Lugar_RSI

AvatarLugar do Real, do Simbólico e do Imaginário
Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

All Around The World

Barry White e Lisa Stansfield

Barry White possuía um vozeirão (faleceu em julho de 2003) mas cantar com Pavarotti, com Placido Domingo só pelo inusitado, pelo bizarro do programa, como eu dizia no artigo de música anterior. No Youtube pode-se assistir a um video com o barítono colombiano Carlos Ramirez e o “the voice” Frank Sinatra, os dois cantando “Il Barbieri di Seviglia”. Os dois, não. Carlos Ramirez canta e Sinatra faz voz de falsete e alguma graça com aquele humor e domínio de palco que todo grande artista possui. Mas fazer dueto com um cantor lírico, só por brincadeira.
E eis aqui Barry White novamente desta vez com Lisa Stansfield, que é a estrela do video. Barry White faz “apenas” o back vocal. É um video para se ver repetidas vezes, como fiz, para admirar uma grande apresentação desses dois artistas, que ficou melhor do que as interpretações isoladas de cada um da mesma música.





Spoken:
I don't know where my baby is
but I'll find him, somewhere, somehow
I've got to let him know how much I care
I'll never give up looking for my baby

Chorus:
Been around the world and I, I, I
I can't find my baby
I don't know when, I don't know why
Why he's gone away
And I don't know where he can be, my baby
But I'm gonna find him
We had a quarrel and I let myself go
I said so many things, things he didn't know
And I was oh oh so bad
And I don't think he's comin' back, mm mm
He gave the reason, the reasons he should go
And he said so many things he never said before
And he was oh oh so mad
And I don't think he's comin', comin' back
I did too much lyin', wasted too much time,
Now I'm here a'cryin', I, I, I

Chorus
So open hearted, he never did me wrong
I was the one, the weakest one of all
And now I'm oh oh so sad
And I don't think he's comin' back, comin' back
I did too much lyin', wasted too much time,
Now I'm here a'cryin', I, I, I

Chorus x 2
I'm gonna find him, my baby
I did too much lyin', wasted too much time,
Now I'm here a'cryin', I, I, I

Chorus
I've been around the world, lookin' from my baby
Been around the world, and I'm gonna
I'm gonna find him

Chorus

Um grande patriota

Não me lembro quem foi, desconfio até que já escrevi a respeito, mas no Brasil (eu não gosto do cliché "nestepaiz") existem grandes patriotas. Havia um político, sem qualquer ideologia, que nunca apresentava críticas ao governo e isso lhe foi cobrado certa vez.
Respondeu: - "Sou um patriota. Não posso ficar contra o governo do meu país". Poucos são os que podem cantar como Cazuza: Meus inimigos estão no poder/Ideologia, eu quero uma pra viver.
Agora se vive sem ideologia e sempre se tem amigos no poder. Num dia serve-se ao Collor de Mello, noutro ao Fernando Henrique, noutro ainda, ao Lula. Como se pode ser tão patriota ao ponto de não se ter uma identidade? Serão as facilidades do poder?
Renan Calheiros discursou hoje no Senado para explicar seu patriotismo. Falou para muitos senadores tão patriotas quanto ele, que por isso mesmo não lhe cobrariam nada e para outros nem tão "patriotas" assim. Lula disse que ele está muito tranquilo. Também acho. Já deve estar comemorando por conta de sua inocência e talvez até tenha encomendado seu prato favorito numa pizzaria próxima.
Ele deveria processar a revista ou jornais que fizeram denúncias invadindo sua privacidade.

Mudando de assunto. Um ministro do governo japonês acabou de morrer, após enforcar-se em seu apartamento, no centro de Tóquio, segundo a polícia. Toshikatsu Matsuoka, o ministro da agricultura foi encontrado inconsciente em sua casa e foi levado ao hospital, onde morreu. Sua morte aconteceu horas antes de ele ser questionado devido a um escândalo sobre malversação de dinheiro público.
Os corruptos deles têm mais vergonha na cara que os nossos. Aqui é tudo sem-vergonha e cara de pau.

