, mais em comentaristas de blogs: isso aconteceu a muito tempo. Ou ainda: isto acontecerá daqui há dois anos. Explicação definitiva: passado - isso aconteceu há muito tempo -, usa-se o verbo haver. Futuro: isto acontecerá daqui a dois anos - usa-se a preposição a.

Eu tenho muitas dúvidas a respeito da "última flor do Lácio, inculta e bela", o problema é não tê-las. Se você tem dúvidas sobre o tempo de um verbo, regência verbal, etc, tudo se encontra na internet. Por exemplo: sobre a cedilha há coisas interessantes. No castelhano antigo Cícero soava Kíkero, então foi colocado um pequeno Z por baixo do C para abrandar-lhe o som. Este Z passou a ser chamado zedilla e, posteriormente, cedilla e depois adicionado à letra sob a forma de uma vírgula. Em 1536, Fernão d'Oliveira, nosso primeiro gramático, ainda escrevia "çidadão" e "Çíçero", prática criticada em 1576 por Duarte Nunes de Leão, que recomendava usar cedilha apenas antes de A, O e U.
No entanto, alguns blogueiros ainda escrevem criançinha como diminutivo de criança. Lamentável!

Tenho insistido na publicação de posts enfatizando a diferença entre há muito tempo e daqui a algum tempo. É tudo uma questão de raciocínio. Há pessoas que se confundem no emprego de uma simples crase. A crase é a contração da preposição a com o artigo a. Por exemplo: entrega a domicílio. Domicílio é masculino, então não há crase.

Entrega a domicílio encerra outra polêmica - alguns "puristas" da língua inventaram a entrega em domicílio, do mesmo modo como trocaram risco de vida por risco de morte. Achei a explicação definitiva no Recanto das Letras. E continuarei entregando a domicílio. Mas quem quiser pode entregar em domicílio, é uma questão de interpretação.

Isto posto e decidido a dar minha contribuição para que as pessoas evitem falar e escrever coisas como "estou meia perdida (mulher)" e "estou usando menas quantidade", deixarei aqui no blog, na primeira sidebar, alguns pares de termos onde um, erradamente, é usado no lugar do outro.

Para mais exemplos pode clicar em Revista Língua Portuguesa, de onde saiu inclusive a ilustração acima.

Vale a pena..., ou não?

As "subtilezas" do idioma (um amigo gostava de falar assim)

Em inglês se diz: "Work is what makes life worth while". 
Trabalho é o que faz a vida valer a espera, ou ainda, o esforço. No entanto a expressão corrente em português, também em espanhol, é: "trabalho é o que faz a vida valer a pena", ou seja, você é condenado e a pena é compensatória. Em francês se diz "valoir la peine".

Como podem ver, algo restou da Torre de Babel, não só nesta expressão como em muitas outras. Os diversos idiomas guardam uma relação muito estreita. Porém eu não gosto desse modo pelo qual as pessoas se referem a coisas prazeirosas prazerosas. Por exemplo, quando alguém diz: Vá assistir ao recital de violão do virtuose fulano; vale a pena. Seria como dizer, vale o castigo.

E quando se diz, perdi uma boa oportunidade, foi uma pena. Ou ainda, que pena! Que pena seria essa? Seria um castigo leve? Faz sentido.

Mas isso ainda não é tudo. Quando uma veneranda senhora, digna dos maiores encômios, falta a um compromisso o respeitável cidadão lhe diz: "A senhora me deixou na mão". Todos entendem do que se trata, mas degustem cada palavra. Não parece estranha esse história de deixar na mão? Mas ninguém malda. É o enriquecimento do idioma pela participação popular. 

Jeito novo de dizer coisas velhas

Duas manchetes ocasionaram este post.
Primeira - Evo recusa a mediação do Brasil e deixa Lula irritado. Mas é claro, Lula quer viajar no seu índice de aprovação e o Evo Morales jogou água no seu chope. Já no episódio do resgate da Ingrid Betancourt Lula perdeu uma grande chance de se projetar na América Latina, mas não quis desagradar as FARC, parceira no Foro de São Paulo.
A outra notícia é sobre o recorde histórico do índice de aprovação de Lula, o que me faz acreditar que o Brasil não tem solução, estamos descendo a ladeira. Estamos entregues a uma horda de analfabetos e de oportunistas. Por certo, quem aprova Lula e não é analfabeto, tem tudo para ser oportunista, é um dos companheiros.

