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Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

Novaes - A carteira

Encontrei o presente artigo no JB online, pesquisando uma certa carteira do torcedor, objeto do post da autoria de Haroldo Barboza.

Carlos Eduardo Novaes

De férias no Rio o baiano Edvaldo aproveitou para assistir a um Fla-Flu e mostrar o Maracanã ao amigo argentino Juan Facundo. Os dois chegaram em cima da hora, compraram os ingressos e ficaram presos na roleta. O funcionário da Suderj foi a Edvaldo.
– Passa a carteira!
O baiano sabendo da onda de assaltos no Rio pegou a carteira de dinheiro e entregou ao funcionário.
– Não é essa. O senhor tem que passar a carteira de torcedor na catraca.
– Deixei em Salvador. Sou torcedor do Bahia.
– O senhor não torce por algum time do Rio?
– Tenho simpatias pelo Flamengo.
– Infelizmente ainda não temos carteira de simpatizante. No futuro quem sabe? Preciso de sua carteira de torcedor.
– Serve a de sócio do Bahia?
– Sócio nem sempre é torcedor. Quem me assegura que o senhor não é um mutuário, um jogador, um contribuinte, um pedestre querendo se passar por torcedor?
– Quer que eu cante o hino do Bahia?
– Quero que o senhor me mostre a carteira de torcedor. Se não tem vai precisar tirar segunda via. Só que a segunda via como disse o doutor Ministro, é paga.
– Onde é que eu pago?
– No banco! O senhor compra um Darf , vai ao banco, depois junta duas fotos, CPF, carteira de identidade e comprovante de residência. Dentro de uma semana receberá a carteira de torcedor em casa.
– Mas hoje é domingo! Eu quero ver esse jogo! Eu volto para Salvador amanhã.
O funcionário foi perguntar ao seu superior como resolver aquela situação.
– Esta situação não está prevista nos Estatutos – disse ele ao baiano. – Mas vamos quebrar esse galho para o senhor. Vamos lhe dar um cartão de "torcedor provisório".
– Muito obrigado.
– Mas antes o senhor terá que preencher um formulário na salinha do Ministério do Esporte. Fica do outro lado do estádio. Vai logo. Aproveita que a fila está pequena.
– E quanto ao meu amigo aqui?
– Ele é torcedor?
– Ele detesta futebol.
O funcionário retornou ao seu superior para saber o que fazer diante daquele caso não previsto nos Estatutos. Como é que um cara que tem horror a futebol vai ter carteirinha de torcedor?
– Sinto muito, ele não vai poder entrar. A carteira é de torcedor! Se ele não é torcedor não tem direito. É como um titulo de eleitor entende? Se o cidadão não é eleitor para que o titulo?
Edvaldo chamou Juan a um canto, confabularam e o baiano voltou ao funcionário:
– Ele disse que já foi a um jogo do Boca Juniors em Buenos Aires!
– Um jogo? Não basta. O Estatuto diz que para ser considerado torcedor o cidadão precisa no mínimo ter assistido a três partidas oficiais!
Edvaldo apelou:
– Dá um jeitinho aí, meu camarada. Ele veio da Argentina só para conhecer o maior estádio do mundo.
– Vou ver o que posso fazer.
Foi ao seus superior e voltou com uma solução:
– Ele poderá entrar como "acompanhante de torcedor". Mas veja bem ele não terá direito a pular, gritar nem xingar o juiz. Se for apanhado agindo como torcedor será posto para fora do estádio.

Edvaldo nem precisou contornar o Maracanã. Logo ali próximo à entrada havia um cambista vendendo carteiras de torcedor.

1 comments:

17 de março de 2009 às 23:59 Anônimo disse...

Há certas idéias e soluções que são como alguns filmes ruins:

- Tem uma boa apresentação;
- Tem comerciais fortes;
- São ótimos para fomentar o humor e a criatividade.

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