Não existe almoço grátis

Este artigo é mais Represália que Seu Lalo, mas como neste caso não existe meio termo vamos dar crédito a mais uma recordação dos velhos tempos.
Numa ocasião que a cronologia não me permite precisar cuidei em dar minha colaboração a uma fatia da sociedade e me tornei membro do Conselho Deliberativo de um clube da minha cidade. Mas estava havendo um problema: os conselheiros não estavam cônscios de suas responsabilidades e não compareciam às reuniões. Um dos conselheiros, grande educador no município, detectou o problema e resolveu convidar os demais colegas para um almoço onde seriam comentados os gargalos da administração. Eu teria 26, 28, 30 anos? Não me lembro, mas eu já sabia que não existe almoço grátis, como hoje tanto se repete mas que algumas personalidades teimam em ignorar. Um dos conselheiros inocentemente até comentou: eles não vêm nem para um almoço! Eu acho que ele não pagou aquele comercial no sentido objetivo da palavra porque, na realidade, o que foi servido à mesa deve ter sido de muito boa qualidade, não tenho como me lembrar.
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, deve acreditar em almoço grátis. Foi passear numa super lancha junto com o governador Jaques Wagner e disse ignorar quem fosse o dono da bela embarcação. O dono era simplesmente o ilustre preso da Polícia Federal, o empresário Zuleido Soares Veras, sócio-majoritário da Gautama (empresa acusada pela Polícia Federal de liderar esquema de suborno e desvio de verbas públicas em obras).
Convém sempre saber a quem pertence aquele patinete que você tomou emprestado para passear na ciclovia de sua preferência numa ensolarada manhã de domingo.

Modo leve de comentar assuntos pesados

Já se disse que uma imagem tem mais valor que mil palavras. Vejam abaixo se não é verdade!

Tribuna da Imprensa



Blog do Josias

Não precisa explicar, eu só queria entender


Vocês ainda lembram? Planeta dos Macacos era o filme. Planeta dos Homens era o programa do Jô Soares, onde ele dizia: Não precisa explicar, eu só queria entender. Pois bem, o Brasil é o Planeta dos Homens só que por mais que expliquem a gente nunca entende.
O governo do Lula gosta de comemorar as ações da Polícia Federal. Segundo os petistas, pseudo-petistas e lulistas nunca se prendeu tanto "nestepaiz".
Eu acho que a atuação da polícia, dos correios, dos lixeiros não depende do governo. Trabalhar corretamente é a função deles. E a polícia comete excessos, joga para a platéia, a gente vê no noticiário. Contra os outros, tudo bem; contra os nossos já é motivo de preocupação. É o que parece dizer o presidente Lula.
Lula pede para Tarso investigar excessos praticados pela Polícia Federal, diz a manchete da Folha. Assinante lê aqui.
Na presença do conselho político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou hoje do ministro da Justiça, Tarso Genro, que sejam investigados os supostos excessos praticados pela Polícia Federal durante as operações. "O presidente pediu que os excessos sejam apurados", afirmou o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais). "Não foi uma ordem, foi uma manifestação de preocupação", acrescentou.
E bota preocupação nisso.
Ontem à noite, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes acusou a PF de utilizar métodos "fascistas" na Operação Navalha - que desarticulou uma suposta quadrilha que fraudava licitações para realização de obras públicas.
O ministro disse ser uma "canalhice" o vazamento de informações pela PF sobre inquérito que tramita em segredo de Justiça. Mendes responsabilizou Tarso pelo vazamento de informações da Operação Navalha. E de acordo com seu raciocínio concedeu na noite desta quinta-feira habeas corpus para dois sobrinhos do governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT): Francisco de Paula Lima Júnior e Alexandre Maia Lago. Os dois haviam sido presos durante a Operação Navalha.