A imprensa resolveu, agora, que todo recorde tem que ser histórico, o que é uma evidente bobagem. Alguém me diga a diferença entre recorde e recorde histórico. A diferença está apenas no grau de pavonice, relativo a pavão. Mas a palavra pavonice não existe, melhor seria dizer pavoneamento. Reparem que eu não falei em parvoíce, mas o termo bem que podia ser empregado.

O brasileiro dá a vida na arte da imitação, da macaquice, e o rádio e a televisão contribuem para isso. Não há comercial onde não te peçam ou comuniquem o telefone DE CONTATO. Pelo que sei outra não é a finalidade do telefone a não ser contatar as pessoas. Mas é muito inteligente dizer telefone de c-o-n-t-a-t-o.
Se algum dia eu for entrevistado na televisão eu vou falar tudo aquilo que os famosos vomitam lá com pose de intelectuais, começando com o termo "gratificante", "prazeroso" e que tais. Só uma coisa não gosto e me policio no sentido de evitar - é o paroxítono arrastado. Pode até ser acentuada uma outra sílaba, mas a preferida é o paroxítono, para ver se pega no tranco. Reparem que, do Oiapoque ao Chuí, todos se demoram no paroxítono. Por repetitiva, essa maneira de falar se torna enfadonha, pelo menos para mim. Há quem goste. Quando ouço no rádio um programa onde o entrevistado se esmera no paroxítono eu até mudo de estação.

Quando eu escrever alguma coisa errada aqui, em relação ao idioma, podem cair de pau em cima. Eu, humildemente, riscarei a palavra errada e a substituirei pela correta. Só não vou abdicar do direito de eriçar os cabelos à vista ou audição de certos equívocos. Ainda ontem eu ouvia um programa esportivo e o bravo jornalista dizia que o jogador Fulano, recém-contratado, e que iria estrear, estava em completa ansiosidade. Muito justo, ele estava ansioso então estava com "ansiosidade". Entrou a entrevista com o jogador e em off alguém advertiu o jornalista: - Cara, você falou, no ar, uma grande merda.
Ao final da entrevista ele voltou a se referir ao jogador e disse que este estava com grande ansiedade, e vida que segue.

E a conjugação do verbo optar? Aquele cidadão dizia: - Não tem problema, você OPÍTA (acento no i) por trabalhar mais um ano.
Esse cidadão também optou por aprovar o governo Lula. Há pessoas que pecam pelo excesso. Para mostrar erudição empregam o "s" onde ele não cabe. O Lula, ao contrário, é um emérito comedor de esses e de erres. Petóleo - não há jeito de dizer petróleo. Segundo o José Simão, ele tem a língua presa.

Mas eu também tenho meus problemas, às vezes não acho o termo correto ou a locução adequada, então opíto (êpa) opto por um sinônimo ou uma expressão equivalente. Mas não chego a fazer como o dirigente paulista Mendonça Falcão, que também trabalhou na antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos):
- "A reunião será na sexta-feira", disse, ditando um memorando à secretária.
- "Dr. Falcão", esta lhe indagou, "como se escreve sexta-feira"?
E ele, dirigindo-se a um outro subordinado: - Demitam essa incompetente e vamos fazer a reunião na quinta-feira.

Blogagem coletiva - como estou escrevendo?

Campanha pelo português correto em blogs
Hoje tenho o compromisso de fazer três posts. O primeiro já cumpri, vamos ao segundo que, embora pareça fácil, vai me obrigar a algumas pesquisas.

Quando eu leio os blogs de alguns amigos e me deparo com algumas distrações eu fico um tantinho balançado. Eu gosto tanto dos meus amigos, por que eles cometem esses pecados? Eu compreendo que não se trata de nenhum pecado mortal, mas as pessoas podiam ser mais cuidadosas ou correr atrás. Eu, que tanto falo desses detalhes, fico arrasado quando deixo passar um erro. Mas eu consulto meus pais dos burros e fica o dito pelo não dito.

