Hoje respondi a uma mensagem do Facebook onde se falava de uma criança prestes a nascer e que se sentia pequena e desprotegida. Deus lhe providenciaria um anjo protetor a que ela, dali em diante, chamaria de MÃE.
Tive um anjo assim. Ele me protegeu até que cheguei aos 70 anos de idade. É muita proteção. Às vezes atrapalha.
Em 1958, com 18 anos, fui para Barbacena, para a gloriosa Escola Preparatória de Cadetes do Ar. Quando o trem começou a deixar a gare da Central do Brasil, naquele tempo haviam trens, a mãe chorou.
Passados 45 dias, tempo de rever a família, peguei o trem de volta. Mas é chegada a hora de regressar. Peguei um trem de subúrbio em direção à Central do Brasil. Quando cheguei, horror, constatei que tinha sido pungueado. Estava sem a carteira e nela estava a passagem do trem para Barbacena.
Perdi também uma foto inesquecível onde, muita criança, eu ostentava um bonito relógio de pulso. Voltei para casa. Os amigos depois me recriminaram: Por que não nos procurou? Faríamos um cunegundes (acho que foi isso o que eles disseram) e compraríamos a sua passagem.
Voltei no dia seguinte. O trem era um transporte muito bom mas era muito lento. Quase não chego. Mais um dia, cheguei no capitão Dário para justificar o meu atraso. Contei o sucedido, tudo bem.
Mas então entrou o anjo protetor. Nunca soube se foi iniciativa do pai ou da mãe, mas o caso é que resolveram enviar ao comandante Dário um telegrama contando uma história completamente diferente da minha.
Chamado à sala do comando dos alunos foi-me entregue o telegrama. Fiquei branco, amarelo, azul, mas sustentei o real motivo do meu atraso. Eu já era muito homem, o resto era mamãezada e papaizada...
Quando passei no concurso da Aeronáutica, eu mesmo vi. Os resultados saiam no Diário de Notícias. Os quadradinhos com os sobreviventes vinham cada vez menores. No último deles meu número persistia.
Na Engenharia também foi comigo. Vi lá no painel o meu nome, mas fiz cara de triste para me livrar do trote. Já quando fui para a Petrobrás a mãe me levou a notícia lá na barbearia do Alberto. Achei que ela é quem tinha entrado para a Petrobrás. Estava muito feliz.
Já passei muito sufoco, que nem vale a pena recordar. Minha mãe sempre me segurou. Quando eu a levava para consultas médicas a danada me surpreendia, tinha marcado consulta para mim também.
Há dois anos meu anjo se foi. Há dois anos não compareço a uma consulta médica. Cuide-se, seu Lalo, seu antivirus da vida está vencido...
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