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Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

A sexta-feira não te pertence

Tenho um amigo que é violinista. Quando Jean-Luc Ponty, do qual sou fã de carteirinha, se apresentou no Brasil, inclusive na televisão, esse amigo fez uma observação crítica: o braço dele (o que segura o arco) é muito baixo. Ele devia levantá-lo mais um pouco.
Meu amigo: o Jean-Luc Ponty toca até de cabeça pra baixo. Não vai ser um braço mais acima, mais pro lado que vai regular seu virtuosismo.

Existe uma posição ótima para o violonista clássico. A mão deve estar inclinada de modo que os dedos estejam numa posição perpendicular às cordas. Mas se tem quem toque o violão até nas costas, temos mais é que aplaudir.

Voltando ao violinista: ele é evangélico. Quando sua esposa esteve gravemente enferma visitou-o o pastor da igreja que, ao final, fez uma oração. Ao se despedir me convidou para comparecer a um culto e me disse: "O domingo não te pertence. O domingo é do Senhor".

Atualmente sei que a sexta-feira não me pertence.

Hoje é sexta-feira. Normalmente saio de casa às 4:30 hs (acordo às 3:45 hs - só às sextas-feiras). Mas esqueci de acertar o horário de verão no celular. Ele despertou e eu estava contente por ter saído cedo. Ao começar a subir a serra de Mendes o carro começou a ratear. Parei umas três vezes durante a subida para olhar o motor. Como mecânico sou zero à esquerda. Mas conclui ser problema pequeno e continuei com a subida. Olhei o relógio do carro: 5:30 hs. Estranho, não me lembrava de ter acertado o relógio do carro. Parei num posto de gasolina em Paulo de Frontin e perguntei pelo mecânico. Me disseram que havia um do outro lado da rua. Abriria às 7:00 hs. Mas vai demorar, ainda são quinze pras seis, respondi.
- Não senhor, são quinze para as sete. No mais tardar sete e dez ele abre a oficina.

Não foi de todo mal ter perdido a hora. Dormi uma hora a mais e esperei menos de vinte minutos para ser atendido pelo mecânico. O problema era uma bobagem. A capa de metal que revestia o cabo junto às velas estava roubando corrente. Ele simplesmente retirou a capa desse cabo e me aconselhou a retirar as outras capas.
Cheguei em Paraíba do Sul às nove horas, duas horas depois do que costumo. E ainda passei em Miguel Pereira para botar a conversa em dia com o meu xará dono do Laticínio Sítio Solidão (perdido por um, perdido por mil); também peguei um pouquinho de queijo.

Cheguei a casa às 14:00 hs, tomei um banho, almocei rápido e comecei a atender as pessoas. Entre um freguês e outro comecei a escrever este post que só pôde ser concluído no dia seguinte. Como reservei um espaço com data de sexta-feira, esse post, para todos os efeitos, vai ser publicado com essa data. Mas não esperem alguma coisa de mim nesse dia. Porque, realmente, a sexta-feira não me pertence.

2 comments:

21 de outubro de 2007 às 09:14 Ricardo Rayol disse...

O domingo é do senhor divino. A segunda a sexta é do senhor que me paga salário. e o sábado é da patroa que me faz ir às compras. Eu não me pertenço.. ou sou hiper-tenso.

16 de abril de 2008 às 00:19 Belcrivelli disse...

Também acho que meus dias andam não me pertencendo, pois a semana de trabalho demora a acabar e eu, exausta, mal vejo o fim de semana passar e já é 2ª feira novamente!

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