Não tem muito a ver mas me lembrei de um ditado: Em casa que falta pão todos brigam e ninguém tem razão. Essa casa tem muito pão; por que eles não se entendem?

Quanto pior, melhor

Lula teve péssimos ministros no primeiro mandato, péssimos auxiliares, aloprados, no dizer dele mesmo, e péssimos companheiros. Mas no segundo mandato - falou durante a campanha - saberia escolher melhor sua assessoria. Mas não é o que está acontecendo. Senão, vejamos:
Alfredo Nascimento, ex-titular dos Transportes, foi acusado de comprar votos, usar CNPJ falso e comandar obras superfaturadas. Mesmo assim, voltou ao governo. E o que pesa contra ele não é pouca coisa. Leia aqui. Lula achou que tudo isso não era nada. O ministro em questão é pessoa ilibada.
Há o estranho caso da nomeação do Mangabeira Unger, que tão mal falou dele. Mudou o Lula ou o companheiro Manga? Acho que nenhum dos dois. Deve ser o critério do quanto pior, melhor. Tanto que no caso do rabino Henry Sobel, que foi preso nos Estados Unidos acusado de furtar gravatas, surgiu logo a piada de que ele estaria sendo convidado para assinar uma ficha de inscrição no PT. Está muito em baixa a reputação dos companheiros.
E agora o Silas Rondeau enrolado na operação navalha. O governo festeja o resultado, resultado não, o andamento da operação. Por outro lado Lula não está muito satisfeito com o rumo dos acontecimentos. É que a navalha pode cortar o pescoço de muitos dos seus aliados. Quanto a CPIs, esqueçam. O que se pode esperar da CPI do galinheiro feito pela própria raposa?

Não sou do ramo

A repetição é um estilo que não me agrada muito.
E há um certo comentarista de futebol que, terminada a partida, quando chega na atribuição craque do jôgo, sempre repete sua metodologia: nunca elege para craque do jôgo um jogador do time perdedor, sempre do vencedor, quando não há empate, lógico. Não falha, sempre se repete a justificativa do seu procedimento.
Então não é justo que eu faça o que critico nos outros. Mas eu tenho uma desculpa: não sou do ramo. E é isso exatamente o que costumo repetir: não sou do ramo. Atualmente meu negócio é queijos, vinhos e doces. Atualmente estou comprando uns vinhos da Vinícola Casa Perini, novidades - carmenére, ancellota, marselan e barbera. Se eu não vender faço como na piada do prostíbulo falido, bebo o estoque.
Ainda sobre o comentarista, que é cognominado como o comentarista da palavra fácil, sua palavra é mesmo muito fácil. Certa vez discorreu sobre uma longa viagem do Vasco da Gama, muito longa mesmo; os jogadores tiveram que fazer dois vôos aéreos. Acontece até aos que falam difícil. Errar é humano. E eu não tenho remorso de escrever isso aqui porque quase ninguém vai tomar conhecimento do meu texto. É como um amigo(?) que certa vez encontrei na rua e que me contou um seu grande drama. Ao se despedir, revoltado, me falou que seus verdadeiros amigos cabiam na palma de sua mão, isto é, no máximo cinco. Assim são os leitores desse blog. É como diz um famoso blogueiro, com uma audiência superlativa - afinal ele é do ramo - que há certos blogs que estão mais para prazer solitário. Nunca tive grandes audiências, nem como violonista, nem como cantor, nem como desenhista. Mas na minha solidão tudo isso me dá um grande prazer, inclusive escrever este blog. Alguma vez vou me detestar repetindo que não sou do ramo, mas continuo a escrever sobre política. Vocês sabem, cada um tem a sua razão e a sua verdade, e nem todos gostam do amarelo.

