Este texto é de Domingos Oliveira Medeiros. Vou logo avisando para que não pensem que conheço Pasárgada. Aliás, conheço sim, essa insinuada pelo autor. Quem não a conhece? É um lugar onde todos se dão bem, basta ser amigo do rei.
Ele fala também de uma Nova Pasárgada, onde tudo funciona ao contrário da terra das facilidades. Você pode ler a íntegra em Usina de Letras. Relevem os erros de revisão.
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Aproveitei o feriado de final de ano e fui conhecer a tão famosa Pasárgada. Peço desculpas ao saudoso Manuel Bandeira. Mas o fato é que, devo confessar, não fiquei satisfeito com o passeio. O lugar não é lá estas coisas. Nada de tão surpreendente. Aliás, é até muito parecido com tantos outras localidades que conheço.
Assim que cheguei na cidade, fui direto para o parque de diversões. Na verdade, fui conferir o que dela falou o poeta Bandeira. Havia, realmente, o pau de sebo, untado de gordura; e que até premiava, com dinheiro, quem conseguisse chegar ao seu topo; só que o valor do prêmio não cobria o valor do ingresso para acesso ao recinto; nem era suficiente para compensar as despesas com lavagem da roupa de quem se aventurasse nele subir.
Encontrei, também, muitas bicicletas para alugar; porém enferrujadas e sem qualquer manutenção; e com os preços de locação impraticáveis para grande parte da população. População, diga-se de passagem, muito pobre e sem esperanças de melhorias. O desemprego era grande. Poucas vagas nas escolas públicas. Muita gente fora delas. E os que estudavam, reclamavam da qualidade do ensino. Havia muitos analfabetos.
Constatei a existência do tal burro brabo, a que se referiu o poeta. Sempre à disposição dos mais ousados, que se dispusessem a montá-lo. A surpresa, em relação ao burro brabo, era o risco de queda, com fraturas de ossos, sem que o valente herói, geralmente da classe menos favorecida, pudesse contar com assistência médica adequada. A rede hospitalar pública deixava muito a desejar. E os hospitais particulares, que aceitavam convênios, não guardava correlação com o poder aquisitivo da população.
Mas não ficava só nisso. A questão da prostituição em Pasárgada era generalizada. Competia, em larga escala, com o descaso e o desrespeito em relação às poucas famílias que ainda preservavam suas crenças e seus valores éticos e morais. Não era à toa que o local registrava grandes índices de pessoas contaminadas com a AIDS, a Sífilis, a Blenorragia e tantas doenças. Até um surto da dengue já começava a se alastrar pela cidade. E havia troca de farpas entre as autoridades. O Monarca colocava a culpa nos governadores, e estes nos representantes municipais. E a população, sem solução, ficava a mercê das doenças.
A imprensa, de modo geral, contribuía para aumentar as incidências daquelas patologias infecto-contagiosas. Fazendo a apologia do sexo pelo sexo. Sexo, como sinônimo de liberdade. Propagavam, como arte, a nudez bem remunerada das mulheres famosas e dispostas a despir-se em páginas de revistas, como se fossem meros objetos de prazer.
As televisões exibiam programas de gosto duvidoso e levados ao ar no chamado horário nobre. Briga de marido e mulher; estrelas e atrizes mostrando para o público, ao vivo e a cores, a cor de sua atual calcinha; a posição sexual de preferência do artista tal, câmaras indiscretas, atores confinados em casas, fazendo absolutamente nada, enfim, a cultura do grotesco, que em nada contribuía para a qualidade e a preservação de valores éticos e morais. E tudo por conta da busca frenética pela audiência, sinônimo de dinheiro. Mas, então, qual o porque de o poeta Bandeira elogiar tanto a cidade de Pasárgada?
O restante do texto está no link Usina de Letras, lá no início do post e seu tamanho é idêntico ao que vocês já leram aqui. E vejam mais, notícia antiga. Li que aos 9 de abril deste ano a Polícia Federal, na chamada Operação Pasárgada, prendeu 48 pessoas suspeitas de participar de um esquema de liberação irregular de verbas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Dentre os presos estão 14 prefeitos, 12 de Minas Gerais e dois da Bahia, um juiz federal da Primeira Instância de Belo Horizonte, nove advogados, quatro procuradores municipais, quatro funcionários do Judiciário, um gerente da Caixa Econômica Federal e um lobista.
Pasárgada às vezes se rebela contra seus achincalhadores.
2 comments:
Curioso...! Mas, eu não achei semelhanças com o que se passa em nosso território nacional - do Brasárgada -, achei não! No máximo, talvez, pelo fato de muitos burros brabos de inteligência terem votado naquele outro que fala e sempre repete: "nunca-na-História, nunca-na-História..."!
Nenhum desses ai "é amigo do rei"
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