A primeira professôra a gente nunca esquece. Eu me lembro também da segunda, da terceira, da quarta e da quinta. A primeira foi D. Ernésia, uma senhora idosa que residia em uma casa no mesmo terreno onde se situava a sala de aulas. Naquela época não existiam os grandes prédios escolares com inúmeras salas. Ali aprendi as primeiras letras. Lembro as travessuras de uns guris que ainda estão por aí. E só. A segunda professôra foi D. Rodi. Lembro apenas que era jovem e bonita para os padrões de um menino de oito anos. A terceira fica para o final.
A quarta foi D. Clara. Um desastre. Morava no bairro Engenho de Dentro, vinha de trem e chegava sistemàticamente atrasada, quando não faltava. Os meninos ficavam na rua de terra, em frente à escola, brincando de pique-bandeira. Se ela chegava íamos suados assistir à aula, do contrário íamos para casa lá pelas tantas. Resultado, a prova era distribuída pela prefeitura do Município igualmente para todas as escolas e a eles não interessava saber se nossas aulas estavam sendo ministradas ou não; a turma foi reprovada na quase totalidade. Ninguém reclamou e lá fomos nós repetir a quarta série com D. Maria Luísa, a quinta professôra, que não deixou lembranças relevantes.
Finalmente a terceira, D. Celi. Lá pelas tantas páginas do ano letivo ela organizou um caderno, um volume encadernado, onde cada aluno deixava um seu trabalho, qualquer - um desenho, a cópia de uma lição do livro de história, uma redação, etc. Optei por um desenho. No final do ano o volume passou de mão em mão para que cada um visse o conjunto da obra. Eu devia estar então mais alguns passos à frente no desenho, porque então já não me agradava da minha participação. Será que esse caderno ainda existe? O que eu não daria para vê-lo, com os garranchos daqueles moleques e a recordação de um ou outro nome.
D. Celi era uma mulata clara, corpulenta, muito rígida na disciplina e muito séria mas fez a sala explodir em risos certo dia. Numa aula de Conhecimentos Gerais começou a discorrer sobre recursos minerais e citava Minas Gerais. Lá havia ouro, prata e pedras preciosas em abundância.
- Em Minas Gerais abunda o ouro, a prata e as pedras preciosas, quer dizer, tem em abundância.
Eu, com nove anos, estranhei aquela pronúncia mas entendi a lição e fiz minhas anotações. D. Celi foi em seguida comprovar o aproveitamento da classe e perguntou a uma garota:
- Herondina, o que há muito em Minas Gerais?
Herondina permaneceu calada. Achou que tinha o direito de permanecer calada. Só falaria em Juízo.
- O que há muito em Minas Gerais, Herondina?
E ela, pressionada e muito envergonhada, respondeu: - Bunda, professora!
sábado, junho 16, 2007
As professoras da minha infância
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seu lalo
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