I remember you

Há o cantor da piada que, após a interpretação, segundo ele, o público ainda estava vaiando o artista que se apresentara anteriormente. Comigo aconteceu um pouco diferente. O melhor cantor da Escola Villa-Lobos, um tenor de voz muito bonita, interpretou a ária "Amor ti vieta" da ópera Fedora, de Umberto Giordano. Foi numa apresentação dos alunos da Escola. E, saindo da programação normal, fui chamado ao palco; já não gostei. Cantei uma peça clássica brasileira, tipo modinha, "Ninguém faz falta a ninguém", e não me lembro do autor. Quando acabei senti que a platéia aplaudiu mais por educação. Já imaginaram um jôgo Olaria X Madureira no Maracanã depois de um Fla x Flu? Não ficaria ninguém.
Há algum tempo pensei fazer um podcast para falar direto aos meus amigos. Se bem que eu não seja um locutor, qualquer coisa que eu falar transmitirá mais mensagem do que a fria letra exposta na tela do computador. Complementando o artigo anterior sobre uma carreira interrompida, onde eu dizia que matara a cobra, hoje venho mostrar... uma interpretação, a capela. O título é I remember you, que conheci ouvindo Tony Bennett, sucessor de Frank Sinatra.


Eis a letra:
I remember you,
you're the one who made my dreams come true,
a few kisses ago.
I remember you,

you're the one who said I love you too,
I do, didn't you know?
I remember too a distant bell,

and stars that fell like rain out of the blue.
When my life is through,

and the angels ask me to recall the thrill of them all,
Then I shall tell them, I remember you.

A gravação não está boa. Sou amador.
E sejam comedidos. Ovos e tomates estão custando muito caro!

De como o Brasil perdeu um admirável cantor lírico

Aos dois anos de idade eu já cantava uma canção com os versos: Seu Lalo, Seu Lalo, Seu Lalo, Lalo; Seu Lalo, Seu Lalo... Só isso. Nessa idade não se tem mesmo muita inspiração. Essa passagem me foi contada pelo meu tio mais novo, já falecido. Daí surgiu o blog Seu Lalo.

Aos 13-14 anos comecei a ouvir música americana, a velha influência da cultura americana. Eu tinha um colega que gostava do Mário Lanza e ele me indicou um programa na Rádio Eldorado que era bem na hora do almoço. Era chegar do colégio, trocar de roupa e pegar o rango ouvindo a Rádio Eldorado - Mário Lanza, Manolo Álvarez Mera, Gino Bechi, Tito Schipa, Doris Day, Rosemary Clooney e até o Frankie Laine. Tinha também o Perry “Temptation” Como. Sua interpretação de Temptation era inigualável.

Aos 18 anos fui servir como soldado na Aeronáutica, ali na Companhia de Polícia, ao lado do Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro. O tio de que falei acima morava na Glória, ali pertinho. Eu ficava lá durante toda a semana e ia a pé para o quartel, admirando os jardins da Glória. O dial do rádio do meu tio ficava congelado na Rádio Ministério da Educação. Era música clássica o dia todo. Conheci o tenor Beniamino Gigli e o grande Caruso.
Após dois meses larguei o quartel e fui para a gloriosa Barbacena, estudar na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, Minas Gerais. Musicalmente, pouco tenho a contar de lá, além do fato de ter cantado no coral da Capela.

No ano seguinte estava na Escola de Aeronautica, em Marechal Hermes, Rio de Janeiro. Numa sessão de Educação Física, onde todos os alunos (cadetes) se misturavam, novos e antigos, perfilados, entoou-se o Hino Nacional. Um oficial passou do meu lado e, ao ouvir minha voz, sem maldade me entregou: temos aqui um tenor. Um grupo de cinco ou seis amigos, dos quais só lembro o nome de um, que me disse ter um parente na TV e que iria me apresentar ao pessoal da televisão, essa turma se reunia após o jantar e eu era o encarregado de apresentar alguns hits americanos. O Migueis nunca mais falou da televisão, eu, muito menos.