Eu sei que meu blog é pouco lido, do contrário estariam eliminados alguns deslizes de quem escreve. Deslize é com "s" ou com "z"? Por que esse idioma que eu amo tanto me maltrata dessa maneira? Algumas vezes tenho focalizado essas questões aqui no blog e vou enfatizar o que tenho dito - há três anos (já passou), daqui a três anos (é futuro).
Deu pra entender ou entenderam sem dar?

Outra questão, - a crase. A crase, entendam, é a contração da preposição a com o artigo feminino a. A propósito - propósito é substantivo masculino, não existe o artigo feminino a, não há crase. Em dúvida substituam o substantivo feminino por um masculino. Se pedir o artigo então haverá crase.
Resta saber qual é a regência do verbo. Reduza a velocidade - reduza não pede preposição, então esse a é apenas um artigo, não há crase.

Outro cavalo de batalha é o emprêgo da conjunção subordinativa condicional se mais o advérbio de negação não - se não, confrontado com o uso da Conjunção adversativa e preposição senão.
Fiquem espertos. Qualquer pesquisa no Google senão/se não vai tirar todas as dúvidas.
Não quero aqui enquadrar o emprêgo do miguxês, muito encontrado no Orkut e até em alguns blogs sob a forma EU TE ADD, VOCÊ ME ADD. Mas para esses não há solução, o fogo do inferno já os aguarda.

Vamos ao terceiro post. Vai ser chumbo do grosso.

Dando o melhor de si

Eu não votei na minha enquete, "se esqueci". Depois volto ao assunto. Se o tivesse feito teria escolhido os ítens 2 e 3. Sou visceralmente contra o voto nulo. Quando se vota nulo lavam-se as mãos mas não a consciência. O dono do voto clientelista irá agradecer de todo o coração.
Na primeira eleição do Lula, diante de duas porcarias, Lula e Serra, preferi votar no barbudo. Entre o diabo e o coisa ruim prefiro humanizar o inferno. Sei que fracassei, é do jogo.
Faltando 2 dias para o encerramento, a enquete apresenta 29% para o voto nulo e 50% para as propostas de governo. Depois de iniciada a votação verifiquei que não poderia modificar quaisquer ítens da enquete. Gostaria de modificar o ítem 5. Quero ver as propostas de governo por Você acredita em Papai Noel? Que me desculpe a maioria que botou suas fichas nessa aposta, mas a coisa tá feia. Promessa de candidato não é mole não. Melhor acreditar em praga de madrinha.
Eu prefiro não reeleger e destruir as empresas familiares instaladas na política.
Agora voltando ao assunto do "se esqueci" quero dizer que é uma brincadeira com os rumos que toma o lusitano idioma. Há muito verifiquei que o esporte, seus praticantes e comentaristas estão contribuindo, não com novos verbetes, mas com novos significados para o linguajar do dia a dia. A palavra jóia, que eu conhecia como substantivo comum, virou interjeição significando excelência. Valeu!, sem sujeito e sem objeto direto, ficou no lugar de muito obrigado!
Os comentaristas, por dá cá aquela palha, dizem: - maravilha! ou, ainda, "maravilha, então...", o que não quer dizer absolutamente nada.
Eu me lembro agora daquele colega de escritório que usava abusivamente o chavão: - quer dizer que não quer dizer nada?!
E, chegando ao ponto, é de chorar ouvir um atleta dar uma entrevista e dizer: - Vou dar o melhor de si!
Quero enfatizar também o assassinato da regência verbal. Um certo dirigente de um clube do Rio, quando era repórter esportivo, abusava do "ouvi de que", "soube de que", falou de que". Introduziu a moda do "de que", que hoje é coisa tida como o melhor do vernáculo. Conheço um apedeuta que aprendeu direitinho.

Produção é a palavra de ordem

Vocês já devem ter ouvido falar em dar produção. Há trabalhadores que faturam, não por trabalho bem feito, mas por quantidade, por quilometragem.

Quando comecei a trabalhar em programação de computador me apresentaram à máquina perfuradora de cartões, aqueles mesmos que se perfuravam com um estilete nas casas lotéricas quando surgiu a loteria esportiva. Algumas vezes, quando o programa era pequeno, eu mesmo digitava os cartões, caso contrário o rascunho ia para as digitadoras. E elas ganhavam por tarefa, davam produção, e deixavam passar alguns errinhos.

