DEITANDO UM CAVALO À MARGEM
Vai, mísero cavalo lazarento
Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento:
Esta sela, teu único ornamento,
Para sinal de minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento (1):
Morre em paz; que, em havendo algum dinheiro,
Hei-de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra terra este letreiro:
— "Aqui, piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno a não morrer de fome"
(1) O vento da fortuna
A expressão em azul foi citada no post anterior.
Nicolau Tolentino (1740 - 1811)
Poeta satírico português, natural de Lisboa. Estudou direito em Coimbra durante vários anos e, em 1767, tornou-se professor de retórica e de poética.
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