A Aeronáutica passou na minha vida, profissionalmente, porque no sentimento meus amigos continuam a me relembrar aquele tempo e eu estou até emocionado por falar nisso agora; mas como dizem os comentaristas de futebol, vida que segue, e eu fui tratar da minha sem esquecer da música.

Cantei no coral da igreja próximo a minha casa e uma das cantoras me indicou um excelente professor, que mantinha uma coluna de música no jornal O Globo e era maestro do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Fui procurá-lo no Largo do Machado. Não tenho como me lembrar mas pelo que pude pesquisar acho que seu nome era Salvatore Ruberti. Ele sentou-se ao piano e falou: vamos ver se temos aí um Titta Ruffo (barítono) ou um Caruso (tenor). Mandou-me vocalisar em O, U e I. Foi quando chegou uma graciosa aluna. O velho ficou bobo. Beijos, abraços e atenções totais. Perguntou-me: - O que faz? Disse-lhe: - Estudo. Respondeu-me seco: - Sua voz tem qualidades. Mas vá estudar.
E voltou a babar para o lado da menina. Ele era um profeta. Quem diria que um presidente da ditadura falaria alguns anos depois – Estudante é para estudar! Não sei se foi o Médici ou o Figueiredo; ou nenhum dos dois? Quem se lembrar me ajude.

A verdade é que a mulher é um dos encantos da vida, dos homens, é claro, e até também de algumas sapatonas. Mas disse o Clodovil que elas estão muito ordinárias. Ele tem razão até certo ponto. E cada saci que ponha sua carapuça. Em outro artigo voltarei a este assunto.

Vinte anos depois estava educando minha voz na Escola Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Mas já não era a mesma coisa. Lembro-me agora de uma bela senhora que estava sendo descaradamente cortejada por um amigo meu. Ela, educadamente, lhe respondeu: - Senhor Paulo, meu tempo já passou!

E foi assim que o Brasil perdeu um grande barítono lírico. Mas terá ganhado um grande contador de lorotas!

Feito nas coxas (???)

A igreja mais popular da cidade, São Francisco de Assis


Por certo você já ouviu a expressão feito nas coxas como sinônimo de algo mal feito, feito às pressas, afora a conotação sexual. Vamos conhecer a origem do têrmo e onde teria se originado?

Numa excursão feita a São João del Rey, na primeira parada, já dentro da cidade, subiu ao ônibus um descontraído rapaz que se apresentou como guia oferecendo seus serviços, o que foi prontamente aceito pelos ocupantes do veículo.

Começamos pela Igreja de São Francisco de Assis. O guia falou de cada imagem, de cada pintura, de cada detalhe da igreja numa exposição muito demorada demonstrando todo seu conhecimento da cultura mineira, particularmente de São João del Rey. Fomos aos fundos da igreja, um cemitério onde está enterrado Tancredo Neves. Segundo o guia, neste cemitério são enterradas as pessoas de posses; Os pobres vão para o cemitério lá do morro.

Seguiu-se um passeio pela parte antiga da cidade, onde as telhas eram todas em forma de calha, feitas de barro. Apreciamos cada detalhe arquitetônico, conforme nos era explicado pelo guia. Veio então a parte do jabá, a comissão extra do guia, creio. Uma visita a um dos artesanatos de estanho. Os “turistas” não resistiram à beleza das obras e compraram muitas peças – pratos, xícaras, bules, bandejas, todas de estanho, com aquela elegante aparência de prata.

À saída da cidade o guia se despediu, muito simpático, bem remunerado, pois havia agradado em cheio a todos nós, inclusive esclarecendo sobre a fabricação das telhas em forma de calha. Elas tinham sido feitas de barro e a fôrma tinha sido simplesmente a coxa dos escravos. Como cada um tinha a coxa maior ou menor as telhas não davam um bom encaixe. A explicação para esse defeito é que as telhas tinham sido feitas nas coxas. As moças do ônibus riram muito dessa explicação, porque até ali, para elas, feito nas coxas, era outra técnica.