O método para a correção era posicionar o deck de cartões entre alguns cartões JCL (job control language) e tentar compilar o programa. Quando recebíamos a listagem lá estavam as error messages, cartão por cartão. E nas máquinas perfuradoras redigitávamos os cartões errados. Quem era mais esperto duplicava o cartão até chegar no erro, corrigia e seguia duplicando. Era mais rápido. O passo seguinte era executar o programa e tentar descobrir porque o idiota do computador não finalizava as tarefas que tão diligentemente lhe havíamos passado. Mas isso é outro capítulo.

Há muito profissional que dá produção - jornalistas, escritores e... blogueiros.
Um tio me contava que Balzac, aquele da mulher de trinta, escrevia alucinadamente; numerava as páginas e as jogava, por cima dos ombros, para trás. Depois juntava os cacos, revisava e saía pros abraços. Quantas vezes não vemos, no prefácio de um livro, os agradecimentos de um autor à esposa, a uma equipe, aos filhos pela colaboração na revisão da obra. É um trabalho insano.

O pensamento é sem dúvida mais rápido que a luz, quanto mais se comparado aos dedos. Na ordem para escrever a palavra TAMBÉM, quando a letra B é enviada os dedos ainda não escreveram o M. Então fica TABMÉM. Assim acontece nas frases. O cérebro envia a palavra e os dedos perdem a palavra anterior. Não outra explicação. Desculpem, não há outra explicação.

Hoje li uma palavra que detonou toda esta glossolalia: "Você é um [membro da família] Fulano. Haja como um".
Meu Deus, seria esse haja a terceira pessoa do singular do imperativo afirmativo do verbo AGIR? Impossível. Seria o verbo HAVER na mesma pessoa e modo? Não vejo sentido. Uma comentarista do texto foi até cruel. Disse que o autor havia comido mosca e tinha inventado um verbo novo. Haja Deus, arrematou.

Não se brinca com o verbo haver impunemente. Tenho aqui gasto o meu latim tentando explicar aos meus cinco leitores que usa-se o verbo haver quando se trata de tempo passado (há algum tempo aqui estivemos) e a preposição a, quando se trata de tempo vindouro (daqui a três anos, ela se formará). Quando sair a unificação ortográfica as coisas ficarão bem piores.

Lula participou nesta última sexta-feira, em Lisboa, da abertura da VII Conferência de Chefes de Estado e de governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Entre os assuntos em debate está a expansão do ensino da língua portuguesa. Vocês me entendem, o Lula é que foi tratar disso. Não vai dar certo.
E como diria o José Simão, eu perco o companheiro mas não perco a piada. Depois a culpa é de quem dá produção.

O professor, o estudioso e o intuitivo

Essa placa está na sede do município de Ituberá, Bahia. E dizem que baiano burro já nasce morto. Na verdade ele pensa como um poeta, mas escreve como um troglodita.

Há crítica para tudo. Antes do advento do "Sonhar com Rei Dá Leão", quando a escola de samba Beija-Flor começou a se transformar no bicho papão do carnaval carioca, haviam uns enredos muito sobre História, e os críticos diziam que a agremiação devia abandonar aquele ranço de "professor". Palavras deles.
O candidato à presidência da república na eleição passada, Cristovam Buarque, que ficou conhecido pelo seu apelo para a necessidade de se dar um choque de educação no país, recebeu o epíteto de candidato de uma nota só.
Não se dá o devido valor à educação nestepaiz. Há indivíduos, que se "deram bem", que se vangloriam de serem analfabetos e fazem troça dizendo que os "doutores" estão a seu serviço. É a carroça puxando o burro, é o rabo balançando o cachorro.

