Lugar_RSI

AvatarLugar do Real, do Simbólico e do Imaginário
Aqui não se fala dos conceitos de Lacan e a palavra lugar deve ser pensada em sua definição matemática

Águas passadas movem moínhos ou Revisitando velhas idéias

Há coisas que ficam para depois; você promete fazer, esquece e não cumpre. Escrevi o artigo Você fala espanhol ou seu português é ruim assim mesmo? e ficou faltando algum detalhe.
Há pessoas que apresentam um post curto e fazem o maior sucesso. Um blog deveria ter a média de vinte linhas, no máximo, para não aborrecer o leitor. Uma grande história atrelada ao poder de concisão do autor. Mas eu estou mais para Marcel Proust, aquele do Em busca do tempo perdido, romance que fê-lo passar à posteridade dando-lhe também o rótulo de prolixo. Não conhecem seu estilo? Vi numa página de humor um recente caso da política brasileira tratado no estilo de diferentes escritores. Vejam:

À moda MACHADO DE ASSIS: "Foi petista por 25 anos e 100 mil dólares na cueca."
À moda DALTON TREVISAN: "PT. Cem mil. Cueca. Acabou."
À moda GRACILIANO RAMOS: "Parecia padecer de um desconforto moral. Eram os dólares a lhe pressionar os testículos".
À moda RIMBAUD: "Prendi os dólares na cueca, e vinte e cinco anos de rutilantes empulhações cegaram-me os olhos, mas não o raio-x".
À moda ÁLVARO DE CAMPOS: "Os dólares estão em mim. Já não me sou mesmo sendo o que estava destinado a ser. Nunca fui senão isto: um estelionato moral. Na cueca das idéias vãs".
À moda DRUMMOND: "Tinha um raio-x no meio do caminho. E agora José?"
À moda PROUST: "Acabrunhado com todas aquelas denúncias e a perspectiva de mais um dia tão sombrio como os últimos, juntei os dólares e elevei-os à cueca. Mas no mesmo instante em que aquelas cédulas tocaram a minha pele, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa. Esse prazer logo me tornara indiferente às vicissitudes da vida, inofensivos seus desastres, ilusória sua brevidade, tal como o fazem a ideologia e o poder, enchendo-me de uma preciosa essência."

Viram como é o estilo Proust? Descreve a paisagem, as pessoas, os fatos, as sensações, nos mínimos detalhes. E ainda deixa dúvidas ao leitor.

Eu dissera que minha avó falava "entonce", que era o "entonces" espanhol; mas eu não achava o correspondente para o "desna" dela. Achei "désna" no blog Parente da Refóias. O dono desse blog me visitou, agradeceu a referência que fiz a ele mas discordou de mim dizendo que désna não era espanhol, nem precisão. Mas eu não falei isso, tanto que fiz a comparação com a Região de Monchique. Coloquei a palavra precisão na fala de minha avó porque era de seu uso corrente. Nem reparei que também se usa no Monchique. Então (atão, dessa manêra) descobri palavras assemelhadas em Pernambuco (Bom Conselho) e em Monchique. Más a más - ainda por cima, além disso. Lá em casa era usado de mais a mais, como conclusão de uma questão acalorada. Mangar - zombar, usado com o mesmo sentido. E muitas outras.

Conclusão: há o espírito dos idiomas pairando pelos continentes. Algum vestígio restou entre os povos após a derrocada da Torre de Babel e a dispersão desses povos pela face da Terra. Ou quem sabe algumas famílias de Monchique foram para Pernambuco?

Há diversas palavras em russo que não necessitam de tradução para o português. Escrevem-se rigorosamente da mesma forma. Em russo no alfabeto cirílico, é claro.
Outra peculiaridade: Ivan Ivanovitch é Ivan filho de Ivan; Piotr Fiodorovitch é Pedro filho de Fiódor. Em Pernambuco se diz Zé de Amâncio para se referir ao José filho de Amâncio.

3 comments:

30 de outubro de 2007 às 21:31 Ricardo Rayol disse...

Um post para se matutar e concordo com você no que tange a lingua pátria dos que criaram o PT, vodka não precisa de nenhuma tradução ehehehe

5 de novembro de 2007 às 11:25 MaD disse...

Caro Luís Lailo
Mais uma vez obrigado pela sua referência ao Parente da Refóias.
Desculpe ter interpretado duma forma um pouco superficial o seu post de 22/10/07. Mas, talvez, de facto, alguns monchiqueiros de antanho tenham emigrado para Pernambuco...
Quanto à designação de filho de, também por aqui se usa o Zé da Aurora, o Tóino da Teresa e muitos outros, sendo mais frequente a associação ao nome da mãe que ao do pai.
Também, à semelhança do russo, Álvares significa filho de Álvaro, Domingues é filho de Domingos, e por aí adiante.
Saudações portugas para terras de Vera Cruz.

5 de agosto de 2008 às 21:29 Unknown disse...

O QUE SIGNIFICA AGUAS PASSADAS NAO MOVEM MOINHO

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