Não estude com quem sabe menos que você

Na Escola Nacional de Engenharia, no Rio de Janeiro, haviam os catedráticos. Eles davam aula sim. Quem não gostaria de ter aula com um catedrático? Mas haviam também os monitores; eles eram alunos de turmas mais adiantadas e deviam ser uma mão de obra mais barata, com certeza, para citar o dito da moda.

Eu tinha um amigo, aluno da ENE, que dizia: - Não assisto aula de monitor; não assisto aula de quem sabe menos que eu.

Muito certo. Como aprender com quem sabe menos que você? Mesmo que seja de uma turma mais adiantada não quer isto dizer que o cidadão saiba mais que você. No entanto, tenho amigos muito inteligentes e muito capacitados que insistem em assistir aula de monitor. Assistem às aulas de Luiz Inácio Lula da Silva.

E la nave va. José Genoino disse que estava fazendo auto-crítica. Muito meigo. Quero saber do resultado de sua auto-crítica. Por certo ela não sairá porque o que ele diz é apenas uma frase de efeito como soem fazer os petistas. E meus amigos - farão também uma auto-crítica da opção que abraçaram? Estarão acompanhando quotidianamente o desenrolar dos acontecimentos? Saberão das opções de compra e venda no Congresso Nacional? A consciência do PDT foi comprada barato. As consciências estão valendo muito pouco. Espero que a consciência dos meus amigos sejam conveniente avalizadas. Eu gosto muito deles.

Velhas palavras novas

Tenho um amigo muito aborrecido. Ele é muito antigo, do tempo romântico, quando se usavam as imagens literárias de Machado de Assis, de Joaquim Manoel de Macedo e de José de Alencar. As palavras novas, o modo novo de falar coisas antigas, isso não é com ele.
Certa vez sofreu muito quando trabalhava na Refinaria Duque de Caxias, da Petrobrás. Foi na montagem de uma nova unidade de refino.
Uma torre que processa determinado produto tem uma grande quantidade de bandejas. Cada bandeja, dependendo da torre, possui 2 metros de diâmetro ou mais e vários orifícios com 10 a 15 cms de espaçamento. Nesses orifícios são colocadas peças metálicas chamadas borbulhadores, que lembram um cogumelo, só que, ao invés de um pedúnculo, possuem três hastes. O trabalho era o seguinte: ficava o operador de processo sobre a bandeja segurando cada borbulhador e um operário (peão, na linguagem usual) , embaixo, com um alicate, dobrava cada uma das hastes do borbulhador e dava ao final sua “senha” de aprovação: “jóia”!
Jóia era a gíria da moda na época. E o pior – toda a torre tinha sido lavada e a água escorria ainda, bandeja a bandeja, pelos orifícios dos borbulhadores e alvejavam a nuca e costas do nosso amigo, tal qual a tortura imposta à Cuca, aquele monstro assemelhado a um rinoceronte(?), da literatura de Monteiro Lobato. Pedrinho amarrara a Cuca e lhe pingava água na nuca, lentamente, para lhe minar a resistência. Não lembro por qual motivo. A Cuca não resistiu. Meu amigo estava até resistindo aos pingos d’água, o que o incomodava era a cantilena “jóia”, “jóia”, após a colocação de cada borbulhador. Distância entre bandejas – o suficiente para andar de quatro, não mais que isso. Seis horas era a duração do turno de trabalho na época. Deu para fazer duas bandejas e um sem fim de borbulhadores “jóias”. Nenhuma Cuca merece.