A língua portuguesa nos coloca muitas armadilhas. Algumas delas podem ser contornadas com um mínimo de raciocínio, outras apenas os bancos escolares dão jeito. Em certos trechos da estrada, quando eu viajo, está lá aquela placa dizendo: Reduza a velocidade. Certíssimo. Mas o meu alter ego brinca comigo lendo assim: Reduza à velocidade, com crase, que é muito como os sem noção escrevem por aí.
EletrEcista, ManEcure, CoMCerta geladeira, ESclusivo, Vende-se TAUBA, Loja das bolÇas, estas são algumas da placas que se vêem em uma página de um engenheiro, que fez o site para "mostrar o grau de educação do nosso povo e o quanto estamos longe do nível mais básico de sermos lidos e entendidos".
Placas erradas é um bom site para quem gosta de publicar coisas bizarras.

Tenho um livro sobre jogo de xadrez que diz logo nas primeiras páginas: atacar, defender, esperar, quando? onde? como?
As disciplinas escolares são bem assim - uma confusão total. Na matemática certos alunos não conseguem fazer uma simples transposição dos termos de uma equação, o básico 2x - 1 = y + 4, onde y é igual a 3. O problema do pessoal que odeia matemática é querer aplicar a adivinhação, a decoreba, ao invés do raciocínio.
Eu confesso que, no colégio, meu Waterloo sempre foi a Física, nas suas modalidades Dinâmica e Termodinâmica. Conseguir colocar no papel a relação entre as forças, a análise dos movimentos, a troca de calor, para mim sempre foi muito difícil.
Eu tinha um professor em Barbacena que propunha questões altamente cabeludas nas quais, à exceção dos gênios, quase toda a turma "boiava". Depois ele dava o bizu na maior tranquilidade: - Simples, Qp = Qg, calor perdido é igual a calor ganho.

Existe nos blogs, nos foruns, no Orkut - mas no Orkut é baderna mesmo - a mania de se escrever "a muito tempo" com referência a fatos passados, quando o certo é "há muito tempo" - olha o meu ranço de professor. O que está na foto abaixo é apenas uma barbaridade. Para uma relação futura de tempo ou para se quantificar distâncias usa-se a boa preposição "a".
Estou aqui pensando num modo de encerrar este post. Eu poderia propor um meme cultural, um selinho com a alternativa errado-certo, por exemplo, exitar-hesitar, ou, para usar o que foi aqui mencionado, muito tempo-daqui a pouco.
Porém digamos que eu leve para uma das comunidades do Orkut, a república das sintaxes anarquistas, um tópico novo - Qual foi o êrro mais estapafúrdio que você já viu na internet?
Eu poderia ficar decepcionado - ou a maioria poderia não estar nem aí para por reparo em textos errados... ou não saberem o que significa estapafúrdio. Eu tenho humildade para ir ao pai dos burros.

Deus deu a esse cidadão bem mais do que ele merece.

Seu Lalo, 12/Setembro/2006

Última flor do Lácio (republicação)

Estou há mais de um mês sem produzir aqui no Seu Lalo. Aproveito o fato de ter comentado num blog sobre o uso de uma expressão errada - uso esse proposital - ter sido tomado a sério por leitores que acreditam em letra de forma. É costume dizer-se: deu no jornal! Não quer dizer que seja verdade, embora se diga que o que a televisão não dá, não aconteceu. No jornal e na televisão também se erra; os brutos também amam.
Num texto intitulado "Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa" escrito por Murilo Badaró, membro da Academia Mineira de Letras, li: "Lamentavelmente, o desprezo pelo bom uso da língua é mais notável entre aqueles que, por dever de ofício e posição, deveriam ser os primeiros a esmerar-se no seu trato. O mau exemplo prolifera e produz seus efeitos maléficos em meio do povo, este mais susceptível de acolher os barbarismos e os solecismos que infestam a fala e a escrita dos nossos dias".

Algumas pessoas se reuniram para consertar a língua portuguesa. Não se corre mais risco de vida, sério, agora é risco de morte. Trocaram seis por meia dúzia. Não se entrega mais à domicílio. Todos entregam em domicílio. Para não falar no engessamento da concordância verbal: todos os verbos pedem de que. Ouvi de que, soube de que, tomei conhecimento de que, é a cultura do de que.
E cuidado com os advérbios! Não é "menas" verdade que eles não são usados corretamente. O exemplo clássico é: "ela estava meia cansada".

Termino deixando um belo soneto de alguém que era do ramo - Olavo Bilac

Última flor do Lácio

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!