Hoje fui passear na Serra Gaúcha... sentado na minha cadeira, vendo fotos no Google Earth e visitando páginas de vinícolas que produzem vinhos que gostaria de ter na minha loja, a Leiteria da Serra. Mas há um pequeno problema: quem gosta de bons vinhos procura comprá-los na capital, onde há mais opções de escolha porém nem sempre bons preços. Vi numa loja do Rio um vinho igual ao que tenho, Jota Pe, tinto suave, custando quase 40% além do meu preço. Na mesma loja uma garrafa da cachaça mineira de Salinas, a Anísio Santiago, custava R$ 320,00. Vi essa cachaça em Paracambi por R$ 260,00. No distribuidor deve custar míseros R$ 160,00. E, pegando o mote do poeta Nicolau Tolentino, digo que, em havendo algum dinheiro, irei descobrir que bálsamo dos deuses encerra essa beberagem. No post seguinte, como este blog acolhe também os poetas (e muitas das vezes os loucos e os inimputáveis) publicarei um seu soneto.
Na minha loja eu tenho que administrar diversas situações. Entrou um freguês(?) pedindo Galiotto. Não tenho. Já tive, mas como se tornou um vinho banalizado - qualquer mercearia tem, e com um poder de compra bem superior ao meu, podendo vender mais barato - desisti. Sugeri o Jota Pe. Perguntou o preço. R$ 6,65, respondi. E ele: hum! quase o mesmo preço do Galiotto. Como se dissesse: quase o preço de um vinho superior.
O vinho Galiotto é um vinho comum. Sua página não me mostrou nada de excepcional. Já a Vinícola Perini, que produz o vinho Jota Pe, a nível popular, produz também os vinhos varietais - merlot, cabernet sauvignon, tannat, carmenère, barbera, etc. Sem comparação.
Mas eu não sou o rei da cocada preta, vendo também um vinho para o povão. É o Vanisul, de barril, que eu envasava em garrafas pet de dois litros. Mas o governo, defendendo o consumidor, proibiu esse transporte de vinhos em barrís, ou em bombonas. Agora o vinho já vem engarrafado de fábrica. Dois litros, garrafa virgem, com rótulo e tampa lacrada, tudo em defesa do consumidor que, agradecido, está pagando alguns centavos a mais por tamanha bondade do governo.
E eis aí o freguês(?). Sinceramente, quem tem um freguês do tipo não precisa de inimigo.
- E aquele vinho de barril? É para a minha esposa. Mas eu queria provar...
Naquele tempo ainda havia vinho a granel. Havia como dar prova. Ele bebericou, olhou o teto, olhou o chão, observou a umidade relativa do ar e concluiu:
- Não vou levar. Está com um gosto esquisito.
Eu tive uma namorada que usava uma expressão nova para mim: esquési. Ela gostava de sapato esquési, blusa esquési, caderno esquési, etc... Ela tinha 14 anos e eu 19. Eu achava um escândalo essa diferença de idade, quase uma pedofilia. Mas quando eu cheguei aos 26 anos namorei uma menina de 13. Uma abertura excepcional na mentalidade.
Aquela menina, se bebesse o Vanisul, haveria de achá-lo muitíssimo esquési.
O freguês(?) - Deus me livre desse tipo de freguês - continuou:
- Minha senhora não vai gostar desse vinho. Ela tem um gosto muito apurado!
Não é interessante? Uma senhora com um gosto tão apurado e o marido procura um vinho de R$ 7,00 dois litros.
Seguem os versos do Nicolau Tolentino. Aguardem a publicação das vinícolas que visitei hoje. São vinhos modestos. Nada de Romanée Conti. Aliás, sobre este vinho de dois mil reais que o marqueteiro Duda Mendonça deu ao Lula, que grande sacanagem dele. Lula deve ter achado esse vinho uma merda. O Lula tem um gosto muito apurado.