Ainda o discurso de Cristovam Buarque

Cristovam Buarque está me devendo. Ou não estará? Não sei, depende dele.
Na última eleição fiz o que pude para que meus conhecidos votassem nos meus candidatos. Uma senhora, em Paraíba do Sul - RJ, me falou: - Não vou votar no Cristovam. Ele é tão banana...
Tradução: Ele é muito calmo, não agride seus adversários, não expõe as mazelas de ninguém; só está preocupado com a revolução pela educação, num ritmo seu, devagar, quase parando.
Mas banana ele não é, pelo menos segura a emoção
Um oficial em Barbacena, ao final do curso, ao se despedir dos alunos terminou sua fala aos prantos. Houve quem dissesse que era fingimento. Eu sabia que não era. Quarenta anos depois, numa festa daqueles mesmos alunos, voltou a discursar e voltou a chorar, admitindo sua instabilidade emocional nessas ocasiões e queixando-se disso.
O conteúdo do discurso do Cristovam Buarque no post anterior está carregado de emoção. Há uma hipótese para tanta frieza: ter feito a leitura do discurso mecânicamente bebendo, nos intervalos, um suco de limão sem açúcar.
Eu sim, sou banana. Terminei a leitura desse discurso aos prantos e tive que lavar o rosto. Ali se dizia que "muitas crianças brasileiras, eu espero, consigam um dia, quando crescerem, ser Darcy Ribeiro". Mas eu pensei em quantas crianças esperam, ao crescer, serem um Jáder Barbalho, um Romero Jucá, um Ney Suassuna, um Paulo Maluf, um juiz Nicolau, uma Georgina que deu trambique no INSS, e por isso me veio a desesperança. E há crianças que têm guias bem menos edificantes (?), dos quais nem é conveniente falar.
E por que o Cristovam estaria me devendo, ou não? Porque ele está no PDT, que tirou sua pele de cordeiro e assumiu ser um lobo voraz; que deu um basta ao fingimento e mostrou sua fome por cargos; que ao nomeado incompetente de ontem deu status de grande companheiro.
Parece que Cristovam tem uma certa independência e vota alguns pontos polêmicos com sua convicção e não com o governo. Se bem que ele saiba que faz parte do governo.
All's well, that ends well, era a peça de Shakespeare indefinida entre a comédia e a tragédia. Mas aqui, do jeito que as coisas vão, acho que nada vai acabar bem.

Homenagem a Darcy Ribeiro

O discurso de Cristovam Buarque feito da tribuna do Senado e que resumi abaixo é um pouco longo para este blog. Recomendo sua leitura integral no blog do Cristovam. E segurem a emoção. Eu não consegui.

