Lugar_RSI

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Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

As sandálias da humildade

Houve um tempo em que o pessoal do "Pânico" achava que determinados "famosos" (só uso essa palavra com aspas) teriam que calçar as sandálias da humildade. Perda de tempo; ganharam processos e até porrada. Tem gente que não abdica do salto alto.
A minha narrativa pode servir para quem está se "achando". Pode servir até para a ministra Dilma Rousseff, que resolveu pedir investigação sobre a nefanda utilização do Cartão Corporativo por parte dos ministros Matilde Ribeiro e Altemir Gregolin. Este último é o desconhecido ministro da Pesca. Entrou noutro dia em Rede Nacional para sair do ostracismo e... defender a pesca nacional. Mas no gasto com o cartão ele é um gigante. Ele usou o cartão corporativo para pagar uma conta de R$ 512,60 em uma churrascaria em Brasília. O ministro disse que a despesa refere-se a um almoço de negócios - ele recebeu uma comitiva pesqueira da China.
Não seria mais fácil ele fritar um peixinho ali nos fundos do Ministério, regado a uma branquinha? Só de pensar "me vien l'eau a la bouche".
Mas se a Dilma defenestrar esses dois perdulários serei o primeiro a aplaudir. Mas não saia da linha, ministra; o represália não perdoará.
Mas me desculpem, isso não é o represália, é apenas a tag seu lalo. Então vamos à narrativa do seu lalo.
Emmanuel Lasker, mestre internacional de xadrez, campeão mundial durante um longo período - tomei conhecimento de um encontro que ele teve com um anônimo em um livro chamado "The Adventure of Chess", texto em inglês, li de cabo a rabo em um curto tempo, leitura apaixonante. Um grande mestre do xadrez não precisa ser humilde, um borra-botas que pensa que joga, sim.
Lasker fazia uma viagem num transatlântico, talvez o avião estivesse ainda no idealismo de seus inventores. No convés vislumbrou um homem sentado diante de um tabuleiro de xadrez, estudando uma partida. Ele se aproximou e ficou apreciando. O homem lhe fez um convite:
- Sente-se aí, vamos jogar uma partida.
Lasker sentou-se e o homem continuou:
- Vou lhe dar uma rainha de vantagem. Se você me ganhar aí lhe dou uma tôrre; se ganhar novamente lhe dou um cavalo, depois um peão, até encontrarmos nossa força relativa, certo?
Lasker concordou, ficou com uma rainha de vantagem e perdeu a partida. O homem, imaginem a cena, ficou com aquela banca de eu-sou-o-tal, aquele sorriso com o canto da boca retorcido, piscando os olhos num tique nervoso, quando Lasker o chamou à realidade:
- Escute, eu acho que o senhor, sem essa rainha, afinal levou vantagem porque ficou com o tabuleiro mais à vontade, teve mais espaço. Façamos o seguinte, vamos jogar novamente. Dessa vez eu lhe dou a rainha.
- Não seja estúpido, o homem retrucou. Se eu lhe dei a rainha e ganhei facilmente, como é que...?
Mas Lasker foi veemente e o homem não teve como fugir. Jogaram. Lasker lhe deu a rainha e uma surra memorável. O derrotado, muito envergonhado e não tendo ainda noção do que tinha acontecido, correu à lista dos passageiros.
Quando seus dedos nervosos pararam sob o nome de EMMANUEL LASKER ele acordou para a merda que tinha feito. Uma sandalinha da humildade não faz mal a ninguém.
Andrés Segóvia, Emmanuel Lasker, Juan Capablanca, Caruso, Pavarotti, até Romário se acha o cara. Convém reverenciar a divindade.

3 comments:

1 de fevereiro de 2008 às 04:15 Mara* disse...

morreu bobby fischer, a última lenda do tabuleiro de xadrez. porém, desde 75, quando fez exigências inaceitáveis para jogar com karpov, demonstrou que a sua intimidade com a humildade era pífia. uma sandalinha da humildade 'post mortem'.

1 de fevereiro de 2008 às 09:13 Luiz Lailo disse...

Uma de suas exigências, que beirava o absurdo, era quanto à iluminação do ambiente dos jogos. Acho que, a seu ver, a torre não podia fazer sombra na rainha.
Quando eu fui disputar uma partida de xadrez num torneio interno da Petrobrás, meu adversário pediu para que trocássemos de lugar. Levou o tabuleiro para outra mesa e o colocou bem debaixo de uma luminária. Olhou para cima, checou todos os detalhes e eu pensei: "Meu Deus, será que vou enfrentar o Bobby Fisher?"
Não, não era o Bobby. Ganhei com facilidade.

1 de fevereiro de 2008 às 15:18 Rô Rezende disse...

Esse post me deixou com uma vontade de jogar xadrez! rs...mas eu nem tenho condições de subir no salto alto durante uma partida, havainas já é muito alta para mim como 'jogadora de xadrez'...rs

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