Lugar_RSI

AvatarLugar do Real, do Simbólico e do Imaginário
Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

O Presidente Negro

"Um país se faz com homens e livros"
Monteiro Lobato

Tive um amigo de espírito muito agitado. Contador, advogado, professor, fez parte do Jurídico da Petrobrás, lecionava em uma faculdade do Rio de Janeiro e era Procurador da Fazenda Nacional, em São Paulo. Frequentemente me mostrava os livros que comprava - coleções encadernadas dos mais conhecidos escritores. E observava: "Agora só me falta tempo para assimilar toda essa cultura".
Eu também gostava de livros, mas os meus eram modestas brochuras, nada de capa dura, exceção feita a uma coleção de Monteiro Lobato, que pouco li, ao contrário de sua literatura infantil, que devorei quase toda, isso quando eu tinha a idade apropriada, lógico.
Monteiro Lobato estava muito à frente do seu tempo. Cético, tinha como um de seus ditos preferidos o de "não acreditar em nada por achar tudo muito duvidoso". Porém, contrariando sua frase predileta, acreditou em muitas coisas durante sua vida e uma delas foi a indústria brasileira do livro, fundando, em 1918, a "Monteiro Lobato e Cia", a primeira editora brasileira. Antes de Lobato todos os livros eram impressos em Portugal; com ele inicia-se o movimento editorial brasileiro.
Com a idade de quinze anos ouvi do professor de Português, na classe, que Lobato, após o início da carreira literária viajou aos Estados Unidos. Lá recebeu a encomenda de uma obra, a qual lhe foi paga mas não publicada, o que lhe custou grandes desgostos. Imaginem, "O Presidente Negro e o Choque de Raças" - narrando a vitória de um candidato negro à Presidência do EUA - soou como deboche.
Quando regressou ao Brasil, em 1931, Lobato já tinha uma nova crença: as riquezas naturais do país e sua capacidade de produzir petróleo. E, lutando pelo petróleo, ficou pobre e desgostoso, além de ter sido preso por duas vezes. Getúlio Vargas se sentiu ofendido pela carta que recebeu de Lobato na qual denunciava o interesse estrangeiro em negar a existência do "ouro negro" no Brasil.
Muito tempo depois houve o ridículo de se contratar um especialista americano em petróleo para analisar as possibilidades da extração desse mineral em nosso país. Foi o Relatório Link, que concluiu pela não existência de petróleo no Brasil, pelo menos em quantidade que compensasse a exploração. Walter Link foi demitido, é claro. E a revista Times ironizou nossa atitude dizendo que apenas tínhamos "retirado o sofá da sala". Além de bem retirar o sofá eliminamos também o "Ricardão". Apesar de tudo o que se sabe sobre a Petrobrás, ainda há lá dentro quem diga que o Relatório Link estava certo...

Diz-se que ninguém é profeta em sua terra. Porém Monteiro Lobato, além de ter sido um grande profeta no Brasil, está prestes a sê-lo nos Estados Unidos. O Presidente Negro foi publicado em 1926 em folhetins no jornal carioca A Manhã. Este livro tinha o subtítulo “romance americano do ano 2228”. A filha do professor Benson, cuja invenção - o porviroscópio - lhe permite devassar o futuro, revela ao espantado mas entusiasta Ayrton os episódios que envolvem a eleição do 88o presidente norte-americano. Três candidatos disputam os votos: o negro Jim Roy, a feminista Evelyn Astor e o presidente Kerlog, candidato à reeleição. A cisão da sociedade branca em partido masculino e feminino possibilita a eleição do candidato negro.
Será que a profecia americana irá se cumprir? O negro Jim Roy, digo, Barack Obama, levará a melhor sobre a "feminista" Hillary Clinton?

Alguns textos foram baseados no Almanaque Autores ou no Relatório Link. Marque no seu Favoritos para ler oportunamente. Você conhecerá alguns detalhes sobre o início da Petrobrás e sobre o ideal de um brasileiro que desejava servir ao seu país, não servir-se dele.

6 comments:

8 de janeiro de 2008 às 19:41 Mara* disse...

Barack Hussein Obama Jr. negro e com esse nome? que lembra sadam hussein, e osama bin laden? é no mínimo irônico.

8 de janeiro de 2008 às 20:02 Anônimo disse...

Independentemente de estar - ou não - o porviroscópio do grande escritor funcionando com precisão... ou até de ser esse o melhor dos nomes para se oferecer ao povo norte-americano (pois pode mesmo ser uma coincidência preocupante), seria maravilhoso um acontecimento dessa dimensão.
A mais influente democracia do mundo contribuindo para dar um golpe definitivo na distinção de cor entre os seres humanos, atirando na cara de todos os tipos de sombrios "nazismos" e segregacionismos a maior manifestação de unidade que os povos poderiam alcançar.
E a tão orgulhosa "América" estaria a um passo de enterrar definitivamente a sua imagem de hipocrisia que alimenta o ceticismo de outras nações em relação a ela mesma.

8 de janeiro de 2008 às 21:07 Ricardo Rayol disse...

O mago Heitor Caolho, oportunamente, previu a vitória de Hilary.

13 de julho de 2008 às 22:59 Anônimo disse...

O livro é uma birutice do Monteiro Lobato - é escancaradamente machista, racista e com um pé no fascismo, com as mulheres se submetendo aos homens brancos no final e dando um golpe no eleito presidente negro - e me fez refletir um pouco sobre a obra infantil dele. Que eu tb amo e tenho feito questão de lêr para meus filhos. Mas agora um pouco com o pé atrás.

4 de outubro de 2008 às 15:04 Anônimo disse...

O livro foi recusado por 5 editores por ser demasiado agressivo à "dignidade americana". Após isso em carta enviada ao amigo (não recordo o primeiro nome)Rangel, Lobato desabafa dizendo que "chegou muito verde no E.U.A., deveria ter chegado na época em que espancavam os negros". O escritor brasileiro revela-se alinhado aos modismo mundiais da epoca, baseando em teses e segregacionistas, influenciado por Conde de Gobineau, que nao obstante influenciram regimes totalitarios na Europa, mais ligados a nação alemã. A meu ver Monteiro nao estava profetizando e sim exercitando seus conhecimentos em uma obra em que erroneamente julgou que iria conquistar o publico angloamericano e "lhe renderia muito dinheiro". Junto com a onda de estudos raciais existia tambem a progressista, que influenciou na sua busca por industrialização no país.
Adorar um homem que pensa que "um brasileiro demonstra seu patriotismo casando-se com uma italiana ou alema"? A alma de Monteiro Lobato não descansa em paz, sofre muito vendo de onde quer que seja o mndo que outrora viveu. Com o agravo ainda de ter uma de suas obras reconhecida erroneamente como "destinada ao publico infantil", que aliás, de infantil não tem nada.

Abraço
bruno_1288@yahoo.com.br

4 de outubro de 2008 às 15:57 Anônimo disse...

Esquec de dizer: o final do livro retrata: o residente negro e vencido pela superioridde intelectual do branco

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