Tenho um amigo muito aborrecido. Ele é muito antigo, do tempo romântico, quando se usavam as imagens literárias de Machado de Assis, de Joaquim Manoel de Macedo e de José de Alencar. As palavras novas, o modo novo de falar coisas antigas, isso não é com ele.
Certa vez sofreu muito quando trabalhava na Refinaria Duque de Caxias, da Petrobrás. Foi na montagem de uma nova unidade de refino.
Uma torre que processa determinado produto tem uma grande quantidade de bandejas. Cada bandeja, dependendo da torre, possui 2 metros de diâmetro ou mais e vários orifícios com 10 a 15 cms de espaçamento. Nesses orifícios são colocadas peças metálicas chamadas borbulhadores, que lembram um cogumelo, só que, ao invés de um pedúnculo, possuem três hastes. O trabalho era o seguinte: ficava o operador de processo sobre a bandeja segurando cada borbulhador e um operário (peão, na linguagem usual) , embaixo, com um alicate, dobrava cada uma das hastes do borbulhador e dava ao final sua “senha” de aprovação: “jóia”!
Jóia era a gíria da moda na época. E o pior – toda a torre tinha sido lavada e a água escorria ainda, bandeja a bandeja, pelos orifícios dos borbulhadores e alvejavam a nuca e costas do nosso amigo, tal qual a tortura imposta à Cuca, aquele monstro assemelhado a um rinoceronte(?), da literatura de Monteiro Lobato. Pedrinho amarrara a Cuca e lhe pingava água na nuca, lentamente, para lhe minar a resistência. Não lembro por qual motivo. A Cuca não resistiu. Meu amigo estava até resistindo aos pingos d’água, o que o incomodava era a cantilena “jóia”, “jóia”, após a colocação de cada borbulhador. Distância entre bandejas – o suficiente para andar de quatro, não mais que isso. Seis horas era a duração do turno de trabalho na época. Deu para fazer duas bandejas e um sem fim de borbulhadores “jóias”. Nenhuma Cuca merece.
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