Lugar_RSI

AvatarLugar do Real, do Simbólico e do Imaginário
Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

Um pouco de nostalgia

Há muito tempo sei que o acesso à cultura no Rio de Janeiro se tornou problemático; e a situação só tem se agravado. Naquelas lojas simpáticas onde eu procurava tintas e pincéis, telas e livretos, agora o povo compra remédios e produtos de perfumaria.

Nesta terça-feira saí de casa cedo e já estava no centro da cidade antes das 10 horas. Estava indo para um almoço com os amigos, mas como tinha uma série de coisas para fazer comecei por visitar uma loja de instrumentos musicais. Mas eu estava ansioso, não sei porque. Entrei numa loja nova, tem apenas cinco anos, como a desmentir minha asserção sobre o sumiço da cultura. Na realidade estava procurando a Casa Oliveira, que ainda existe. A Guitarra de Prata fechou as portas. Havia ainda a Casa Carlos Wehrs que comprou a Carlos Gomes; também desapareceu. Nem os dois cinemas da Rua da Carioca resistiram à modernidade.

Um amigo me contava uma história pitoresca a respeito desses dois cinemas. Um deles exibia um cartaz pretensioso: "O melhor cinema do Rio de Janeiro", ao que o outro respondia, também num cartaz: "O melhor cinema da Rua da Carioca". Perceberam a ironia?

Ali perto procurei por uma papelaria. a Casa Mattos, que não existe mais. A Casa Cruz, uma grande loja, do porte da Casa Mattos, pegou fogo e o prédio está sendo reformado. Eles estão atendendo um pouco distante, à Rua dos Andradas e para lá me dirigi ao final do dia. Nas poucas papelarias por onde passei, nenhuma vendia tinta aquarela.

Andei muito, andei muito. E eu já estava à procura de um livro que ninguém tinha. Achei na Livraria Saraiva por 59 reais, dez a mais do que tinham me informado. Na internet achei por pouco mais de 41 reais mais seis e pouco de envio, total, digamos, 48 reais, 4 dias para a entrega. Posso esperar. Muita livraria também virou farmácia.

Nessas idas e vindas passei na rua da Quitanda e como era cedo para o almoço, parei na portaria do prédio onde existia a Veiga Som, onde os aficcionados que gostavam de montar seu som e fazer os ajustes adequados compravam suas peças. Você podia adquirir o pré-amplificados, o amplificador, sintonizadores, equalizadores, etc, tudo separado. Agora as coisas são na base do três em um e se acham no Ponto Frio ou nas Casas Bahia. Ah, sim, o porteiro me informou que essa firma deixou de existir há mais de 12 anos.

O almoço foi muito bom e contou com a presença de dez companheiros. Tínhamos muito o que conversar e assim fomos os últimos a sair do restaurante. Nossos encontros me lembram a Ceia dos Cardeais, de Júlio Dantas, aquela peça em versos onde três senhores relembram os lances da juventude. Em matéria de nostalgia o dia foi repleto. De permeio com o almoço com os amigos houve uma grande busca pelo espírito antigo do Rio onde se respirava cultura em cada esquina.

2 comments:

14 de novembro de 2008 às 14:42 Anônimo disse...

Que sorte, essa que não tenho por aqui...!!!
Geralmente os cinemas daqui acabam virando igrejas "universais".
Os espíritos antigos (de qualquer unidade federativa) foram expulsos ficando (em vez deles) os das lucrativas "correntes da prosperidade". Lá se encontram culturas estranhas até mesmo para quem crê nos livros bíblicos como fonte de inspiração! E quem passa em frente escuta som sem arte, mas com muito apelo. Lojas vizinhas não conseguiriam vender arte ou boa literatura.
Bem, a boa notícia é que o amigo Lailo tem se divertido.
......
Abraço!

14 de novembro de 2008 às 21:45 Anônimo disse...

Tudo bem por aí Luiz?
Gostei muito de ler esse pequeno post,sempre pensei em escrever bem assim como vc. Deu até para sentir o clima nostagilco.
Ab

Postar um comentário

Qualquer mensagem não relacionada à postagem deverá ser colocada no Quadro de Recados e, de preferência, não contendo SPAM.
Anônimo, faça a gentileza de deixar seu nome ao final do comentário