Lugar_RSI

AvatarLugar do Real, do Simbólico e do Imaginário
Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

A roça bucólica

Já tirei as fotos que queria para publicar no blog, já visitei meu amigo Luiz e conversamos bastante sobre a atual crise leiteira. Ele tem como se safar pois é um empresário bem sucedido, eu estou à deriva tendo que me explicar com meus fregueses pela escassez de queijos.
Segui viagem para Governador Portela, Morro Azul, Sacra Família e Paulo de Frontin. A meio caminho entre essas duas localidades há um quebra-molas e perto, sentado no meio-fio, estava, supus, um morador da localidade como que a pedir carona, só com o olhar; não fez nenhum gesto, sequer se levantou. Parei antes de transpor o quebra-molas e olhei para ele. Ele veio e seguimos.
Nas caronas que dou sempre recebo algum benefício. Já dizem nossos excelentíssimos deputados e senadores: "é dando que se recebe". Com frequência, recebo uma boa informação.
Já faz um tempo, quando eu subia a serra de Miguel Pereira, dava carona a um rapaz em Conrado. Ele me contou sobre o Manuel Cara Santa e me mostrou sua casa. Ele fazia docinhos de leite no tacho de cobre. Com esses doces eu pagava a gasolina da minha viagem; o resto era lucro. Seu Manuel era sobrinho do famoso Cara Santa, de Morro Azul, que fazia a cachaça Cara Santa. Atentem para o nome: Cara Santa, uma cachaça sem pecado nenhum. Ambos são falecidos. O filho do Seu Manuel continuou com os doces, porém não faço mais essa rota. A família do Cara Santa da cachaça não prosseguiu com a fabricação. Estive com um membro da família lá em Morro Azul, que me deu essa informação.
Outros caronas me dão informações sobre caminhos e atalhos. E até converso sobre informática com o Bombeiro Luiz e com um de seus irmãos. Ontem, quando cheguei em Vassouras, ele já estava pegando carona em outro carro. Mais à frente, quando eu ultrapassei esse carro, ele me acenou.

E o carona de Sacra Família? Ele me falou: - Sabe, moço, o senhor me deu carona mas deve ter muito cuidado. Existe muita gente ruim por aqui.

Certa vez fui num bairro distante em Paraíba do Sul chamado Fernandó (com acento no O). Procurava uma pessoa e estava fechando o carro. Me disseram: - Não precisa fechar o carro não. Aqui o único perigo que o senhor corre é jogarem um dinheiro aí dentro!
A roça bucólica já perdeu sua inocência. A televisão se encarregou disso.

2 comments:

5 de outubro de 2007 às 09:37 Anônimo disse...

Concordo plenamente. A televisão bem que poderia nos trazer o prazer da vida simples, no campo, estilo Globo Rural... hehehe imagine, Globo Rural no horário nobre... Por que será que nesse mundo, parece cada vez mais que o mal sempre vence? Será que estou tendo delírios de conspiração? Agora lembrei-me de um poemeto antigo meu, que tem alguma coisa a ver com o teu texto:
"Chamo a atenção para um problema grave
Estão se acabando as flores
Partem a bordo de imensas naves
Buscando planetas com mais amores"

27 de março de 2016 às 22:07 Erro de data disse...

Você não sabe como fico contente ao ver algo de meu passado. Hoje, com 58 anos lembro as diversas vezes em que subi até a modesta casa de Sr. Antônio Cara Santa, tudo rustico, mas de uma qualidade fantástica. Fui criado em Morro Azul, onde meu avo possuía uma fazenda chamada Nsª da Penha que abastecia Morro Azul com nosso Leite. Infelizmente o progresso chegou e acabou com as melhores coisas de minha vida. Hoje a fazenda chama-se São João da Barra, muito bonita mas não como antigamente...

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