William Shakespeare: Romeu e Julieta
Cena do Balcão (Ato 2, Cena 2)
JULIETA:
Oh Romeu, Romeu! Por que és Romeu?
Renega teu pai e recusa teu nome;
Ou, se não quiseres, jura-me somente que me amas,
E não mais serei uma Capuleto.
ROMEU [à parte]:
Continuarei a ouvi-la ou devo falar-lhe agora?
JULIETA:
Somente teu nome é meu inimigo.
Tu és tu mesmo, sejas ou não um Montecchio.
Que é um Montecchio? Não é mão, nem pé,
Nem braço, nem rosto. Oh! Sê qualquer outro nome
Pertencente a um homem.
Que há em um nome? O que chamamos rosa,
Com qualquer outro nome exalaria o mesmo perfume.
Assim, Romeu, se Romeu não se chamasse,
Conservaria essa cara perfeição que possui
Sem o rótulo. Romeu, despoja-te de teu nome;
E pelo teu nome, que não faz parte de ti, toma-me toda inteira!
ROMEU:
Tomo-te a palavra.
Chama-me somente Amor
E serei de novo batizado.
Daqui em diante jamais serei Romeu.
Olhem, eu pensei que a Julieta fosse chamar o Romeu de PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O nome da rosa é o que menos importa, mas PAC tem uma sonoridade transcendental. Você enche os pulmões de ar - a letra p é uma consoante bilabial explosiva - e o efeito não poderia ser melhor para dar a impressão de um fato novo, de um não déjà vu, "nunca antes neste país".
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda parece só uma peça de marketing, mas a expectativa do governo é de que em 2008 a população possa ver resultados concretos da iniciativa. "O Brasil já é um canteiro de obras, vai virar um 'canteirão'", prometeu a comandante do programa, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em audiência na Câmara dos Deputados.
Essa promessa de fazer do país um imenso canteiro de obras já é coisa com prazo vencido. Mas é revisitada sempre que o Senhor Deus dos Fracos de Memória permite. Eu gostaria de saber como ficou o PAC do tapa buracos nas estradas...
As obras de saneamento e habitação, por exemplo, começarão a sair do papel em março. Elas serão financiadas em parte pelo Orçamento da União, mas também com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). São perto de R$ 36 bilhões em obras que o governo federal vai realizar com a parceria de Estados e Municípios. É nessas obras que a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta para mostrar que o PAC não é só discurso.
Em seu primeiro ano, o PAC patinou, conforme admite o próprio governo. Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo mostra que, de todo o dinheiro reservado para o PAC este ano, só R$ 3,6 bilhões haviam sido pagos até o último dia 27. Isso significa que o índice de conclusão de obras continua baixo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Como sempre, o que está em vermelho não me pertence. Aliás, um jornalista a quem consultei sobre a utilização de seus textos no meu blog, gentilmente me respondeu: "Meu caro, as palavras são como pássaros libertos da gaiola, depois que são publicadas não têm mais dono".
O Sebastião Nery pode ser um poeta, mas a minha rima e a métrica não são tão libertárias assim.
5 comments:
..."a letra p é uma consoante bilabial explosiva - e o efeito não poderia ser melhor para dar a impressão de um fato novo".
Lembrou bem!
Nome de partido, no Brasil... dá-lhe... a começar com essa letra - P...!
Num primeiro momento, o casal romântico da peça pareceu-me um pouco com o PMDB declarando seu amor incondicional pelo governo de Lula.
"PAC" virou propaganda subliminar. E funciona mais ou menos assim: confie no PAC, espere nele e ele tudo te dará.
Linguagem de prefeitura municipal no governo federal, é assim: "canteiro de obras".
Talvez por ser num ambiente de muitos entulhos de uma obra que se podem esconder as empreitadas bem engendradas, sem falar no barulho de coisas sendo feitas, ainda que não se saiba quais.
Nunca antes se viu sair alguma realização de quem dá por concluído aquilo que nem teve começo.
pelo jeito o PAC é uma entidade esotérico oportunista.
Que tal mostrar o lado B? O que fizeram os sábios produzidos pela elite e a fórmula perfeita utilizada por eles para tirar o Brasil do atraso e promover o espetáculo do crescimento. Que não seja muito cansativo. Não é necessário mostrar a competência exercida por eles nos 500 anos em que estiveram no poder.
Um amigo me contava de um seu amigo que às vezes recusava determinados serviços devolvendo-os ao chefe acompanhados de um bilhete bizarro: "SUPERIOR À MINHA CAPACIDADE!.
Bom, para analisar 500 anos de gandaia eu não tenho capacidade mesmo. Agora, para malhar o Sarney, o Collor, o Fernando Henrique e o Lula me sinto à vontade.
O PAC é uma sigla nova para coisas velhas. É o Romeu mudando de nome para ficar bem com a família da Julieta.
Raciocinemos.
Se em 2007 com CPMF e tudo o PAC "patinou", com que segurança diz-se que vai deslanchar em 2008 sem a CPMF? E não faz nem um mes, que para toda, absolutamente toda equipe do Governo Lula, incluindo o próprio, cansou de dizer que sem a CPMF o Brasil iria PARAR. Dá pra entender? Dá sim. É muita mentira esparramada em forma de discuros.
Cadinho CoCo
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