Homenagem a Darcy Ribeiro - discurso feito no dia 21/03/2007

Bom dia a cada uma das senhoras e a cada um dos senhores.
Cumprimento, pela praxe, o Presidente Renan Calheiros. Mas, antes mesmo de, pela praxe, saudar cada um dos membros da Mesa, não por falta de respeito, mas por uma questão de reconhecimento, quero citar uma pessoa que não está aqui porque nos deixou há três semanas: Tatiana Memória. Tatiana Memória acompanhou Darcy, e, depois que ele se foi, construiu a Fundação Darcy Ribeiro. Tatiana gostaria muito de estar aqui conosco. Mais do que qualquer um de nós, mereceria estar aqui conosco. E cito seu nome para que ela esteja presente. Creio que podemos dedicar a Tatiana Memória esta homenagem ao Darcy Ribeiro, porque ele ficaria muito feliz.
Cumprimento cada um dos Srs. Ministros, que honram a todos nós com sua presença, o Ministro Carlos Ribeiro, o Ministro Carlos Ayres Brito, o Ministro Gilmar Mendes, meu amigo Pertence, e, obviamente, ao meu chefe e patrão, Reitor da Universidade de Brasília, meus cumprimentos ao professor Timothy.
Há duas maneiras de fazer política: uma é pelo poder; a outra é pela história. Darcy fez política pela história. O poder era o meio, o meio que ele usava para deixar suas marcas na História deste País e do resto do mundo. Por isso, a homenagem a um homem como Darcy Ribeiro deve ser feita falando do seu legado para a História, porque ele deixou, sim, um legado para a História. E um legado amplo, que, como se pode ver, não está limitado apenas a uma ou a outra ação, a um ou a outro campo.
...............
Quero encerrar, fazendo uma pequena lembrança específica da partida dele. Talvez mais do que ninguém, Vera Brant, presente, tenha acompanhado tudo isso. Darcy Ribeiro, além de todas as outras vantagens, teve o mérito de ter lutado ferrenhamente para continuar vivo, chegando até a propor a sua querida amiga Vera Brant trocar com ele de lugar e ficar no hospital com câncer, para que ele pudesse viver, criando, produzindo.
Darcy Ribeiro lutou até o fim. Essa luta tem um dado que talvez poucos conheçam. Creio que tenha sido numa sexta-feira, eu telefonei ao Hospital Sarah Kubitschek, onde ele estava, e marcamos para conversar na segunda-feira, na casa dele, de tão otimista que ele estava. Naquele dia – quero encerrar, mencionando o lado do seu legado de que ainda não falei –, que creio foi uma sexta-feira, Darcy Ribeiro disse a uma grande profissional do Hospital Sarah Kubitschek, a Drª Lúcia, Lucinha, como ele a chamava: “Eu preciso desesperadamente dar uma aula, mas eu quero dar aula a uma criança, me arranja uma criança”. E a Lucinha, que não pôde vir hoje aqui, levou o filho Felipe, que tinha 10 anos, e Darcy Ribeiro deu uma aula de Antropologia para o menino. E, nessa aula – ela lembra e o menino nunca vai esquecer –, entre as coisas para mostrar o que é uma sociedade, ele mostrou porque é preciso fazer uma universidade e um sambódromo, porque um é a cultura da elite e o outro é a cultura do povo. E esse casamento, ele dizia a um menino de 10 anos, é aquilo que é preciso fazer no Brasil.
Ele terminou a aula, tomou banho, barbeou-se, como me disseram, colocou perfume – porque era vaidoso, como Vera deve saber –, deitou-se, entrou em coma e morreu poucas horas depois. O homem que fez tanta coisa morreu como professor, por opção dele. Morreu como professor de crianças, por opção dele. E o que parece um rebaixamento – professor de criança –, na verdade, é a elevação máxima que ele percebeu, certamente inconsciente, a elevação máxima de quem está na véspera de entrar para a História, porque ele foi um político da História, não do poder. Por isso estamos nos lembrando dele agora, porque a História é que mantém viva a memória de cada um de nós que faz política. O poder passa, o legado fica. Darcy deixou um legado. Por isso, nós o estamos, hoje, homenageando aqui. Daqui a dez anos, vamos estar comemorando os vinte anos; daqui a cem, certamente, poucos de nós aqui – se é que algum vai estar aqui, Presidente Renan –, prestando homenagem a este que, como V. Exª disse, ainda em vida foi um mito e, depois da morte, é um mito cada vez maior e mais oportuno.
Era isso o que tinha a dizer, Sr. Presidente, não como Senador, mas como discípulo, que aprendeu com ele que o Brasil pode ser visto de maneira diferente da que os estrangeiros nos ensinam, que o futuro do Brasil pode ser tentado, Presidente Collor, de maneira diferente do que é a tendência, Senador Dornelles. Ele ensinou. E a minha fala é para o meu professor.
Disse uma vez, quando colocamos o nome dele no campus da UnB, que, quando eu crescesse, queria ser Darcy Ribeiro. De lá para cá, eu cresci, e descobri que não vai dar tempo, mas que muitas crianças brasileiras, eu espero, consigam um dia, quando crescerem, ser Darcy Ribeiro.